O homem, o sentimento, a natureza. Tais elementos dão vida a O Segredo de Brokeback Mountain, compartilhando uma mesma trajetória, uma estrada em comum que une o destino de dois jovens através de um amor que, mediante as restrições da sociedade, só podem comungá-lo em segredo. Ang Lee concebe então um então um filme sobre a dor, sobre o sofrimento, sobre as celas de intolerância que a sociedade constrói para isolar quem julga “diferente”. Entretanto, a obra não pretende discutir a posição dos homens para com os homossexuais, mas sim voltar seu foco para o sentimento que dois rapazes possuem em comum, e as dificuldades para compreendê-lo, aceitá-lo, e, principalmente, vivê-lo.
De um lado Ennis Del Mar (Heath Ledger), um homem fechado emocionalmente, introspectivo e de poucas palavras; do outro, seu oposto, Jack Twist (Jake Gyllenhaal), um jovem impulsivo, falastrão. O destino desses dois se cruza com o único objetivo de uma vida melhor, pensamento vindo de uma proposta de emprego no alto da montanha Brokeback. Naquele isolado local, conhecem então a força do amor em suas vidas, tendo como único confidente deste a vasta paisagem natural que os cerca. Porém, imediatamente, a mesma estrada que os entrelaçou agora os separa, cada qual toma um rumo oposto, logo mais se casam, têm seus filhos e tocam suas vidas da maneira que lhes é possível, mas sempre com um buraco no peito por não terem aproveitado aquela oportunidade que lhes fora cedida.
O destino, mais uma vez, se encarrega de conectar novamente os dois amantes, de dar-lhes uma nova oportunidade, e agora eles têm a máxima ciência de que a felicidade completa repousa no amor do outro. Ainda sim, o mundo em volta cria impasses para a relação entre os dois homens, enquanto um pouco se importa com as convenções sociais, o outro ainda teme a reação de todos a seu redor, a visão das pessoas quanto ao amor de duas pessoas de mesmo sexo. Desse modo, a união de Ennis e Jack só é possível desde que escondida por uma montanha, ocultando de olhares terceiros o sentimento que nutrem um pelo outro.
O sofrimento de não poder demonstrar, viver o amor atinge-os. O fundo do poço encontra finalmente aquelas duas criaturas, um que se vê atormentado com a hipótese de não poder ter uma vida estável ao lado de seu amado; e este jamais consegue expressar totalmente seus sentimentos, e não está pronto para recepção que a sociedade fará ao descobrir o amor entre eles. Nesse conflito de razões e sentimentos, a vida dos dois cowboys vai se estilhaçando aos poucos, e junto com essa decadência, a tristeza do público ao ver que os sonhos de uma vida feliz para eles passam a ser cada vez mais improváveis. O tempo passa e atinge ferozmente aquelas existências, e mesmo com os anos se sucedendo Jack e Ennis ainda estão impossibilitados de manter uma relação de amor às claras, os encontros na montanha passam a ser cada vez mais raros, com isso a sentença de permanecerem solitários parece estar cada vez mais próxima.
No final dessa história de amor, a dor sobressai-se aqueles indivíduos. Duas almas que se encontraram para se completarem em um só ser não puderam finalizar suas jornadas, devido aos julgamentos do homem. A lembrança se estabelece então como o único subterfúgio para um destino que agora só aguarda solidão, tristeza, dor. Dor essa promovida por uma opção própria, por uma resignação, por uma vontade que trilhou um caminho irreversível, um sentimento duro que encontra reconforto somente nas memórias deixadas pela montanha Brokeback, a única entidade no mundo que para sempre guardará o amor daqueles dois apaixonados.
Nota: 8.5
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