Levando para aspecto pessoal da situação, confesso estar cansado de filmes como Um Dia (One Day, 2011), que já nascem com suas propostas muito bem delimitadas, tocando apenas no terreno do sentimentalismo ordinário ou do entretenimento picareta. Cabendo nessas características produções como Um Amor Para Recordar (A Walk to Remember, 2002) e adaptações dos romances de Nicholas Sparks para o cinema. Em comum essas obras possuem uma atmosfera de conto de fadas dramático, assim como uma ambientação contemporânea – ou mesmo que atravessa o tempo para chegar aos dias atuais. E nessa consonância de elementos digna dos maiores melodramas, eles sempre traçam uma linha narrativa que, apesar de sabemos muito bem onde pretende chegar, ambicionam incondicionalmente o impacto emocional tanto em suas personagens quanto em seu espectador.
E ainda sim consegue me intrigar. Não pela “surpresa” que visa com a reviravolta, mas com a capacidade que têm de jamais superar vícios antigos, conseguindo inacreditavelmente se embriagar de repetições que por sua vez já são repetições de fórmulas antigas – quase primitivas na pratica de incitar a comoção. O caso é que, na prática, essas ideias já surgem demolidas pela previsibilidade de suas investidas, pelas ambições frágeis de simplesmente comover por meio da apelação. Em Um Dia pouco ajuda a fragmentação da trama, que, mesmo cabendo seu desenvolvimento episódico dentro da proposta, não consegue construir vínculos entre o casal protagonista e a plateia que assiste os encontros e desencontros de suas vidas profissionais e amorosas. Scherfig conduz seu filme sem muita preocupação, ciente de que os artifícios que se valerá para transmitir seu recado (que até agora me pergunto qual seria esse...) são relativamente efetivos em função do argumento medíocre – se o texto não funciona, que se apele unicamente para a imagem, não é?
Não sei foi a abordagem da diretora ou mesmo se o material original escrito por David Nicholls (que assina o roteiro inclusive, tomando para si boa porcentagem do fracasso) fora o culpado, mas é possível enxergar na obra uma latente inverossimilhança na concepção das ideias e dos personagens. Incrível notar que tanto Emma quanto Dexter jamais parecem envelhecer, mesmo passados anos e mais anos, o dia 15 de julho os revela em um estado sempre intocável – e nesse ponto não sei se o equívoco pertence à maquiagem ou ao universo encantado que concedem para a produção. Tudo é excessivamente ameno, quase fora da realidade normal, como se, no conceito da cineasta, a novela devesse por obrigação ser transposta para as telas com aquele tom enjoativamente açucarado, ainda que as situações miseráveis (que vão de uma doença grave entre um dos personagens até a decadência pessoal do protagonista) pretendam justo contradizer essa lógica.
Tenta transpirar, de modo frustrante, uma tonalidade poética, uma serenidade que se pretende lírica através da união entre as ferramentas artísticas e textuais. São intenções fadadas à miséria, já que não se mostra nem sequer capazes de esconder sua cartilha de execução. Um Dia é um filme inacreditavelmente oportunista, que se vale desse filão de melodramas contemporâneos para contar uma história que todos já sabem como se desenvolverá e terminará – o que não deixa de ser, repito, curioso quando percebemos que inexiste a possibilidade de se desligar de velhos costumes. Falta, sobretudo, sutileza na transmissão de seu discurso, assim como bom senso por parte da diretora ao estender desnecessariamente seu desfecho com o propósito de explicitar, didatizar e esclarecer a mensagem – como se não tivessem ficado suficientemente claras suas ambições desde os créditos iniciais. Não sei bem o que eu esperava ao assistir um filme como esse, talvez coesão, amadurecimento na linguagem ou até mesmo a beleza de uma história bem contada; e, como conclusão, tive todos os meus pensamentos e expectativas caindo por terra.
Nota: 4.0
Definiu bem o filme: picaretagem, rs. E de surpresa nem vi nada, achei uma cópia vomitada do final de Cidade dos Anjos só, rs.
ResponderExcluirAbs!
Poderia se chamar "Um Vômito".
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