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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sexo Sem Compromisso (2011)



Já no início desta produção, um diálogo descabido (o pré-adolescente Adam, ao declarar-se triste com a separação dos pais, é consolado por [uma já rude] Emma, e, aproveitando-se da situação, pergunta se pode tocá-la[???]) antecede a descida do título do filme e nos indagamos sobre o que vimos. O fazemos surpreendidos por uma cena tão superficial, inverossímil e incoerente, como se comprova no decorrer da projeção (como pela sensibilidade demonstrada pelo carente Adam, totalmente oposta ao garotinho pervertido apresentada nesse trecho). A partir dali, não mais nos surpreendemos no filme, o que, aqui, torna-se um ponto negativo de um roteiro que peca pela obviedade, além de total falta de criatividade e coerência.


Após a lamentável cena descrita acima, os protagonistas Adam Kurtzman e Emma Franklin (vividos, em fase adulta, por Ashton Kutcher e Natalie Portman, respectivamente) voltam a reencontrar-se ocasionalmente ao longo dos anos. Então, após um traumático término de namoro e muitas doses a mais, Adam acorda no apartamento de Emma, onde têm sua primeira relação sexual casual, o que, posteriormente, consolida-se como um relacionamento de “sexo sem compromisso”, como descrito no bom título brasileiro.


A direção do experiente Ivan Reitman (Os Caça Fantasmas, 1984) caracteriza uma escolha de segurança, já que a produção conta com a roteirista estreante Elizabeth Meriwether (responsável por peças de sucessos e da série televisiva Children’s Hospital, tem nesta obra sua estreia no cinema). Porém, se o diretor faz escolhas eficazes, como na captação orgânica do crescente interesse de Emma em Adam durante a dinâmica passagem dos anos, o diretor também peca pelo excesso, como ao focalizar o rosto do personagem de Kutcher por cerca de 20 segundos desnecessariamente. 



Esta cena, claramente, causa certo desconforto no ator. Este, por sua vez, ao fazer tantas caretas, demonstra sua falta de habilidade em atuar nesse tipo de enquadramento. Mas o que mais incomoda é que seu rosto iluminado já indica que o rapaz esteja de ressaca, além da duração do close tornar óbvio que encontraremos o rapaz sem roupa, nos privando de uma surpresa e tornando a narrativa mais lenta. No mais, o diretor não compromete, já que todas as outras abundantes obviedades do filme devem-se a um roteiro pouco inspirado. 
Poucos instantes depois, as pessoas que dividem o apartamento com Emma zombam de Adam e do que ele possa ter feito na noite anterior: primeiro Shira (Mindy Kaling), uma indiana pouco atraente surge insinuantemente de pijama. Então Guy (Guy Branum), gay afetado e obeso, nos arranca boas risadas ao deduzirmos que eles possam ter se envolvido na noite anterior. Até que a bela Patrice (Greta Gerwig) pede que eles parem com a zombaria e tenta (e consegue!) convencê-lo de que transaram, o que frustra toda a graça da situação. Se a previsibilidade do texto tem como intenção indicar a “ingenuidade” do rapaz, tal artifício, infelizmente, torna a trama menos interessante. 


Os personagens são outro ponto negativo deste projeto, já que quase sempre mostram-se unidimensionais e dispensáveis. Alvin Kurtzman (Kevin Kline) soa forçado e jamais nos cativa como o Bernie Focker de Dustin Hoffman – clara influência na concepção do personagem que interpreta o pai de Adam – o faz em Entrando Numa Fria Maior Ainda e Entrando Numa Fria Maior Ainda Com As Crianças. Ainda somos brindados(?) com a aparição insignificante de Cary Elwes, um talento desperdiçado na pele do Dr. Metzner, e uma atuação robótica de Ludacris, intérprete do divertido Wallace, no momento em que precisa olhar pensativo pro alto para dar uma resposta irreverente a seu desiludido amigo. 


O desencontro de uma figura em especial, porém, é o desencadeador de uma série de equívocos na narrativa: o doutor Sam (Ben Lawson). O médico tem os atributos necessários para servir de antagonista na narrativa: galante, determinado, dono de uma carreira potencialmente estável e promissora, sempre vemos Emma divertida a seu lado, o que desperta ciúmes no protagonista. Ele também mostra sagacidade ao perceber o relacionamento que Adam e Emma têm – não que fosse preciso de muita para percebê-lo. Porém, seu comportamento maduro e racional transforma suas afirmações posteriores, um verdadeiro ataque ao playboy vivido por Kutcher, em declarações superficiais, que não competem com sua personalidade. (Um trecho que somente se justificaria se ele desse uma caricatural risada diabólica ao final e desse um tapinha nas costas de Adam, quando percebêssemos que tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto.)



Embora ele surja como potencial rival de Adam, Sam simplesmente some a partir da áspera conversa com o rapaz, o que torna ainda mais descabida a discussão. Sua reaparição, então, torna-se trágica, quando é irozinada no final do longa pelos rótulos de submisso (ao relacionar-se com a encalhada e desinteressante Shira) e bissexual (ao dar uma escapada com Guy - cover de Bear, o adversário de dança de Stifler em American Pie: O Casamento vivido por Eric Allen Kramer), contradizendo tudo o que havíamos projetado sobre aquele homem.


Mesmo melhorando um pouco ao final do 2° ato, quando Adam parece mais amadurecido e disposto a conhecer um novo amor, Sexo Sem Compromisso jamais envolve o espectador, já que conta com raras piadas legais (a da menstruação é uma delas, se não a única) e os protagonistas não encontram nenhum grande empecilho para sua futura união. 


Sem outros pretendentes ou qualquer outro obstáculo plausível, nem mesmo o forte gênio de Emma, desenvolvido pela boa atuação de Natalie Portman (belíssima!), é capaz de convencer-nos do insucesso do casal. E justifico esta afirmativa com a seguinte tese: se Adam abre-se (ironicamente, claro; ele é idiota, mas nem tanto) através de frases exparsas como “eu gosto disso (não me recordo o quê, exatamente), eu odeio guerras”, Emma pergunta “você realmente quer isso?” e propõe que iniciem a tal relação casual baseada em sexo, como nos convenceremos de que este casal não possa ficar junto após algum tempo de convivência? Pergunte a Elizabeth Meriwether, pois seu roteiro, incompreensível, transformou uma personagem que se autoproclama dura e impassível de amar em uma mulher com um grande coração de manteiga.


Nota: 4.5





Um comentário:

  1. É um filme fraco, mas diante das minhas (baixas) expectativas, eu gostei!

    []s

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