Narrada diantede uma profusão de sentimentos avassaladores, arelação da dona de casa Francesca (Meryl Streep) e do fotógrafo Richard (ClintEastwood) torna-se mais que somente uma paixão efêmera, devido ao ardor inicialdessa sensação se intensificar a cada minuto que aqueles dois corpos dividem ummesmo ambiente e encontram-se nos próprios olhares. Para ele, uma interaçãoiniciada com esta mulher seria mais que apenas um compromisso pontual deprazer, mas uma “fuga” de seu próprio “mundo de fugitivo”. Para ela, o espírito aventureiro e o semblante sensual daquele homem, trariam energia a sua uniformevida de senhora do lar.
É assim que Clint Eastwood compõe seu As Pontes de Madison(The Bridges of Madison County, 1995), como um filme sobre o amor. Agindo comocatalisador da libertação da alma. Em sentidos metafóricos, Francescarepresenta para Richard a estabilidade necessária, que o fará abdicar de suavida nômade em prol de uma alma gêmea. Como típica dona de casa interiorana,Francesca (em outra magistral atuação de Streep) vê nele um passaporte que alevará para longe do marasmo de seu dia a dia; o combustível que faltava paradar razão ao seu cotidiano estático. O sentimento que os une de corpo e almapropõe a liberdade destas “prisões” existenciais que os envolvem, de modo queao passo de abraçarem cada vez mais esse amor, as razões para esquecerem essaaventura e seguirem em frente parecem surgir no horizonte.
O romance nasce com o encontro casual deambos, quando seu marido e filhos fazem uma viagem de quatro dias, um fotógrafoforasteiro chega à cidade para preparar uma matéria sobre as pontes locais, eacaba pedindo-lhe orientação de como achar uma em especial. Ela, de boaatitude, oferece-se para conduzir o sujeito até o local, durante esse meiotempo eles descobrem que muito têm em comum, e uma pequena faísca lhes ocorrenestes quatro dias isolados das condições pessoais (ele de andarilho sem rumo,e ela de mulher frustrada do lar) que ostentam. O sentimento desempenha papéisdefinitivos em seus destinos. E Eastwood observa essa relação em uma direçãosutil, delicada, que captura a essência desse sentimento enquadrando-o empainéis sutis das paisagens que o testemunham silenciosamente.
Abdicar da estabilidade de uma vida para se viver única epuramente de amor é uma empreitada que traz à cabeça de Francesca indagaçõesinfinitas. Saber que a mulher que ama é comprometida através de uma aliança matrimonial e de descendentes torna-se um golpe amargo para Richard - que ainterpretação de Eastwood pontua com expressões físicas duras e tristes.Afinal, seria egoísmo de sua parte pedir que ela abandonasse tudo que haviaconstruído para viver de uma paixão. E isso aos poucos corrói o espírito de ambos;a impossibilidade de alimentar a chama de seus corações os invade e domina seuscorpos, e tudo culmina na angustiante sequência no semáforo (a mais bela dofilme), banhada por uma chuva intensa que simboliza as lágrimas de dois seres vencidos pelo sentimento recíproco.
Uma narrativa lenta, regida por palavras ressentidas,escritas à tinta e regadas com o choro que encharcou papéis envelhecidos pelotempo. Entregar-se aquele momento fora a melhor coisa que a dona de casa haviafeito na vida (por mais clichê que isso possa soar), não procurando uma lógica,deixando somente que isso a consumisse de corpo e alma tal como a ação do fogosobre a pólvora. Richard era um presente do destino, um ser que trazia consigo o sabor de uma vida distante daquele ambiente bucólico, a sofisticação de umabagagem cultural vasta e a virilidade que se opunha a sua fragilidade feminina.Francesca teve nesses quatro dias a edificação plena de sua existência, o ápiceque seu espírito de humana e seu corpo de mulher puderam (ou poderão) atingiralgum dia. Graças ao amor.
Nota: 8.0
filme maravilhoso, um dos melhores de Eastwood, tanto na direção, quanto na atuação. Abs!
ResponderExcluirEstou com o filme em casa há um bom tempo e ainda não assisti.
ResponderExcluirAbraço