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sábado, 23 de julho de 2011

Janela Indiscreta (1954)


Sabe aquele filme que te faz ficar tenso do início ao fim? E aquele tipo de filme que te consome por inteiro, te levando a lugares inesperados dentro de sua própria mente? Nunca assistiu a aquele tipo de filme que te faz ficar boquiaberto diante de tanta inteligência e magnitude? Bom, há um filme que contém todos esses elementos, tudo de uma só vez. Tratando-se de um grande filme de suspense, apenas um nome ecoa na mente de qualquer cinéfilo: Hitchcock. Sim, é ele mesmo. Usando todo seu talento em um único filme, o mestre do suspense no premiou com um dos maiores e melhores suspenses de todos os tempos: Janela Indiscreta.

É difícil dizer qual é o maior adjetivo do filme, ou qual elemento o torna tão indispensável. Mesmo assim, seria interessante e ideal analisar cada elemento individualmente. Como são muitos, é melhor se atentar aos principais. Hitchcock reuniu uma coletânea de ingredientes necessários para um bom suspense, todos refinados pela sua visão ampla de diretor. Baseando-se numa história aparentemente simples, mergulhamos numa trama totalmente inédita e horripilante. Tudo se trata a respeito do fotógrafo Jeff (James Stewart), que está preso em seu apartamento depois de quebrar a perna. De personalidade inquieta e aventureira, Jeff não consegue ficar sem fazer nada, decidindo então espiar seus vizinhos através de sua janela com o auxílio de seus equipamentos fotográficos. Com o passar do tempo, Jeff vai se acostumando com as rotinas das pessoas que observa diariamente, e isso o leva a desconfiar de um possível assassinato na vizinhança.

Jeff é um cara comum, assim como todos nós. Ele mora num apartamento e tem uma rotina agitada antes de quebrar a perna. Por isso é um personagem fácil de agradar o espectador, por conter uma rotina e estilo de vida tão comum na maioria dos lares das grandes cidades. Sendo assim, é fácil nos identificarmos com ele desde as primeiras cenas. Por causa disso, como se participássemos da história, passamos a alimentar as mesmas desconfianças dele diante de um possível caso de assassinato. Começa então um inexplicável frio na barriga, principalmente pelo filme se passar quase que exclusivamente dentro de um apartamento, nos permitindo ver apenas o ponto de vista de Jeff, e não dos personagens do exterior do ambiente. Dessa forma, não temos como desconfiar de nada além do que o próprio Jeff desconfia.


O medo do desconhecido é um elemento muito usado pelos diretores, mas poucas vezes é bem trabalhado. Neste filme o terror está do lado de fora, desconhecido e com aparente vantagem sobre nós. Não sabemos até que ponto o possível assassino desconfia de nossa existência, nem podemos imaginar do que ele é capaz de fazer caso descubra nosso olho grande a observá-lo. Ele está no comando e nós estamos à sua deriva. Jeff, através de sua imobilidade, mostra de forma magistral sua impotência diante do elemento desconhecido. Sendo assim, só resta a ele esperar estar equivocado, ou enfrentar de vez suas desconfianças e partir para algum tipo de ação.

Essa "não certeza" de Jeff acaba gerando outro elemento que capta nossa atenção com o passar do tempo: a paranóia. Até que ponto Jeff pode estar certo? Essa desconfiança não poderia ser perfeitamente fruto de tempo livre demais? Com o passar do tempo, imóvel numa cadeira, o subconsciente de Jeff poderia muito bem começar a criar situações com o objetivo de ocupar-se. Por outro lado, aquilo poderia muito bem se tratar de um verdadeiro assassinato e Jeff se sente inútil em não poder fazer algo contra. Em determinado momento do filme, os próprios espectadores se vêem em estado de paranóia. Simplesmente genial.

