O enredo de O Escritor Fantasma já começa arrebatando, transbordando inteligência e proporcionando boas e exatas doses de suspense. Nada muito surpreendente se lembrarmos que quem assina pelo roteiro também é Polanski. Mas nesse suspense temos o diferencial de se tratar de uma história envolvendo política, violação de direitos humanos e personagens de total obscuridade. Em nenhum momento podemos nos sentir no controle da situação, achando que já desvendamos o caso. Pelo contrário, há tantas informações sendo soltas ao decorrer da trama que fica difícil montar o quebra-cabeça.
Nessa trama política e densa conhecemos a vida do escritor fantasma vivido por Ewan McGregor, que é contratado para escrever as memórias do ex-ministro inglês Adam Lang (Pierce Brosnan, aceitando finalmente um papel bom em anos), já que o antigo escritor contratado morrera recentemente num trágico acidente. A princípio a tarefa parece ser moleza, além de tediosa. O escritor deve partir para um lugar exilado onde o tal ministro se esconde, já que tem uma péssima popularidade e terríveis boatos a respeito de seu possível envolvimento financeiro numa guerra. Ao chegar nesse lugar isolado, o escritor (me refiro sempre a ele como escritor porque não é mencionado o nome do personagem) se vê envolvido numa trama terrível, cheia de segredos, onde não se pode confiar em ninguém De repente, quanto mais ele sabe, mais pode ser possível acabar levando o mesmo fim do antigo escritor.
Como qualquer bom suspense de caráter político, esse acaba gerando grandes paralelismos com a política americana e inglesa da atualidade, mas isso de modo algum dá ao filme um ar rebelde ou revolucionário. Na verdade, o filme trata a política como algo que não tem espaço para mudanças, por mais que haja boas intenções. Sempre haverá algum membro da política com o nome sujo, e um dia toda essa sujeira vem à tona.
Ainda na questão de paralelismos, há um que é impossível não notar. O personagem vivido por Pierce Brosnan tem uma óbvia semelhança com o próprio Roman Polanski, também exilado de seu país por uma história cheia de segundas e terceiras versões. Assim como o ex-ministro tem um ar de dúvida na maior parte do filme, em que é quase impossível saber se ele está falando a verdade ou não, o "querido" diretor Polanski é mestre em esconder cartas debaixo da manga quando assuntos sobre seu escandaloso passado vem à tona.
Mas deixando de lado os duplos sentidos apresentados nessa obra, podemos dizer que é um dos melhores filmes desse ano. Com um cheirinho de Oscar no ar, O Escritor Fantasma tem grandes chances de marcar uma boa presença na próxima cerimônia de entregas da Academia, principalmente nas categorias Roteiro Adaptado, Trilha Sonora, Melhor Direção e quem sabe Melhor Filme.
Interessante, inteligente, tenso, cheio de ação e de grande originalidade, O Escritor Fantasma é um dos melhores filmes a serem lançados nesse ano e com certeza agradará em cheio a quem o assistir. Vale a pena conferir.
Nota: 8.5
E eu que ainda não vi esse filme!
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Li, quase num só fôlego :)
Saudações cinéfilas,