Uma mistura de fábula gótica e conto de fadas. A história do cientista que constrói um humano e morre antes de poder completá-lo. Deixou-o com tesouras no lugar das mãos. Ele passa então a viver sozinho no ermo castelo localizado numa colina próxima a uma cidadezinha, até que uma vendedora da avon vem lhe tirar da solidão. Ela o leva para a cidade e lá ele vira uma espécie de celebridade. Usando-se da destreza que possui em controlar as tesouras que tem no lugar da mãos, vira rapidamente um requisitado cabeleireiro, um escultor, pois cria formas belíssimas ao podar as plantas. Ele desperta o ciúme do namorado da bela Kim (Wynona Ryder) e acaba tirando-lhe a vida acidentalmente (já caíra em desgraça, ao não ceder aos desejos de uma das mulheres.
Dita a história, façamos o comentário. Plasticamente o filme é impecável. Tim Burton consegue criar ambientes oníricos com uma facilidade ímpar. O elenco é formidável. O figurino está irrepreensível. Apesar disso o resultado deixa a desejar. Um dos problemas que capto a primeira vista é a falta de aprofundamento dos temas propostos. Se ele queria discutir o deslocamento do ser frente ao mundo, a dificuldade de ser diferente e ao mesmo tempo tecer uma crítica contra a frivolidade da sociedade fracassou inteiramente. Poderíamos afirmar, sem medo de errar que lhe faltou um toque de Capra (no auge de sua forma). Se Capra tivesse possibilidade de trabalhar a idéia de Burton, teria ido por onde Burton não ousou ou não quis. Contraporia o herói, faria alguns dos personagens da cidade enxergarem a sua pequenez e ressaltaria a oposição entre a pureza e o maculado. Infelizmente Burton não é Capra e o resultado é morno, frouxo mesmo. Alguns dirão que é preciso ser sensível para mergulhar na história. Concordo plenamente, que Burton se torne mais sensível ( ou mesmo sentimental). Criou um perfeito cenário, mas deixou que sua criação permanecesse distanciada do local. Que Burton merece ser levado a sério não resta dúvida. Isso ele provou com “Ed Wood” disparado a sua melhor criação. Talvez por que ali lidou com a realidade, ainda que a tenha visto sob as lentes de um ser sem talento. Mas mostrou extrema ternura com esses seres a margem da sociedade. Faltou em “Edward mãos de tesoura”, esse aprofundar nos personagens, olhá-los de fora para dentro, ao invés de ficar na superfície. Que Burton não tenha medo de se banhar nas profundezas do que ousa criar. Assim ele e nós seremos felizes.
Nota: 5.0
Um belo e sensível filme de Tim Burton, valorizado pelos papéis de Depp e Winona Ryder, além de ser o último trabalho no cinema do grande Vincent Price.
ResponderExcluirAbraço
Primeira vez que alguém diz que o filme é frio, distante, simplesmente uma bela embalagem sem conteúdo nenhum.
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