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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (2010)


De uns tempos para cá, Woody Allen parece estar realmente descrente em sua espécie, pessimista quanto a qualquer esperança que venha a envolver os personagens de suas histórias. Dessa forma, os últimos trabalhos do cineasta podem ser intitulados de qualquer coisa menos uma comédia, não falo pelo humor, mas sim pelo grau de tristeza contido nessas obras. Allen sempre soube “esconder” a dor que paira sobre suas tramas vestindo-as com atmosferas agradáveis e inspirados lances cômicos. No entanto, essa maquiagem parece não funcionar em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, 2010), talvez porque o peso que a narrativa carrega dificilmente poderia ser contornado por uma ou outra investida humorística.

É um filme sobre a dor, sobre o sofrimento que se aumenta incessantemente ao ver as esperanças pouco a pouco destruídas. Falando dessa maneira parece tratar-se de um drama assustador. E é isso que ele é, de fato. Mas Woody Allen sabe como ninguém tratar de temáticas sérias com bom humor - embora aqui sua habilidade esteja em pouca inspiração -, procurando sempre extrair um sorriso de seu público mesmo quando a situação em que os personagens se encontram passa a ser ainda mais desesperadora. Veja por exemplo Vicky Cristina Barcelona (Idem, 2008), onde temos duas jovens amigas que viajam à encantadora cidade espanhola e enfeitiçam-se pelo charme de um experiente homem, então depois de um círculo de venturas e desventuras na vida dos três, o diretor simplesmente condena as moças a viverem a infelicidade da monotonia, a ciência de que o possível amor que encontraram no local era somente uma miragem. E esse ponto abordado pelas tramas de Vicky e Cristina, alcança seu ápice neste filme, onde Allen intrica as vidas de casais em profunda decadência, tanto matrimonial quanto pessoal.

Allen, no entanto, mostra-se um tanto preguiçoso em seu roteiro, investindo minimamente em sua carga dramática, e se rendendo simplesmente a ensaios de humor poucos inspirados. Seu filme analisa a história de Alfie (Anthony Hopkins) e Helena (Gemma Jones), que se separaram recentemente; então, ainda abalada com o divórcio, a mulher busca ajuda profissional, mas não obtém sucesso, então vai a procura de uma vidente que possa reconfortá-la com boas previsões futuras. Helena e Alfie são pais de Sally (Naomi Watts), uma mulher que anda enfrentando problemas em seu casamento com Roy (Josh Brolin), por não admitir que seu marido não se dedique a qualquer trabalho que não à confecção de seu livro. Figuras desconhecidas cruzam o destino dos quatro, transformando a instabilidade dessas relações numa teia de traídos e traidores.

Todos os ganchos que parecem carregar os personagens para uma espécie de completude pessoal são totalmente instáveis, e com a mesma rapidez que trazem um pingo de alegria aquelas vidas, atira-as mais uma vez no fundo do poço. Isso serve para compreender tanto o desfecho dessa trama quanto seu próprio título, ambos se prendem a um presságio, apegando-se a algo não tangível. Uma ilusão, em outras palavras. Chegamos ao cerne da obra, onde os propósitos de seu diretor/roteirista se apresentam junto com a ruína dos personagens, e estes, junto com todas as situações mostradas, nada mais são do que desenhos a ilustrar o pensamento agridoce de que a vida é torna-se melhor desde que creiamos em nossos sonhos, em qualquer devaneio que venha a nos desapegar da triste realidade.

Estava tudo muito evidente desde os créditos iniciais, a canção “When You Wish Upon a Star” apresenta claramente a idéia principal que o filme semeia, do começo ao fim. O abraço na utopia, na esperança quimérica que alimenta não apenas os sentidos, mas também a alma e o coração, e, nem que por um segundo sequer, fez com que aquelas quatro criaturas condenadas alcançacem uma plena felicidade.

Nota: 7.0

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