Cidade Baixa serve como exemplo de que, apesar do que muitos negativistas afirmam por ai, o cinema nacional é digno de reconhecimento e do prestigio que vem alcançando pelo mundo afora. Filmes como Central do Brasil, Cidade de Deus e o já mencionado Tropa de Elite são provas de que, ao refletir a realidade do povo brasileiro nas telas, somos capazes de realizar cinema de qualidade, à altura de grandes obras-primas do cinema Hollywoodiano como O Poderoso Chefão ou Os Bons Companheiros, só para citar exemplos similares.
Infelizmente, Cidade Baixa não foi tão bem recebido quanto se esperava. Acusado por muitos de excessivamente violento e gratuito, o longa abocanhou um bom número de prêmios em certos festivais, mas não obteve uma resposta positiva da maioria do público. O que é uma pena, já que apesar de todos os problemas, trata-se de um drama sólido, sustentado por um roteiro bem trabalhado e atuações perfeitamente calibradas.
O grande mote de Cidade Baixa está justamente no dilema enfrentado por Deco e Naldinho: entregar-se ao amor e carinho de Karrina e sacrificar a amizade, ou manter esse vínculo sincero que existiu durante anos? Por mais clichê que seja estes conflitos, o roteiro escrito pelo próprio Sérgio Machado em conjunto com Karim Ainouz consegue trabalhar bem esses dilemas, desenvolvendo a crescente inimizade dos amigos de forma dura e despida de qualquer sutileza. E talvez tenha sido este motivo que levou o público a manter certa distância do filme. Não é uma experiência para qualquer um, já que a direção de Machado opta pelo explícito, e exige que seu espectador tenha, no mínimo, um bom nível de sustentação emocional para suportar a carga dramática do filme.
Aliás, a direção de Machado foi severamente censurada devido ao sensualismo que é empregado nas cenas de sexo. Mas ao optar por algo tão explicito, fica claro o objetivo do diretor em traduzir pelo que os personagens estão lutando, tornando palpável o motivo que os leva a realizar seus mais deploráveis atos. E para tanto, o diretor usa e abusa da beleza e sensualidade de Alice Braga, que representa o objeto de desejo e loucura dos dois amigos. E Braga encarna Karinna com uma força e vitalidade que justificam os novos ares que a carreira da atriz tomou após este projeto (atualmente ela se dedica a projetos Hollywoodianos como Eu Sou a Lenda, Ensaio Sobre a Cegueira e o mais recente O Ritual). Wagner e Lázaro também não ficam atrás, e acerta no tom de seus personagens, investindo em trejeitos, mas sem nunca caírem na caricatura.
Entretanto, é decepcionante a falta de criatividade dos realizadores em construir um desfecho decente, que trouxesse um final coerente para um trama que consegue nos captar desde o início. O roteiro começa muito bem, mas de certa forma não terminha, o que causa uma estranha e desconfortante sensação de que faltou algo. Mas isto não diminui os méritos de Cidade Baixa, um drama forte, provocador e desafiador, como poucos conseguem ser.
Nota: 7.0
É um filme bem legal e que levou ao cinema nacional a conhecer melhor alguns nomes que sairam aqui da Bahia.
ResponderExcluirBem venho aqui também para convida-lo para participar de um meme sobre cinema.
http://discursohumanista.blogspot.com/2011/12/um-mes-31-filmes.html
Abraços!