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sábado, 17 de março de 2012

Pink Flamingos (1972)


De fato, "Pink Flamingos" não é um filme para qualquer um, acho que isso é óbvio. O modo como ele foi feito (todo tosco, com diversos erros de câmera, continuação, corte, edição e roteiro) imprime um realismo diferente do que estamos acostumados a ver no cinema: ao invés de entrarmos na ficção proposta pelo filme, muitas vezes somos levados a pensar que os atos bizarros gravados na obra aconteceram de fato, por falta de recursos que pudessem camuflar ou disfarçar tais atos - o que nos aponta, invariavelmente, que John Waters não teve qualquer preocupação técnica de propósito. Saber que o que acontece no filme (não tudo, logicamente) aconteceu de verdade nos sets só aumenta o nojo das cenas.

Que "Pink Flamingos" funciona como ícone de uma contra-cultura que surgia ao final dos anos 60, com o movimento hippie e a pop art de Andy Warhol (aliás, esse filme lembra muito a estética dos filmes do famoso artista plástico, só que bem mais satírico), nós sabemos. Mas a obra também trabalha como crítica de uma sociedade falida. Por vezes somos questionados acerca do papel de instituições como a polícia e a imprensa, sem falar da validade de práticas como a inseminação artificial e a busca por objetivos inúteis e corrompidos, como ser a "pessoa mais sórdida do mundo" (aqui um exagero, mas quantas metas tão estúpidas quanto essa não são vistas todos os dias?). John Waters reinventou a vilania através do vilão que sente orgulho de ser mal, mas que não desperta a antipatia do público.

Aliás, a antipatia inexiste. O filme todo é percorrido com uma mão despreocupada, relaxada, com foco em personagens extremamente caricatos e invariavelmente carismáticos. Como não adorar as figuras de "Divine", "Edie" e até da antagonista "Connie Marble"? Envolvido pelas auras dessas pessoas, o espectador não se repele ante todo o nojo mostrado na tela, mas, sim, se sente impelido a continuar assistindo para se ver novamente surpreendido.

Talvez nunca saibamos se Divine é a pessoa mais sórdida do mundo, mas é possível dizer que "Pink Flamingos" é o filme mais sórdido de todos. Deliberadamente tosco e ousado, John Waters esperava chocar o público. Só não esperava despertar tanta simpatia com a criação de um mundo digno de repulsa.

Nota: 9.0



Um comentário:

  1. Nunca assisti a este filme. Me parece ser uma obra bastante diferente e fiquei curiosa para conferir.

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