Hitchcock foi um sábio mestre do cinema em cada mínimo detalhe na construção dessa trama tensa, nos mantendo presos à tela do início ao fim, mesmo se tratando de um filme de poucos cenários diferentes. Não há muitos movimentos de câmera, não há "novos ares" em momento algum, deixando tudo parado a fim de mostrar o tédio que tortura o personagem. Os únicos momentos de descontração são quando Jeff recebe a visita de sua rica namorada, Lisa (Grace Kelly, esplêndida). Lisa é bela e está sempre de alto astral, dando vida ao apartamento, e permitindo novos movimentos de câmera ao ficar passando de um lado para o outro o tempo todo. É uma personagem mais leve, distraindo um pouco tanto Jeff quanto nós espectadores, sempre com seus pontos de vista positivos a respeito da saúde de Jeff. Sendo assim, Lisa é uma personagem indispensável, principalmente nos momentos finais da trama, quando adquiri outro tipo de importância para a história.


Janela Indiscreta marca uma fase mais descontraída de Hitchcock. Mais colorido e dinâmico que os costumeiros filmes do diretor, é carregado de diálogos afiados e muitas vezes engraçados. Boa parte desses diálogos ficam por parte da empregada Stella (Thelma Ritter), sempre irônica e inteligente em suas afirmações. Essa descontração do filme serve para deixá-lo mais inocente em alguns momentos, a fim de nos confundir em respeito a seu objetivo. Durante longas seqüências o filme foca mais o turbulento relacionamento de Jeff e Lisa do que o assassinato em questão. Em outros momentos somos submetidos aos engraçados diálogos entre Stella e Jeff, fazendo-nos esquecer por algum tempo a tensão inicial. Mas quando o filme volta para seu foco original, sempre o faz com força total, mostrando-se ainda mais assustador do que antes.

Outros elementos causadores de medo e tensão completam com louvor o filme, como o voyeurismo, sempre lembrado no que diz respeito a esse filme. Mas independente de tais elementos, é a direção inteligentíssima de Hitchcock que nos faz entrar de vez na história, nos conduzindo a sensações diversas e enlouquecedoramente geniais. Por isso esse pode ser considerado um dos mais incríveis trabalhos tanto do diretor como da história do cinema.

Outros detalhes da parte técnica não precisam nem de explicação. Em tudo no que se refere à parte técnica, Janela Indiscreta é excelente. O figurino de Grace Kelly também merece atenção, sempre elegante e condizente à atriz. Trilha sonora bem colocada, fotografia inteligente e roteiro impecável colocam um ponto final na grande obra prima. Indicado a quatro Oscar, acabou não levando nenhum, embora merecesse pelo menos o de Melhor Diretor.


Outros filmes tentaram usar os ingredientes de Janela Indiscreta, como “Dublê de Corpo” (Body Double, 1984), do assumidamente imitador de Hitchcock, Brian De Palma. Mais recentemente tivemos um tipo de Janela Indiscreta modernoso com o legalzinho “Paranóia” (Disturbia, 2007). Mas por mais que tentem repetir a genialidade de Janela Indiscreta, é praticamente impossível alcançar tanto primor.

Em suma, Janela Indiscreta é um filme único, sem nenhum ponto baixo e de total perfeição. Impossível achar defeito nessa grande história do mestre do suspense. Se já é necessário atenção na hora de ver qualquer filme de Hitchcock, em Janela Indiscreta é preciso atenção em dobro, pois com certeza tem muito a passar desde o início até o inesquecível clímax do fim. Mais do que necessário, é um filme obrigatório para qualquer amante do cinema. Sem dúvidas, continuará a surpreender muitas gerações com a mesma intensidade que nos surpreende hoje, servindo como prova concreta que Alfred Hitchcock foi um dos maiores mestres do suspense e do cinema.

Nota: 10.0


2 comentários:

  1. Sou super suspeita para falar desse filme, porque eu adoro! Adoro alguns filmes dessa época, ainda que sejam num ritmo muito lento. Janela discreta é o máximo mesmo!
    ótimo post.
    beijos!

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  2. Obra-prima! Um dos filmes mais tensos que eu já assisti. A obra máxima de Alfred Hitchcock! Amo, amo, amo, amo e amo! Top 10.

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