Isso acontece com a maioria dos antigos super heróis e Batman não é exceção. Do visual e história primitivos, elaborados por Robert (Bob) Kane (24/10/1915 - 03/11/1998) em maio de 1939, resta pouca coisa. Basicamente o que temos hoje do morcego é algo que foi surgindo nas décadas após a criação do personagem, mantendo a espinha dorsal da história e os personagens.
Durante a década de 1980, a Warner tentou levar Batman aos cinemas, em grande parte devido ao sucesso de outra adaptação dos quadrinhos, Superman. Já em 1983 havia um primeiro roteiro finalizado, o qual trazia, além da origem de Batman e Coringa, o personagem Dick Greyson, o Robin. O projeto ficou circulando no estúdio por algum tempo sem sair do papel. Reescrito umas nove vezes o roteiro tinha um tom sombrio, fato que ia de encontro às pretensões da Warner que queria um filme mais próximo ao leve e fanfarrão seriado anos 60, que tinha Adam West no papel do morcego.
Nesse meio tempo, a graphic novel escrita por Frank Miller (27/01/1957), O Cavaleiro das Trevas, foi lançada em 1986 fazendo um enorme sucesso e redirecionando as idéias dos produtores da Warner, que passaram a pensar em um filme mais sério.
A concretização da produção começou com a contratação do diretor Tim Burton, que não era tão conhecido na época, tendo feito apenas duas comédias de humor negro de sucesso relativo. Burton mostrava predileção por filmes com visual sombrio, gótico e com toques macabros mas sem dispensar o humor. Após cogitar outros atores o papel de Bruce Wayne ficou com Michael Keaton (contra a vontade de muitos fãs) e o Coringa ficou com o consagrado Jack Nicholson.
O filme finalmente começou a tomar forma em outubro de 1988 e, com a greve dos roteiristas em andamento o pessoal da Warner retirou qualquer menção ao Robin no roteiro de Sam Hamm, que não podia fazer nada. Com diretor e elenco definidos o filme foi finalizado para estrear no verão americano de 1989. Iniciou-se então uma intensa campanha de marketing. Vários meses antes do lançamento, o símbolo do Homem-Morcego poderia ser visto em muitos lugares; isso despertou o interesse até mesmo de pessoas que não faziam idéia do lançamento do filme.
Sendo o longa mais aguardado do ano, finalmente em 23/06/1989 “Batman” ganhou 2,194 salas americanas, arrecadando já no primeiro final de semana, a quantia de US$ 40,489,746. O filme saiu de cartaz nos EUA em 14/12/1989 e em 175 dias de exibição somou US$ 251,188,924. O custo de US$ 35 milhões foi bem compensado pelo bilheteria mundial de US$ 411,349,924.
Mesmo com as reclamações dos fãs sobre o fato do Coringa ser o responsável pela morte dos pais do Bruce Wayne (o que não acontece nos quadrinhos), o filme foi um sucesso de bilheteria e de crítica, quebrando recordes na sua época e deixando o estúdio satisfeito. “Batman” possuía o que muitos estavam esperando: um herói atormentado e cheio de utilidades para combater o crime, dispensando o menino prodígio e coisas como “bat-escudo” ou um “bat-repelente de tubarões”(!!!!). Outro peça que chamou a atenção foi o Batmóvel bem estiloso, porém pouco funcional.
Apesar do protesto dos fãs, deve-se admitir que Michael Keaton segurou bem a responsabilidade de fazer Bruce Wayne/Batman, mesmo não tendo uma boa estatura. No entanto, o Coringa de Jack Nicholson literalmente roubou o filme (em parte pelo destaque dado pelo diretor). O Coringa tem mais tempo na tela, protagoniza boas cenas e os melhores diálogos. Pode-se dizer que o personagem é o elemento Burton do filme. Já prevendo o sucesso da produção, Nicholson recusou salário, preferindo porcentagem nas bilheterias e se deu bem. Ficou com cerca de US$ 60 milhões pelo filme e se tornou o ator mais bem pago por um único trabalho em todos os tempos.
O restante do elenco (à exceção da modelo Jerry Hall) também se sai bem. Kim Basinger faz uma ótima Vicki Vale, Michael Gough foi uma ótima escolha para fazer o mordomo Alfred. Jack Palance mostra talento como Carl Grissom. E a participação de Billy Dee Williams como Harvey Dent junto ao final épico com a silhueta do Batman e o bat-sinal iluminando os céus da noite gélida de Gotham mostram que Tim Burton foi uma escolha interessante e que Batman é um personagem com profundidade.
O sucesso de “Batman” é justificável. Mesmo que não tenha inteiramente todos os elementos que Tim Burton vinha trabalhando até então, o visual do filme tem tudo a ver com o diretor: gótico, tons escuros e visual sombrio. (Repare no visual do museu e da catedral de Gothan, claramente inspirada na Notre Dame de Paris).
A direção de arte do inglês, falecido em 24/11/1991, Anton Furst (vencedora do Oscar na única indicação do filme), com seu caos arquitetônico e ruas esfumaçadas é de uma qualidade impecável, principalmente pelo fato de não contar com nenhuma ajuda de computação.
Como foi dito no início, adaptar os quadrinhos não é tarefa fácil, e o roteiro deste “Batman” é simples e eficiente. Em termos gerais, a primeira metade focaliza o aparecimento do herói (com direito a uma lenda urbana no início do filme) e do seu adversário e os coloca em combate na segunda metade. O designer Bob Ringwood criou um uniforme para o herói que na verdade é uma armadura à prova de balas, o que também dificultou os movimentos do herói que tem que virar o corpo junto com a cabeça.
A trilha sonora de Danny Elfman, parceiro do diretor, funciona muito bem e as três canções de Prince inseridas no filme não atrapalham e dão um ótimo tom (principalmente quando usadas pelo vilão).
O saldo deste primeiro "Batman" é altamente positivo. O filme deu um novo rumo ao personagem, mais agradando que desagradando aos fãs. O sucesso junto ao público e à crítica foi bem merecido. Jack Nicholson foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia. "Batman" também foi indicado em seis categorias no BAFTA: Melhor Ator Coadjuvante (Jack Nicholson), Melhor Figurino (Bob Ringwood), Melhor Maquiagem (Paul Engelen e Nick Dudman), Melhor Direção de Arte (Anton Furst), Melhor Som (Don Sharpe, Tony Dawe e Bill Rowe) e Melhores Efeitos Especiais (Derek Meddings e John Evans).
Nota: 8.5
Nota: 8.5
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