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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009)


Alguns artistas parecem viver num mundo encantado, longe do piso da realidade, onde extraem a inspiração necessária para suas criações, bem como o combustível necessário a imaginação. Esse é o caso de Terry Gilliam, um cineasta que se desapega constantemente da verossimilhança em nome da construção de obras fantásticas, absurdas e inventivas. Surpreende então que um diretor com tal personalidade tenha desacreditado tanto em sua criatividade como revela seu último filme, o problemático O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (The Imaginarium of Doctor Parnassus, 2009) que, mesmo prejudicado pela morte precoce de um de seus atores protagonistas, conseguiu de todo modo sabotar o potencial de sua interessante premissa.

E o fato é que, diferente do que ocorreu em Os Irmãos Grimm (The Brothers Grimm, 2005) , esta nova tentativa de Gilliam possui fôlego o suficiente para sobreviver por muito tempo, mas, na tentativa desesperada de reestruturar o roteiro após o falecimento de Heath Ledger, o diretor acabou por bagunçar de vez a história que tinha em mãos. É como se ele houvesse picotado cada sua trama e jogado para o alto, apostando cegamente que os fragmentos fossem eventualmente se unir e oferecer a sua fábula a conclusão que ele gostaria. O resultado dessa investida é, naturalmente, um filme que, em sua reta final, não sabe mais para onde ir, que caminhos tomar e, mais ainda, como terminar sua trajetória.

Isso mesmo. O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus é praticamente um filme abrupto, que trilhou os caminhos mais fáceis (leia-se: os mais óbvios) para sua conclusão e, com isso, estilhaçou todo aquele espelho mágico que Gilliam tanto custou em nos fazer crer durante praticamente toda a narrativa. Junto com tais oportunidades desperdiçadas, foi embora também o mal aproveitado desempenho de Andrew Garfield (de longe o personagem mais carismático da história), o encanto proposto pelo mundo imaginário do título e, por último e mais importante, o legado final de Ledger no cinema.

Nos momentos finais da narrativa, Gilliam passa a desenvolvê-la como se procurasse somente escapar daquela tarefa o mais depressa possível, como se a tragédia que acontecera durante as filmagens da produção houvesse drenado completamente seu entusiasmo em contar aquela história. Muito embora a morte de Heath Ledger não fora o único catalisador do processo de desmoronamento do filme (e nem o principal), uma vez que muito antes de tal episódio, a trama já mostrava certa dificuldade (apesar de menos evidente que em seu desfecho) de balancear suas mil e uma ideias com a capacidade do material em compilá-las. Parecia muita invenção para pouca história. A sensação deixada é que O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus funciona principalmente como prova absoluta que Terry Gilliam necessita reavaliar sua condição de artista e contador de histórias, para desse modo compreender a diferença fundamental entre uma boa ideia na cabeça e a transposição desta no papel. Que este filme lhe sirva de lição.

Nota: 4.5

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