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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Pequena Miss Sunshine (2006)

Primeiro, seria inútil tentar dizer o quanto Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine) me faz bem. Segundo, é bem possível que não consiga analisar todos os pontos narrativos do filme – gosto de escrever sobre filmes mas não sou bom nisso e sou pior ainda quando a história consegue me conquistar, do jeito que aconteceu com esse filme. Sim, adquiri sentimentos pelos personagens: Olive (Abigail Breslin), a garotinha fofa e desengonçada que quer ser miss; Dwayne (Paul Dano), um adolescente estranho que fez um voto de silêncio para conseguir entrar para acadêmia de força áerea; Sheryl (Toni Collete), a mãe desses dois jovens que faz de tudo para sua família; Richard (Greg Kinnear), o pai que vende um programa para atingir o sucesso, o que é, ironicamente, um fracasso; Edwin (Alan Arkin), o avó, um velho rebelde que se entregou às drogas e que ensina passos de dança para Olive; Frank (Steve Carell), o tio, um especialista no escritor Proust e gay que tentou o suicídio recentemente, por isso precisa ser vigiado pela família. Adquiri sentimentos pelos Hoover, essa família problemática e que necessita de mudança urgentemente. De certa forma, vi um pouco deles na minha própria família.

A história, que também consegue me agradar (e muito!), gira em torno do fato de que os Hoover precisam levar Olive para a Califórnia pois ela foi selecionada para participar do Pequena Miss Sunshine, um concurso de beleza para crianças. Sem condições para ir de avião até o destino, eles embarcam na viagem em uma combi amarela e velha (que é a única opção em que todos caibam). Nesta viagem de três dias eles são obrigados a conviver entre eles, com seus sentimentos, fracassos, tristezas, descobertas, alegrias. E também com as surpresas que terão de enfrentar pelo caminho.

A essa vista, Pequena Miss Sunshine parece um filme bobinho, o que, definitivamente não é o caso, pois tem um ótimo elenco que se torna ainda melhor graças ao roteiro que, relativamente, constrói bem seus personagens (com muitos elementos da cultura indie, o que não agradará a todos e que também é bastante visto em filmes independentes do cinema americano atual) e, além disso, toca em assuntos polêmicos que atormentam os Hoover: depressão, homossexualidade, drogas, divórcio, suicídio. Um exemplo é Frank. Ele é gay e havia tentado o suicídio recentemente, mas, ao passo que vai tendo contato com a família vai renascendo e se tornando mais feliz. Também, o casal Richard e Sheryl vivem brigando e é bem possível que estavam pensando no divórcio, mas a viagem e o contato familiar também fazem bem ao casamento deles. E ainda há inúmeros fatos que destacam que aquela viagem e a convivência era tudo o que eles precisavam para descobrir que eles eram uma família acima de tudo, mesmo com todos os problemas e com as desavenças entre eles.

Fracassado é aquele que tem tanto medo de não vencer que não chega a tentar

Todo o discurso de Richard para vender seus “nove passos para o sucesso” é simbólico. Ao mesmo tempo em que ele parece odiar todo e qualquer tipo de fracassado, ele mesmo está fracassando em aspectos da sua própria vida, assim como grande parte da família (o que fica mais visível em Frank, Edwin e Sheryl que se entregam à tentativa ao suicídio, ás drogas e ao cigarro, respectivamente, como forma de diminuir o seu sofrimento por não terem conseguido tudo o que planejaram). Mas, novamente, a viagem se mostra como uma forma de atenuar os seus sentimentos em relação aos fardos que cada um deles carrega.

A vida é um eterno concurso de beleza

A parte final, quando Olive está, finalmente, no concurso também é simbólica. Em meio de um monte de gente que pensa somente na beleza e a vê como elemento principal (o que é uma futilidade sem par) e também rodeada de meninas extremamente maquiadas e artificiais que parecem iguais, a garotinha diferente, desengonçada e gordinha com seu número de dança peculiar abre os olhos da família e também do espectador para mostrar que a felicidade e a união são bem mais importantes do que a aparência. E quando todos eles se juntam a Olive no palco fica claro que aquela viagem foi bem mais do que em prol de um concurso de beleza.

As atuações

Parece consenso entre a crítica que o melhor do filme são as atuações. Concordo em parte com isso, pois, na minha opinião, o melhor do filme é o filme todo. Mas, é claro que as atuações colaboram para que o filme tivesse sua força destacada. Nesse caso, todos se destacam. Mas o filme é de Olive e, portanto, Abigail Breslin, a mais nova do elenco se sai muito bem, desde sua primeira cena, em que assiste a um programa de misses, até o seu engraçado número de dança no concurso. Ela rouba o filme. Destaco também Paul Dano, que interpreta Dwayne que tem um papel bastante difícil em que ele não diz nada, mas consegue passar suas emoções muito bem.

O cinema americano independente

Esse tipo de cinema vem crescendo bastante nos últimos anos. Muitos críticos dizem que há uma fórmula para criar filmes desse tipo, principalmente história e personagens bizarros e estranhos e um retrato bastante verdadeiro da realidade, além do baixo orçamento. É fato que Pequena Miss Sunshine se aplica a esse tipo de cinema (vide personagens bizarros e problemas no orçamento), mas a tal fórmula caiu tão bem nas situações aqui propostas que é bem provável que o filme seja um dos melhores exemplares do cinema americano e independente que vem produzindo filmes bons como Entre Quatro Paredes (In The Bedroom) e Pulp Fiction (idem).

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Pequena Miss Sunshine conseguiu causar em mim muitos sentimentos: me divertiu, emocionou, me deixou apreensivo, muitas vezes com raiva e com pena, me fez ver a vida de um modo diferente, enfim, me fez sentir parte da história, pois me identifiquei com um pouco de cada personagem e também vi um pouco da minha própria família nos Hoover. Seus sonhos, medos, anseios e conflitos fazem com que os personagens sejam mais do que isso, e sim humanos e reais. Pequena Miss Sunshine pode não ser o melhor filme de todos os tempos. Nem tinha essa pretensão. Mas, une o útil e o agradável e consegue me conquistar a cada vez que o revejo.

"Enfim, ele [Proust] chegou ao fim de sua vida, olhou pro passado e se deu conta que todos aqueles anos em que sofreu foram os melhores da vida dele, pois mostraram à ele quem ele era." (Frank, Little Miss Sunshine)

Nota: 10,0

2 comentários:

  1. Esse filme é ótimo, até preciso rever um dia desses. Mas, como você, sempre me encanto vendo os Hoovers, hehe. Acho que as últimas vezes que vi Toni Collete ela era a matriarca de uma família nada convencional, o papel cai bem nela. Mas todo o elenco está ótimo, fazendo de Pequena Miss Sunshine um exemplo e uma manifestação incrível de humanidade.
    Abraços.

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  2. Acho esse filme muito divertido, com um humor negro no clímax final. Atores ótimos e com excelentes papéis. Não é à toa o sucesso desta fita independente.
    Abs.
    Rodrigo

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