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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Cidade Baixa (2005)


As parcerias entre Wagner Moura e Lázaro Ramos no nosso cinema já renderam alguns projetos de interesse bastante peculiar, como Sabor da Paixão, As Três Marias, Carandiru, Nina e alguns outros mais recentes como A Máquina, Ó Pai Ó e Saneamento Básico – O Filme. Cidade Baixa, do diretor Sérgio Machado (Onde a Terra Acaba) é mais uma das uniões destes dois astros de grande sucesso e repercussão (Wagner é mais conhecido por interpreta o Capitão Nascimento em Tropa de Elite, enquanto que Lázaro chamou a atenção da mídia em Madame Satã e estrelou o grande sucesso O Homem que Copiava).

Cidade Baixa serve como exemplo de que, apesar do que muitos negativistas afirmam por ai, o cinema nacional é digno de reconhecimento e do prestigio que vem alcançando pelo mundo afora. Filmes como Central do Brasil, Cidade de Deus e o já mencionado Tropa de Elite são provas de que, ao refletir a realidade do povo brasileiro nas telas, somos capazes de realizar cinema de qualidade, à altura de grandes obras-primas do cinema Hollywoodiano como O Poderoso Chefão ou Os Bons Companheiros, só para citar exemplos similares.

Infelizmente, Cidade Baixa não foi tão bem recebido quanto se esperava. Acusado por muitos de excessivamente violento e gratuito, o longa abocanhou um bom número de prêmios em certos festivais, mas não obteve uma resposta positiva da maioria do público. O que é uma pena, já que apesar de todos os problemas, trata-se de um drama sólido, sustentado por um roteiro bem trabalhado e atuações perfeitamente calibradas.


Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) se conhecem desde garotos, sendo difícil até mesmo falar em um sem se lembrar do outro. Eles ganham a vida fazendo fretes e aplicando pequenos golpes a bordo do Dany Boy, um barco a vapor que compraram em parceria. Um dia surge Karinna (Alice Braga), uma stripper que deseja arranjar um gringo endinheirado no carnaval de Salvador a quem a dupla dá uma carona. Após descarregarem em Cachoeira, Deco e Naldinho vão até uma rinha de galos. Naldinho aposta o dinheiro ganho com o frete, mas se envolve em confusão e termina recebendo uma facada. Deco defende o amigo e ataca o agressor, mas os dois são obrigados a fugir no barco, rumo a Salvador. Enquanto Naldinho se recupera, Deco tenta conseguir dinheiro para ajudar o amigo. Ao chegarem em Salvador a dupla reencontra Karinna, que está agora trabalhando em uma boate. Aos poucos a atração entre eles cresce, criando a possibilidade de que levem uma vida a três.

O grande mote de Cidade Baixa está justamente no dilema enfrentado por Deco e Naldinho: entregar-se ao amor e carinho de Karrina e sacrificar a amizade, ou manter esse vínculo sincero que existiu durante anos? Por mais clichê que seja estes conflitos, o roteiro escrito pelo próprio Sérgio Machado em conjunto com Karim Ainouz consegue trabalhar bem esses dilemas, desenvolvendo a crescente inimizade dos amigos de forma dura e despida de qualquer sutileza. E talvez tenha sido este motivo que levou o público a manter certa distância do filme. Não é uma experiência para qualquer um, já que a direção de Machado opta pelo explícito, e exige que seu espectador tenha, no mínimo, um bom nível de sustentação emocional para suportar a carga dramática do filme.

Aliás, a direção de Machado foi severamente censurada devido ao sensualismo que é empregado nas cenas de sexo. Mas ao optar por algo tão explicito, fica claro o objetivo do diretor em traduzir pelo que os personagens estão lutando, tornando palpável o motivo que os leva a realizar seus mais deploráveis atos. E para tanto, o diretor usa e abusa da beleza e sensualidade de Alice Braga, que representa o objeto de desejo e loucura dos dois amigos. E Braga encarna Karinna com uma força e vitalidade que justificam os novos ares que a carreira da atriz tomou após este projeto (atualmente ela se dedica a projetos Hollywoodianos como Eu Sou a Lenda, Ensaio Sobre a Cegueira e o mais recente O Ritual). Wagner e Lázaro também não ficam atrás, e acerta no tom de seus personagens, investindo em trejeitos, mas sem nunca caírem na caricatura.

Entretanto, é decepcionante a falta de criatividade dos realizadores em construir um desfecho decente, que trouxesse um final coerente para um trama que consegue nos captar desde o início. O roteiro começa muito bem, mas de certa forma não terminha, o que causa uma estranha e desconfortante sensação de que faltou algo. Mas isto não diminui os méritos de Cidade Baixa, um drama forte, provocador e desafiador, como poucos conseguem ser.

Nota: 7.0



Um comentário:

  1. É um filme bem legal e que levou ao cinema nacional a conhecer melhor alguns nomes que sairam aqui da Bahia.

    Bem venho aqui também para convida-lo para participar de um meme sobre cinema.

    http://discursohumanista.blogspot.com/2011/12/um-mes-31-filmes.html

    Abraços!

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