Encontre seu filme!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento (2000)


Erin Brockovich é um filme bem picareta, feito numa época super apropriada para os envolvidos no projeto e que conseguiu superar suas próprias expectativas. Não dá para entender se isso é necessariamente bom ou ruim, mas uma coisa é certa: mesmo tendo um porte pequeno, será sempre lembrado por ter sido o responsável em dar o Oscar para uma das atrizes mais poderosas e queridas da história do cinema.

Geralmente quando um ator arrecada rios de dinheiro para os estúdios, Hollywood resolve recompensá-los com um Oscar na primeira oportunidade que aparecer. Sim, geralmente aqueles que fizeram sua fama na base de comédias infames têm uma oportunidade única na vida em fazer um drama não lá muito maduro, servindo assim como desculpa para Hollywood alardear a situação e premiá-los com um desmerecido Oscar, como aconteceu no caso de Sandra Bullock com "Um Sonho Possível" (The Blind Side, 2009). Ao que tudo indicava aconteceria o mesmo com Julia Roberts, a atriz mais lucrativa e querida pelo público da década de 1990, que estava agora arriscando-se no terreno do drama, ainda que um pouco tímida. Mas esse, felizmente, não foi o caso. Julia é uma atriz comercial sim, mas durante toda sua carreira só pegou papéis densos e intensos, mesmo no terreno das comédias românticas, sempre provando que tinha talento para filmes maiores. Quando a oportunidade surgiu com Erin Brockovich muitos deduziram que aquilo era só uma estratégia da Academia para premiar Julia, já que supostamente dificilmente surgiria outro papel tão complexo na carreira dela.

No entanto, servindo de “cala a boca” para todos os céticos, Julia Roberts provou que mereceria o Oscar, entrando com finco e gana na pele de Erin, uma mulher real que teve sua vida transformada em filme por Steven Soderbergh. Mais do que isso, Julia provou o que poucas atrizes conseguiram provar: fama e talento podem sim andar de mãos dadas.


A premissa pode não ser lá muito interessante como filme, mas para qualquer atriz seria um deleite interpretar Erin: uma mulher forte, de caráter, trabalhadora, desbocada, corajosa e que ao mesmo tempo consegue esbanjar feminilidade e sensualidade. Erin é um tipo de mulher difícil de encontrar no cinema americano, simplesmente por ter um espírito indomável digno das mulheres sofredoras do Terceiro Mundo, que precisam sustentar vários filhos enquanto tentam conseguir um espaço de respeito em seus empregos indignos. No caso deste filme em questão, a personagem central é mãe solteira de três filhos, que vai trabalhar numa firma de advocacia, onde acaba descobrindo informações comprometedoras de uma poderosa firma que contamina a água de um vilarejo com produtos cancerígenos. A partir de então, ela terá de arranjar tempo e energias para crescer no emprego com sua investigação perigosa, cuidar de três filhos e ainda dar continuidade a um relacionamento com um cara bem legal que surge em sua vida justo nesse momento.

É válido lembrar que esse filme tem um porte bem pequeno, com um orçamento que não ultrapassou os 50 milhões. No entanto, seu time de profissionais era bem afiado e muitíssimo bem cotado na época. Soderbergh já tinha ganhado respeito da Academia e do público cult com seus projetos independentes e inovadores, arriscando-se agora com essa produção, uma mistura de filme independente com certo apelo comercial. Julia Roberts iniciava-se no novo milênio com a carreira em alta, arrecadando bilheterias gigantescas com suas comédias românticas adoráveis e agora parecia mais determinada a provar um amadurecimento cênico. Ela sabia que estava naquela idade crítica em que todo ator precisa logo provar seu talento antes da idade chegar e Hollywood chutá-lo precocemente. Albert Finney e Aaron Eckhart também participam com papéis bem significantes na trama, aumentando assim o nível de aproveitamento geral da produção. Resumindo, o roteiro não era grande o suficiente para sustentar tanta gente poderosa. Mas querendo ou não, todos ali conseguiram tirar o máximo do enredo, principalmente Soderbergh e Julia.

Como eu já mencionei, Julia se dedicou demais ao papel, merecendo todos os prêmios que arrecadou através dele. Tímida e acostumada a papéis de boa moça, ela não pegava um papel tão forte e desinibido desde “Uma Linda Mulher” (Pretty Woman, 1990). Ao ler o script, ela soube que ali estava sua grande chance de provar que não era apenas um rostinho bonito que desapareceria com o tempo. Sendo assim, fez amizade com a real Erin Brockovich e aprendeu todos seus trejeitos, além de entender com exclusividade todas as emoções vividas por aquela mulher. Essa convivência, além de sua própria iniciativa em dar 100% de si, fez com que Julia deixasse de lado seu brilho de estrela para encarar com seriedade um papel desafiador e recompensador. O resultado foi uma personagem extremamente bem quista, que deita e rola no filme e que em momento algum decepciona, elevando em altíssimo grau o valor cênico da produção.

Sim, a intenção inicial dessa produção era bem picareta, ao colocar uma atriz de peso numa produção independente. No entanto, tudo deu mais do que certo. Se hoje o filme não é visto como um grande marco cinematográfico, pelo menos será eternamente lembrado pela atuação visceral e espetacular de uma das atrizes mais completas a passar por Hollywood.

Nota: 7.5



Nenhum comentário:

Postar um comentário