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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sem Reservas (2007)


Particularmente, nunca fui um grande admirador do gênero comédia romântica. Não, não é nenhuma questão de machismo (já que dizem que são filmes apenas para mulheres), nem pelo fato de o gênero estar saturado hoje em dia. Simplesmente, nunca me convenceu esta história de “felizes para sempre”, por mais ficcionista que seja a trama. Ou talvez o problema esteja em mim, mas o fato é que este sempre foi o gênero menos chamativo para mim.

Mas o bom de ser cinéfilo é atestar as surpresas que o cinema consegue reservar. Mesmo para um gênero que já não parece ter mais fôlego (e aqui não me refiro as bilheterias, já que estes ainda rendem bastante), algumas boas novidades surgem vez ou outra, provando o fato de que, quando se quer, é possível fazer algo de qualidade com ingredientes batidos.

A chefe Kate Armstrong (Catherine Zeta-Jones) vive a sua vida com a mesma intensidade com que gera a cozinha de um sofisticado restaurante de Manhattan. Mas a sua natureza perfeccionista é duplamente posta à prova quando é obrigada a ficar com Zoe (Abigail Breslin), a sua sobrinha de 9 anos, e com a chegada de um novo chefe para a sua equipa. Nick (Aaron Eckhart) não podia ser mais diferente de Kate, e no entanto a química entre os dois é notória. A rivalidade transforma-se em romance, mas Kate terá de aprender a exprimir-se fora da cozinha se quiser encontrar a felicidade.


O roteiro de Carol Fuchs busca um diferencial em relação aos seus “irmãos”, apostando em um tom mais dramático do que o normal. Esta opção é mais que bem-vinda, uma vez que graças ao bom trabalho da roteirista, nos vemos diante de personagens sensíveis, pessoas reais e que enfrentam problemas reais, tão comuns no dia-a-dia. Claro, os clichês se mostram presentes, mas o tratamento dado aos personagens impede que estes se tornem apenas meros fantoches do roteiro, ignorando o uso de situações constrangedoras e de um clima fantasioso, permitindo que a trama se torne mais enxuta e possua maior fluidez.

Inclusive, Fuchs procura se afastar de alguns exageros, permitindo que o espectador sinta, por si só, os dramas dos personagens. A morte da mãe de Zoe, por exemplo, é um dos principais motes do filme, afinal, é por causa deste acontecimento que a menina é obrigada a conviver com sua tia. Entretanto, a tristeza que tanto a menina quanto sua tia sentem em relação ao fato se resume a poucas cenas, mas que possuem êxito em transmitir a dor que as duas estão sentindo. A roteirista entende que o objetivo não é ficar dramatizando, mas desenvolver a relação entre tia e sobrinha, de forma que o público possa sentir que, apesar das diferenças, elas podem se entender entre si.

Outra acerto notável é que este não é o tipo de filme onde “mulher solitária busca uma companhia masculina para trazer sentido para sua vida”.Kate, é claro, necessita da companhia de Nick, não apenas para suprir seus instintos amorosos, mas buscando um apoio, um alicerce em que possa depositar sua confiança, mas por outro lado, se mostra uma pessoa cheia de preocupações, especialmente no trabalho, que lhe impede de ter uma vida mais social. É interessante notar como esta parte da vida de Kate se reflete com a nossa realidade, onde os dias são corridos, puxados, e nosso tempo livre se torna cada vez mais curto. É quando, de uma hora para outra, Kate se vê diante de uma responsabilidade que jamais imaginou em possuir. No fundo, é uma personagem complexa, e capaz de gerar identificação com o espectador.


Da mesma forma, Zoe é obrigada a se enxergar no meio de uma realidade completamente diferente da que havia se acostumado. Além da falta que sua mãe lhe faz, Zoe se vê diante de uma parente que não conhece bem, que para ela, é uma estranha, mas que também se vê obrigada a conviver da forma mais harmoniosa possível, por mais difícil que isto seja. Aos nove anos, a menina é posta diante desafios emocionalmente difíceis, como deixar a inocência de lado para enfrentar uma das dores mais difíceis que um ser humano pode ser submetido, que é enfrentar a morte. O filme deixa claro que, apesar da ausência materna, Zoe faz o possível para levar sua vida adiante, mesmo que as lembranças ainda permaneçam em sua mente.

Já Nick surge como o típico sujeito boa praça, simpático, amoroso, mas que na verdade, serve como o apoio para manter estas duas personagens na realidade, já que ele representa a esperança de voltar a ter uma vida normal, tendo alguém ao seu lado em que você possa confiar. E apesar da paixão de Nick por Kate ser feita de forma clichê, é interessante notar sua proximidade com Zoe, assumindo o papel de figura paterna, já que a garota nunca chegou a conhecer o pai.

O diretor Scott Hicks (de Shine – Brilhante) se mostra ao feliz ao conduzir a história de forma light, trabalhando bem os personagens e contando a história sem maiores frescuras. Entretanto, Hicks possui outras falhas, como a química mal trabalhada entre Zeta-Jones e Eckhart. A coisa funciona muito melhor se torcermos separadamente por cada um, já que como casal, os atores não trazem harmonia suficiente para cativar. Mas as boas atuações da dupla, especialmente Eckhart, são boas o suficiente para nos fazer torcer pelo final feliz. Já Abigail Breslin não precisa fazer muito esforço, já que ao lado de Dakota Fanning, é umadas atrizes mais competentes da atualidade, exibindo grande naturalidade em cena.

Para quem procura um programa despretensioso, Sem Reservas pode ser um tanto decepcionante, já que trabalha com situações mais complexas e pesadas do que o gênero mostra, habitualmente. E ainda que minha antipatia pelo gênero continue sendo grande, não posso negar que este é ótimo cinema, apresentando qualidades bastante relevantes, que o tornam uma ótima pedida, não apenas para um final de semana, mas para qualquer momento em que você queira refletir sobre a vida.

Nota: 7.0






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