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quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Garoto (1921)


Assistir a um filme de Charlie Chaplin será sempre algo mágico, único. Não somente pela importância definitiva que sua figura possui sobre o cinema, mas principalmente pelo modo que ele constrói suas obras, pois mesmo sem utilizar grandes recursos narrativos e/ou tramas excessivamente complexas, os filmes do diretor conseguem promover uma profunda reflexão em toda a platéia, devido às mensagens que Chaplin imprime em cada um de seus trabalhos, que se revelam das mais pertinentes e honestas.

Em O Garoto (The Kid, 1921) não é diferente. Temos aqui a simplicidade doce e costumeira das realizações do cineasta, com uma história singela e personagens extremamente cativantes. É irônico notar que um artista como Charlie Chaplin precisa somente de poucos recursos para transmitir a magia e o carisma para seu público, enquanto hoje em dia, em tempos mais modernos, o que parece é que os diretores regrediram nesse quesito, uma vez que são poucos os cineastas em atividade hoje que conseguem fazer de seus filmes peças carismáticas, ou ao menos mais humanas. É nesse ponto que observa-se o quão grande é a importância de Chaplin para a arte, pois ele conseguiu fazer com que suas obras obtivessem um elemento hoje tão escanteado por parte dos realizadores do cinema: um coração.

O Garoto narra uma história simples, onde Chaplin utiliza mais uma jornada atrapalhada de seu personagem mais carismático e lendário, o Vagabundo, que dessa vez encontra-se numa difícil situação quando durante um de seus passeios matinais, ele encontra um bebê enrolado numa manta e jogado no lixo, e com ele um bilhete desesperado pedindo que alguém cuide e ame aquela pobre criança. Comovido, o Vagabundo adota o garotinho, e dá-lhe amor, proteção e carinho paterno, batizando-o de John. Cinco anos se passam e a mulher que um dia abandonara a criança por não ter condições para sustentá-la, agora se tornou famosa, rica, mas triste com o peso que carrega na consciência pelo abandono de seu próprio filho. Ela então tenta reaver a situação procurando a criança, só que o que não sabe é que seu menino está mais perto do que ela pensa.

Chaplin utiliza situações divertidas e personagens cativantes para ilustrar uma história triste, que mesmo que possua suas mensagens positivas, carrega consigo uma aura de melancolia, tanto por parte da trama da mulher rica e infeliz por ter se precipitado em entregar sua criança até o cenário de pobreza e miséria que vive os personagens de Chaplin e do menino, que fazem de trambiques e armações para ganharem o pão de cada dia. Essa era uma das muitas qualidades do cinema de Chaplin, conseguir providenciar uma mensagem consistente sem expô-la totalmente, sempre aderindo a comicidade para tornar tudo mais leve e agradável. Seja apresentando a importância das coisas simples da vida, em Luzes da Cidade (City Lights, 1931), ou mostrando a alienação que o dinheiro e a industrialização causava nas pessoas, em Tempos Modernos (Modern Times, 1936), os filmes de Chaplin sempre prezavam narrar a realidade, revestida em tramas fabulosas e agridoces.



Chaplin, diferentemente de muitos cineastas, possuía uma ótica positiva da vida, da existência, uma vez que seja neste aqui ou em outros exemplares de suas filmografia, há sempre uma pontada de esperança pairando no ar sobre quaisquer que sejam as situações, sempre há uma espécie de segunda chance as pessoas que carregam alguma mágoa ou sofrimento consigo. Tomemos como exemplo em seu sublime Luzes da Cidade, em que um riquíssimo senhor não enxerga mais razão em sua vida e opta pelo suicídio, mas é salvo pelo personagem Vagabundo, de modo que tendo seu salvador agora como amigo o milionário passa a ter motivos para preencher sua vida antes vazia; ou até mesmo, neste O Garoto, em que a mulher após ter cometido o erro de ter cedido sua criança a outro, adquire fama e fortuna, e ganha uma nova chance para se corrigir e conquistar o amor de seu filho abandonado. É uma visão que Chaplin procurava adicionar sempre a suas realizações, pois mesmo que tudo caminhe mal, a mensagem principal que ele pretende repassar com cada filme feito é “sorria”, e é esta manifestação física que todos nós apresentamos ao terminarmos de ver um filme de Chaplin.

O Garoto consegue estabelecer uma atmosfera adorável, de diversão, encantamento e cativo, tal qual o habitual das comédias de Chaplin, mas aqui, o fator principal que faz com que haja esse clima de descontração, é o carisma de seus personagens protagonistas, que além de revelarem as grandes atuações de seus interpretes, transmitem a empatia do público desde o primeiro momento que aparecem em cena. É lindo notar a perfeita interação entre Chaplin e o garotinho, criando um elo forte tanto com o público, quanto com a ligação entre os atores, que dão vida a uma dupla divertida e adorável.

O Garoto é Chaplin em sua fase inicial, apresentando desde então um carisma que se propagaria por todos os anos de sua vasta e versátil carreira; que ainda promove a diversão e o entretenimento do público, e dessa maneira, se torna um exemplo de obra que não se perdeu no calendário, e continua apresentando seu brilho e magia por entre anos, aos mais variados tipos de público. Porque este é o cinema de Chaplin, algo para todos os momentos, para todas as idades; o cinema do ontem, do hoje e do sempre.

Nota: 8.5

3 comentários:

  1. Obra-prima. Um dos filmes mais emocionantes que assisti, e o mais da carreira de Chaplin. De fazer derramar lágrimas, e Chaplin está melhor dq nunca como ator.

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  2. Filme lindíssimo mesmo, ainda que "Luzes da Cidade" seja meu Chaplin preferido.

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