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domingo, 6 de novembro de 2011

Closer - Perto Demais (2004)


Há filmes que são feitos para públicos específicos. Closer- Perto Demais é um desses, dirigido exclusivamente ao público adulto e com claras ambições de chegar mais longe do que qualquer outro filme na abordagem dos relacionamentos. Talvez o experiente Mike Nichols não tenha alcançado seu objetivo, mas com certeza realizou um dos filmes mais importantes do gênero, nu e cru ao apresentar os reais conflitos de quatro adultos num círculo amoroso. E podemos afirmar que nada nesse filme é convencional ou esperado, sabendo surpreender todos em quase todos os momentos. Sua exposição clara e sem floreios sobre relacionamentos chega a assustar num primeiro momento, mas depois é impossível não concordar que tudo aquilo é a mais pura verdade nos dias de hoje. 

Ao contrário da maioria dos filmes que tratam sobre traições e casamentos abalados, Closer não usa de personagens caricatos, como o marido safado que ama dar uma pulada de cerca ou a esposa correta esperando o marido para o jantar. Nesse filme não há a famosa "outra", ou o típico "amante latino" que insistem em acabar com a vida do casal feliz. Aqui não há culpados nem inocentes, apenas seres humanos lidando com a dureza de suas realidades. Amor? Não é superestimado como na maioria dos filmes, nem tampouco adocicado e enfeitado como em quase todas as produções que o abordam. Sexo? Nem de perto algo sensual e caliente que parece não ter fim nos filmes sobre infidelidade. Amor e sexo são tratados de uma forma natural, sem nenhuma atenção indevida. Todos os temas são abordados de forma natural, dando até uma impressão de indiferença por parte do diretor e do roteirista. Nesse filme parece não haver diretor e atores, ou cenários e falas decoradas, de forma que tudo é retratado com fria exatidão. Para os mais provincianos é um filme depravado e de linguagem vulgar, mas para os sinceros não passa de uma visão pé no chão da vida. 

Para que essa "fórmula" desse certo foram escalados quatro dos mais talentosos atores da atualidade. Clive Owen foi o escolhido para ser Larry, cara maduro que é apaixonado por sua esposa Anna (vivida por Julia Roberts), mas que se mostra bastante "aceso" diante de outras mulheres. Anna, por sua vez, é uma personagem que passa longe daquelas mulheres que ficam em casa esperando o marido terminar de adulterar. Independente e vivida, ela também não deixa passar oportunidades de aventuras. Natalie Portman encara com grande talento a mais nova da trama, Alice, sendo também a personagem mais infantil e inexperiente, ainda um pouco sonhadora com a vida. Jude Law é Dan, namorado desiludido de Alice. Enquanto Larry procura desesperadamente o frescor de uma garota mais jovem e divertida para sair da rotina de um casamento, Dan carece de uma mulher madura que saiba entender seus conflitos. Começa então uma grande salada de idas e vindas, rompimentos e reconciliações, entre os personagens centrais. 


Mike Nichols tem certa atração por personagens maduras. Assim como em seu filme mais famoso, "A Primeira Noite de um Homem" (Graduate, The, 1967), Nichols usa a personagem Anna como forma de retratar a beleza da maturidade numa mulher. Julia Roberts sabiamente se porta como coadjuvante na história, como se estivesse vendo tudo de longe, sem se apegar a ninguém. Enquanto os outros personagens parecem pirar ao decorrer da trama, ela permanece, na maior parte do tempo, sã e impessoal. Essa indiferença acaba sendo seu maior triunfo, sendo mais desejada do que a jovem Alice. Natalie Portman encara uma personagem também muito relacionada com outros filmes de Nichols, a jovem e carente garota que acredita num amor eterno. Diferente de Anna, Alice não consegue ser impessoal e acaba sempre agindo de forma passional, declarando seu amor sem vergonhas. Por mais em desvantagem que possa parecer, é Alice quem tem chances de ser feliz, sendo a única a acreditar em um amor verdadeiro ao lado de Dan. Anna, apesar de parecer sempre desafetada, tem um coração infeliz por ter perdido com o tempo toda aquela vontade de viver de Alice. São duas personagens incrivelmente bem feitas e devidamente interpretadas. 

O filme não deixa de ser original nos quesitos técnicos. Num ápice de incrível coragem e inteligência, Nichols dispensou o recurso da maquiagem. Em pleno século XXI num filme de Hollywood estrelado por grandes atores, a maquiagem foi propositalmente dispensada. A ambição do diretor de mostrar a vida como ela é superou barreiras e nos deu a oportunidade de conferir a real beleza de Roberts e Portman, que continuaram lindas sem nenhuma ajuda. A falta de maquiagem também serviu para olharmos além dos atores em cena, nos focando apenas nos personagens. Quando assistimos Closer, não vemos Julia Roberts e sim Anna, não vemos Natalie Portman e sim Alice, não vemos Clive Owen e sim Larry, assim como não vemos Jude Law e sim Dan. O brilho dos atores não supera a grandeza de seus personagens. Conseguir realizar isso com um elenco tão famoso foi uma das maiores conquistas de Nichols em toda a produção. A trilha sonora é espetacular, principalmente a canção “The Blower’s Daughter” na voz de Damien Rice, sendo mais uma aliada na hora de dar ao filme um ar tão seco e direto.

Closer - Perto Demais, assim como diz o título, é um filme de detalhes, capaz de nos levar ao mais fundo das atitudes do ser humano. Sua direção precisa e imperceptível é primordial na hora de acentuar a beleza dos personagens. Como em poucos filmes, nesse não há mocinhos, assim como não há vilões, apenas pessoas como nós, comuns, porém complexas. Sentimentos densos que tantos procuram esconder são explicitamente jogados em cena, sem perdão e sem floreios. Grande produção, que chega a beirar o nível de obra-prima, que mostra sem dó, doa a quem doer, o verdadeiro "eu" em cada um de nós.

Nota: 9.0



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