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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Troca (2008)



Dos últimos projetos para cá, Clint Eastwood tem se apresentado como pleno entusiasta do estudo de seus personagens; não para menos, suas obras recentes estão carregando tramas sempre preenchidas de temáticas difíceis de abordar, e ainda mais, complicadas de digerir. No entanto, por mais relevantes e intensos que sejam os assuntos tratados, o diretor utiliza-os como um suporte, para assim poder analisar única e profundamente o ser humano, em estado bruto, e seu interminável processo de lapidação diante as circunstâncias que lhe são impostas.

O homem aqui é representado pela figura maltratada e sofrida de Angelina Jolie, e a partir dessa ilustração, A Troca passa a explorar as dimensões de sua protagonista, com o intuito de poder compreender os impulsos do ser, sua natureza, seu âmago. O instinto maternal de Christine Collins torna-se imediatamente sua espada e seu escudo, e o filme acompanha não somente a trajetória desoladora de uma mãe, mas também sua condição humana frente ao inesperado, ao infortúnio, e, especialmente, ao horror absoluto. As diversas narrativas da obra (o sofrimento da mãe, a luta contra o sistema e a barbaridade de um crime) afirmam essa sua intenção, e mesmo que cada qual das ramificações da história aponte para pólos relativamente distintos, todas se interconectam para discutir o que era proposto afinal de contas: o homem.

Pouco a pouco, público e personagens são desarmados pelos impactos da trama, inevitáveis indagações surgem a respeito de como nos portaríamos se estivéssemos em situação semelhante. A dor da protagonista passa a ser nossa, o sofrimento que ela comunga todos os dias em que se vê mais afastada da possibilidade de rever seu filho é compartilhado com o espectador. Eastwood propõe essa troca de sentimentos, de sensações, de indignações e tudo isso é exaltado pela sublime - e surpreendente - interpretação de Angelina Jolie, que se entrega ilimitadamente à personagem e desenha em Christine Collins um semblante deprimido, sufocado, mas forte, acima de tudo.

Eastwood, mais uma vez, concebe uma história de dimensões múltiplas, tal qual sua própria protagonista, que não se intimida em apresentar seus ângulos em prol de algo. Christine Collins é concepção básica da natureza humana, que se debate ao lhe causarem um ferimento e ouriça-se contra os que se opõem à seu caminho. Uma guerreira, afinal. Que encontra apoio não nas pregações falhas dos sistemas sociais, mas em um sentimento especial que alimenta cada passo de sua longa estrada da vida. Porque, acima de tudo, A Troca é sobre a certeza de que a esperança nunca morre.

Nota: 8.5


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