A Sombra de uma Dúvida foi o primeiro filme de Hitch rodado em solo americano, e na trama somos apresentados a uma típica família desta região, onde a ingênua Charlie (Teresa Wright) aguarda ansiosamente a chegada de seu tio, também chamado Charlie (Joseph Cotten), que vai visitar seus parentes na pacata cidade de Santa Rosa. O clima de alegria se instaura entre a família, mas logo Tio Charlie começa a agir de forma estranha, o que desperta a desconfiança da Jovem Charlie e de mais dois detetives, que logo descobrimos, estão atrás de um misterioso assassino, cujo costume é tirar a vida de viúvas recentes. Após suas pesquisas, a Jovem Charlie começa a desconfiar que seu tio possa ser o assassino, passando a temer não apenas a segurança de seus familiares, mas também a sua própria.
Quando digo que este foi o filme que intensificou as futuras características de Hitchcock, não é por acaso. Basta prestar atenção na maneira como o diretor constrói a atmosfera do longa, e em como sua carreira alcançou novos vôos após este filme. Inicialmente apresentada como uma cidade calma e convencional, a cidade de Santa Rosa logo se torna o palco de um intrigante jogo de gato e rato, onde a suspeita se instaura em todo lugar. Ainda que boa parte do filme se passe dentro da casa da família, a aura pacifica da cidade ajuda na sensação de desconfiança, como se da mesma forma que acontece na casa da Jovem Charlie, todos ali possuem seus segredos dentro das paredes de suas residências. A situação que ocorre durante do filme serve como inspiração para refletir sobre os segredos que cada um esconde dentro de seu próprio lar.
Mas A Sombra de uma Dúvida, sendo um dos menos ambiciosos de Hitchcock, encontra alguns problemas pelo caminho, destacando sua protagonista, apresentando-se como uma garota ingênua demais, sonhadora demais, e por conseqüência, irritante demais. Os sorrisos esboçados por Teresa Wright após a chegada de seu tio não convencem, e só fizeram crescer meu desapreço pela personagem, que felizmente, assume uma posição mais intensa após a primeira metade. Esta primeira metade, aliás, possui certo exagero em sua narrativa, demasiada lenta, mas que consegue manter a atenção graças as sutilezas na direção de Hitchcock.
Mas estes problemas pouco atrapalham o ótimo nível de A Sombra de uma Dúvida, que mesmo sendo um dos menos lembrados do diretor, prova que não envelheceu, e se mostra mais eficiente do que a maioria dos exemplares atuais, com situações tensas e imprevisíveis, além de um desfecho pequeno, mas memorável. Hitchcock viria a melhorar muito em seus projetos seguintes, mas isto não desmerece esta pequena pérola de sua filmografia e do gênero do suspense.
Nota: 8.0
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