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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Contágio (2011)



Poucas coisas são tão frustrantes quanto o desperdício de algo promissor – ou melhor, irritantes. Não que as propostas de Contágio (Contagion, 2011) pudessem resultar em algo além do comum, até se postas nas mãos de um diretor mais talentoso não alçariam voos maiores caso a abordagem narrativa fosse a mesma. Mas esse não é o ponto onde quero chegar. Dentro dos discursos de Steven Soderbegh reside um elenco poderoso, nomes que se sujeitaram a participar de um filme cuja chamada mensagem anti-paranoia se mostra inacreditavelmente duvidosa, além, claro, de ser vendido como um projeto comercial inteligente, com objetivos muito bem delimitados de entreter e conscientizar as massas sobre tópicos contemporâneos. E todo esse chamariz adicionado ao rótulo não passa disso: um simples chamariz.

De que ainda distribuir ideias sem um pingo de adesão? Pois bem, cabe a Contágio uma infinidade de plots mal desenvolvidos e desnecessários em sua diferença dentro da narrativa, dentro deles, obviamente, atores se valendo de participações discutíveis, dentro de personagens que só estão ali para construírem mais arcos dramáticos inúteis como se a disseminação do vírus e suas implicâncias globais não fosse tema suficiente para toda uma projeção. Em estrutura, o filme muito se assemelha a Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008), de Fernando Meirelles, com toda a sequência de ações que vão desde a misteriosa descoberta da doença ao modo como os infectados e os imunes encaram a nova realidade a partir do caos – resultado de um provável descaso governamental. A diferença básica entre ambos se dá pelo modo com o qual visam transmitir suas respectivas mensagens: enquanto a “cegueira branca” se apresentava como metáfora para a problemática do cotidiano (onde em subtextos eram discutidos assuntos como o racismo, misoginia...), a misteriosa patologia aqui é tratada de forma extremamente direta, sem abranger demais propriedades.

Esse é o maior dos problemas em Contágio, em Soderbergh não conseguir refinamento em um discurso que já nascera dúbio, em tudo ser dito, explicado e narrado da maneira mais direta e didática possível, sem sutileza ou o mínimo de coesão. Para serem difundidas as idiossincrasias de Soderbergh a respeito de uma possível contaminação mundial (cuja hipótese vem sendo estudada desde as consequências trazidas pela transmissão do vírus H1N1) são trazidos a tona as subdivisões sociais que serão – e como serão – afetadas caso isso venha a ocorrer. Da família que certamente perderá sua estrutura – como mostrado na trama de Matt Damon – até os órgãos do governo que gastarão fortunas para encontrar uma vacina salvadora. São ideias dispostas ao vento, entregues e submersas em uma narrativa que, mesmo que não perca seu ritmo, nunca encontra um ponto certo a que se fixar.

Somente por capricho se dá essa distribuição de plots paralelos, visto que as múltiplas histórias jamais se encontram realmente, são unicamente válidas como dispositivo para Soderbergh contar-nos alguma coisa de pouca utilidade. Por mais que insista em se mostrar atual e conectado às discussões mundiais, nada nos apresenta de verdadeiramente construtivo no que toca um ponto de vista acerca de algo tão sério, tornando suas propostas em ferramentas para construir algo de pretensões alarmantes, ainda que sem substancia suficiente para justificá-la. É um filme que, diante de seu argumento, se almeja mais reflexivo e inteligente que as produções comerciais medíocres lançadas Hollywood a fora, mal sabendo que, a julgar por todos os seus extensos problemas conceituais e estruturais, não está num patamar diferente que qualquer um deles.

Nota: 5.0



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