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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Mulher Sem Piano (2009)



sem (latim sineprep.1. Indicativo de falta, carência.

Ausentar-se. Destituir-se. Abandonar. Verbos que exprimem a complexa ação de deixar algo ou alguém. Complexa não no sentido de sua mecânica, mas nas sensações e sentimentos que suscita antes e depois que se concretiza. Abdicar de um objeto, um hábito ou uma pessoa, enquanto demanda do sujeito coragem para se ver sem aquele bem, permite-lhe lançar sobre este um olhar diferenciado, novo e, principalmente, vivo.

A mulher sem piano (La mujer sin piano, 2009, Javier Rebollo) versa sobre Rosa, uma mulher comum, casada há anos com o mesmo marido, que trabalha fazendo depilação a laser, com uma rotina que pouco se altera. Em uma noite nada especial, depois que seu marido vai dormir, ela decide colocar uma peruca negra e sair pela cidade à noite de malas prontas. Durante a madrugada, passar por situações estanhas em hotéis, lanchonetes e casas noturnas, conhecendo prostitutas, atendentes e um sujeito desaparecido que deseja voltar para a Polônia, sua terra natal, com quem se relaciona de maneira estranhamente familiar.


Com um roteiro que mescla um cotidiano naturalmente sem atrativos e situações que flertam com o absurdo e o patético na descrição e identificação do incongruente e do ilógico na vida prosaica, Rebollo transforma com habilidade as situações em imagens com um estilo visual simples e direto, economizando palavras e permitindo ao espectador tornar-se presente na narrativa a fim de completar suas propositadas lacunas. Quanto ao elenco, pode-se dizer que Carmem Machi conquista o espectador aos poucos, dosando com qualidade os aspectos risíveis e melancólicos de Rosa sem torna-la digna de pena. Ela consegue oferecer a Radek, um rapaz aparentemente desconectado dos laços sociais, as sensações de se sentir cuidado por alguém tão carente da necessidade de cuidar como Rosa tem se sentido devido à distância que sente em relação ao marido e ao filho.

Com sutileza e certa dose de ousadia na concepção de um humor calcado nas imagens, Rebollo consegue nos permite compreender como a ausência (da audição, de um quadro no quarto, da rotina e até de si mesma) oferece a Rosa a chance de dar-se conta d importância de cada um destes elementos para a construção de sua “identidade vencida”, por mais que tenha precisado assumir a máscara da “mulher de peruca negra” para tal.

Nota: 9,0


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