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sábado, 10 de setembro de 2011

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte I (2010)


Em meio ao famigerado atropelamento de filmes que se autodenomina “saga”, estreou no último fim de semana o longa que mais se aplica ao termo destacado: Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1, 2010), episódio que inicia o capítulo final da história do menino bruxo mais famoso do cinema e da literatura. Aqui, são perceptivos o amadurecimento dos personagens e a evolução orgânica da história, assim como vemos livros de J. K. Rowling, fatos e feitos que por si só tornariam a obra em questão merecedora do rótulo citado acima.

Há aproximadamente 10 anos, a intenção dos responsáveis da franquia era transpor o universo fantasioso criado pela escritora britânica com a finalidade de fascinar o público, mais particularmente, as plateias infantis. Os magníficos terrenos de Hogwarts eram visitados por seres fantásticos, enquanto deslumbrados alunos, em trajes coloridos, corriam pelos corredores de seu castelo ou voavam os céus azuis com as mais diversas e modernas vassouras. Esta produção, porém, desde seus créditos iniciais, demonstra, através de dias cinzentos e um angustiante ar de despedida, a desesperadora situação de seus protagonistas e de que, certamente, será testemunha quem estiver sentado na sala de cinema.

Após a morte de Dumbledore e o iminente fim do encantamento que protegia Harry de ser encontrado por Lorde Voldemort, o jovem bruxo precisa fugir dos Comensais da Morte (infiltrados no Ministério da Magia) e, afinal, completar a missão que lhe foi designada. Acompanhado dos inseparáveis amigos Rony Weasley e Hermione Granger, Potter deve encontrar e destruir as Horcruxes, objetos que contêm pedaços da alma de Voldemort e são responsáveis por sua imortalidade. Paralelamente, o lorde das trevas busca a Varinha das Varinhas (um dos três objetos que compõem as relíquias da morte), certo de que esta é a única capaz de, finalmente, assassinar Harry Potter e pôr fim à profecia.


A complexidade do enredo é um problema evidente a ser enfrentado pelo diretor David Yates, já que nem todos os espectadores leram os livros e podem não compreender tudo o que vêem na tela. O roteiro de Steve Kloves inclui todos os elementos mais importantes da trama, mas procura abordá-los da maneira mais econômica possível. Assim, mesmo que certos detalhes passem despercebidos pelo público geral, os leitores podem identificar minúcias impossíveis de serem explicadas em menos de 150 minutos de projeção, mas que são vistas em tela. Isto ocorre na cena anterior à fuga de Harry Potter, quando vemos a sigla “R.A.B.” em seu diário, posteriormente explicada.

A montagem econômica e dinâmica também colabora para a fluidez da projeção, como na cena de aproximadamente 2 segundos em que vê-se a barraca onde o trio de jovens bruxos está exilado, logo após um close na bolsa mágica de Hermione. Outro destaque é a animação que explica (e realça a lendária) origem das Relíquias da Morte, alternativa criativa encontrada por Yates.

O diretor, porém, mostra-se demasiadamente econômico em cenas de ação, recorrência incômoda, principalmente, nos últimos filmes da franquia. Tal lamentação, acredito, será mais retumbante entre fãs durante a cena da fuga dos sete Potters, em que um personagem importantíssimo da trama não é visto ser abatido, o que afeta no impacto que deveria ter a notícia de tal morte. Além disso, outro personagem é impedido de ser ainda mais odiado porque não é visto arrancando a orelha de um dos integrantes da Ordem da Fênix.


Deste modo, David Yates opta, claramente, pelo desenvolvimento dramático do longa metragem. Esse amadurecimento acompanha a personalidade dos protagonistas da história, percebendo-se uma abordagem bem intimista nas ações de Harry, Hermione e Rony, como vemos durante seu exílio. Os momentos de solidão, ilustrados pela belíssima fotografia de Eduardo Serra, complementam com perfeição essa proposta, remetendo aos mais emocionantes momentos de Na Natureza Selvagem (Into The Wild, 2007) .

Aliás, esse “ambiente” é favorável pro crescimento dos atores Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, este destacando-se por apresentar uma comicidade mais contida, balanceada com a gravidade da situação, além de representar convincentemente a crescente paixão de Ron por Hermione.

De maneira geral, as atuações mantêm o bom nível da série. Tanto o elenco "veterano" (em especial, os vilãos Bellatrix e Snape, vividos por Helena Bonham Carter e Alan Rickman, respectivamente), como os intérpretes dos novos personagens, representam escolhas acertadas. Neste aspecto, tem atuação destacada o ator britânico Andy Linden, nas telas como Mundungo Fletcher. Importante frisar, porém, que seu comportamento inusitado e sua personalidade “errante” são auxiliados por um figurino impecável, novamente a cargo de Jany Temime.


A produção da série Harry Potter certamente encerrará sua participação de maneira triunfante, já que os dois últimos filmes da série foram feitos simultaneamente. Enquanto departamentos como maquiagem, figurino e fotografia mantiveram o alto nível das películas anteriores, os efeitos especiais chegaram a um nível jamais atingido antes (o elfo Dobby interage mais naturalmente com intérpretes em carne e osso, contribuindo para sua meteórica e comovente aparição). A trilha sonora também representa o constante clima de urgência de maneira eficaz, como observado antes em Harry Potter e o Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince, 2009).

Embora apresente um ritmo mais moroso que as edições anteriores, Harry Potter e as Relíquias da Morte expõe, já em sua primeira parte, todas as explicações necessárias para que a trama faça sentido, avançando bastante a história contada no livro. Esclarecimentos feitos, a projeção evolui e apresenta um desfecho climático, guardando a promessa de que o melhor esteja, realmente, reservado para a continuação, a ser lançada em 15 de julho de 2011. Excelente tecnicamente, corresponde às expectativas e introduz promissoramente o capítulo derradeiro de uma verdadeira saga.

Nota: 8.0


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