Enquanto se assiste a este Harry Potter e o Enigma do Príncipe, sexto filme da famosa série baseada nos livros de J.K. Rowling, uma pergunta surge à mente: onde está aquele Harry tão inocente e pueril dos outros filmes? Onde está aquele garoto risonho e alegre, que nos foi apresentado no começo de tudo? A resposta surge em uma frase proferida por um importante personagem para Harry: “Ás vezes, me esqueço de como você cresceu”. Esta pequena, mas significante frase, define o que este filme representa para a série como um todo: o avanço do tempo e a chegada iminente da maturidade.
Novamente sob a tutela de David Yates (responsável pelo capítulo anterior, “A Ordem da Fênix”), e com o retorno de Steve Kloves ao roteiro (Michael Goldenberg ficou à cargo do script do anterior), a série ganha muito em termos de ousadia: Kloves alterou inúmeras passagens do livro, inseriu novos momentos e suprimiu muitas passagens que ajudariam no entendimento não apenas deste filme, mas dos próximos capítulos responsáveis pelo encerramento da saga. Logicamente, tamanha liberdade causou a revolta nos fãs mais severos, mas quando analisado mais profundamente, percebemos que tais modificações trouxeram muitos benefícios ao longa, que conta com um roteiro mais enxuto, sem soar confuso ou bagunçado em momento algum. Somado à evolução da maioria dos quesitos do longa, fica claro que Harry Potter e o Enigma do Príncipe chegou para ser muito superior aos seus antecessores, elevando o nível da série para um novo status.
No sexto ano de Harry Potter (Daniel Radcliffe) em Hogwarts, Voldemort e sua trupe são um perigo iminente. Um ataque aterrorizador a Londres comprova isso. Por isso, a Escola de Magia está reforçando a segurança e não poupa ninguém de ser revistado, nem mesmo Harry. Com a ajuda de Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson), ele precisa lidar com as responsabilidades de ser “o escolhido” e o alvo principal de Voldemort. Instruído por Alvo Dumbledore (Michael Gambon), que tenta revelar o passado de “você sabe quem..”, desde quando ainda era Tom Riddle, o jovem mago procura se aproximar do novo professor de Poções, Horácio Slughorn (Jim Broadbent), cujas memórias são preciosas. Durante a primeira aula com o professor, um livro de Poções mágicas avançadas, que tinha pertencido a um tal Príncipe Mestiço, lhe chega as mãos. Contendo várias dicas especiais, o exemplar o ajuda a se transformar no melhor aluno da disciplina e consequentemente, a enfrentar uma ameaça interna aos portões da Escola: Draco Malfoy (Tom Felton). O bruxo está a caminho de se transformar em um novo Comensal da Morte e fará de tudo para tentar trazer os outros representantes do grupo para dentro de Hogwarts, e, para isso, ele conta com a contribuição de um tradicional professor de personalidade dúbia: Severo Snape (Alan Rickman).
Assim como em “A Ordem da Fênix”, Yates faz do tratamento da atmosfera sombria do longa como sua prioridade. Auxiliado pela esplendida fotografia de Bruno Delbonnel, o uso de tons cinzentos e cores dessaturizadas trazem o clima ideal, abandonado a outrora iluminação viva de Hogwarts, para dar lugar a cenários escuros e lúgubres, dando a sensação de que, a qualquer momento, o mal pode surgir através daquelas paredes para dar sua investida. Assim, Yates mantém o clima de urgência o tempo todo, mostrando que não apenas Hogwrtas já não é um lugar seguro, mas que viver embaixo deste mundo também significa estar em perigo, que fica claro na cena de abertura, onde uma Londres cinzenta é atacada pelos servos de Lord Voldemort, provando que o mundo da magia e o mundo dos trouxas estão mais próximos do que nunca.
Para “quebrar o gelo” da situação, o roteiro foca muito nos relacionamentos amorosos dos personagens, típicos de qualquer adolescente nesta idade. Harry começa a nutrir sentimentos por Gina (Bonnie Whright), enquanto que Hermione já não faz mais questão de esconder seus sentimentos por Rony, demonstrando isso por meio de seu ciúme em relação a namorada do garoto, Lilá (Jessie Cave). Apesar destes momentos possuírem um certo excesso de atenção, servem perfeitamente como descontração para o clima pesado que toma conta dos personagens, e são apresentados de maneira sincera, nunca exagerados, sendo fiéis a confusão hormonal que toma conta dos adolescentes nesta idade.
Outro ponto interessante do roteiro é a atenção especial que dá para três personagens: Dumbledore, Malfoy e Slughorn. Dumbledore, antes visto como um mágico brilhante e isentos de erros, surge aqui como uma figura repleta de dúvidas e medos, e assim como qualquer um, possui seus arrependimentos sobre erros do passado. Já Draco Malfoy deixa de ser aquela caricatura irritante vista nos anteriores, dando espaço para um garoto que, no fundo, não possui nenhuma tendência para o mal, mas acaba sendo obrigado a lidar com um grande peso em suas costas, devido a misteriosa missão que lhe foi concedida. Fechando o trio, Horácio Slughorn é apresentado como alguém divertido e um tanto pretensioso, mas que também carrega seus traumas e arrependimentos do passado, e a cena de sua confissão para Harry está entre os melhores momentos do longa.
Infelizmente, estas opções do roteiro acabaram por acarretar alguns problemas para o mesmo. Rony e Hermione permanecem com pouca importância para a trama, assumindo somente a função cômica. Da mesma forma, é decepcionante a atenção rasa dada ao tal príncipe do titulo, e quando a revelação sobre a identidade do príncipe nos é apresentada, pouco nos importamos com ela, ficando a dúvida de por que tal subtrama está presente no longa.
Entretanto, o filme é muito mais acertos do que erros, e se podemos parabenizar o roteirista Kloves por isso, os mesmos méritos devem ir para David Yates. Depois de seu trabalho contido em “A Ordem da Fênix”, o diretor aparenta estar muito mais à vontade em sua função, conferindo um bom ritmo ao filme, inclusive indo contra a lei dos blockbusters, dando menos privilégio à ação e se preocupando com o desenvolvimento da película. Assim, a já comentada fotografia de Bruno Delbonnel e os cenários do sempre competente desenhista de produção Stuart Craig contribuem para acentuar o tom sombrio da obra. Apenas a trilha de Nicholas Hooper não agrada, já que, além de ser repetitiva, continua pouco inspirada, apesar de ter lá seus momentos.
As atuações nunca estiveram tão boas. Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson se mostram muito mais seguros e maduros em suas interpretações, ainda que Radcliffe incomode um pouco. Alan Rickman ainda surpreende com seu fascinante Severus Snape, enquanto que Helena Bonham Carter quase me fez ficar de pé e aplaudir graças à sua perfomance como a insana Bellatrix Lestrange. Michael Gambon torna Dumbledore muito mais vivaz e ativo, Tom Felton acerta na fragilidade de seu Draco Malfoy, e Jim Broadbent se diverte (e nos diverte) como o atormentado Horácio Slughorn.
Indo muito além de suas expectativas, Harry Potter e o Enigma do Príncipe está, sem dúvida, no hall dos melhores da série. Mais evoluindo em todos os sentidos, é a prova de que, quando realmente quer, Hollywood consegue fazer blockbusters de qualidade.
Nota: 8.0
Nota: 8.0
Sempre falo que é nessa parte da serie, que o prof. Dumb. Ganha personalidade mesmo.
ResponderExcluirE o Draco chorando foi uma otima cena.