O filme Sessão Especial de Justiça, cuja direção e o argumento ficaram nas mãos do cultuado Costa-Gravas, retrata toda as implicações jurídicas da ocupação nazista da França no contexto da segunda guerra mundial eminente. O foco da obra está voltado à discussão a cerca do efeito retroativo das leis e o contexto da posição da França na guerra, sobretudo das resistências do governo e ás discussões éticas imprescindíveis á boa convivência entre as nações.
Na película, as leis com efeitos retroativos são o centro da discussão. Cientes do significado da aprovação de tal medida, os magistrados franceses se encontram diante da seguinte situação: após a morte de um jovem oficial militar alemão durante a ocupação parisiense, jovens franceses idealistas são presos e torturados como uma forma de mostrar as forças do regime político totalitário, mostrando como os princípios éticos podem ficar destorcidos em momento de guerra e conflito, aos jurados que podem ou não condena-los em uma sessão especial, sobram duas opções: ou aprovavam a lei proposta pelo governo, condenando seis prisioneiros a serem executados em praça pública para servirem de “exemplo” para todos os que ousassem desafiar o regime francês ou deixa que o governo execute sumariamente cem reféns aprisionados.
Na Sessão Especial, num Tribunal da França, enxerga-se a profundidade das relações jurídicas e a axiologia sendo discutida a fundo pelos envolvidos, sobretudo por representantes de grupos políticos interessados na decisão que sairá da deliberação, afinal, havia também grupos políticos buscando defender seus interesses no momento de decisão, discutindo as implicações e estresses políticos gerados com a tomada de decisão.
Transitando nessa discussão de seus personagens entre colaborar com a retroatividade e condenar seis prisioneiros a morte ou correr o risco de demonstrar atitude fraca do governo francês frente á ameaças eminentes da guerra, Costa-Gravas explora os debates dos jurados que se vêem frente a difícil tarefa de caminhar sobre uma linha tênue de diplomacia. Com firme viés de denuncia, Costa-Gravas mais uma vez se sai bem ao criar uma atmosfera inquietante em seu longa. A dúvida entre seguir ou não princípios éticos vão falando cada vez mais alto no decorrer do filme e colocam o espectador imerso na discussão que se apresenta nas telas. Lidar com a análise do comportamento da sociedade do período é o principal desafio enfrentado durante a Sessão de Justiça.
Os pontos que o longa perde estão no seu ritmo arrastado, que poderia ser melhor aproveitado pelo diretor, tal qual fez em ‘’O Corte’’, de 2005. Resta ao espectador paciência ao enfrentar duas longas horas de filme, o que afasta um pouco o público maior, ainda que o teor das discussões seja bastante envolvente para aqueles que gostam de um Cinema politizado como é o de Costa-Gravas.
O filme destaca-se por mostrar a fundo a discussão da imparcialidade e da racionalidade e é importante por retratar um aspecto dos regimes totalitários: destruição de tudo aquilo que for empecilho para o exercício de um poder político sem limite. Gravas faz bom uso da argumentação jurídica e dos conflitos em todo o tempo e assim consegue em sua película convencer o espectador da importância de explorar e reexplorar o contexto de guerra, buscando abordar a ética e a política, pontos sempre presentes e fortes em seu Cinema.
Nota:. 5.0
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