"Todos esses momentos vão se perder no tempo como lágrimas na chuva"
Roy Batty (Rutger Hauer)
Após ter feito o excelente Alien, O Oitavo Passageiro, Ridley Scott dirigiu mais uma ficção científica, desta vez baseada em um romance de Philip K. Dick, porém o que era já pra sair uma obra-prima acabou tendo dedo não-autoral dos produtores metido no meio e acabou se colocando uma narração em off desnecessária devido a "complexidade" do tema, com o tempo foram percebidos as sutilezas do diretor em volta da obra, mesmo com seus defeitos, e cresceu como um clássico cult, tanto entre cinéfilos como os fãs de sci-fi, ganhando até mesmo um valor histórico não só pelo tema como pela visão profética - superpopulação e poluição - , como pela direção de arte e sua fotografia que reforça ainda mais a claustrofobia de uma cidade sufocada por uma chuva sem fim, sendo um elemento importante para uma das frases mais célebres e emblemáticos do cinema, pelo replicante Roy Batty.
Em 1992, saiu a versão do diretor cuja edição foi a aprovada por Ridley na época de lançamento, porém é considerada apressada pelo cineasta, até que em 2007, sai a versão final do diretor, cuja versão será a que falarei e não irei compará-la com as outras versões pois não as assisti. Bem, admito que na primeira vez que assisti não me impressionei muito com o filme já que era muito jovem e não saquei as sutilezas, mas me impressionei com o design de produção, a construção de uma Los Angeles decadente cujos letreiros de neon a maioria é escrita em japonês, mostrando um mundo dominado pelo mercado asiático. Além de ser um exemplar do neo-noir, já que têm várias características do gênero (o detetive, a femme fatale e uma melancolia presente em becos e sarjetas de uma grande cidade.
A história mostra Deckard, um ex-integrante dos blade runners, um batalhão criado para "aposentar" replicantes (andróides semelhantes a um ser humano), chamado de volta para caçar três deles que fugiram de uma colônia espacial, e acaba conhecendo Rachael, uma bela moça que logo se descobre ser uma replicante, porém com memórias implantadas de outra pessoa, usada como experimento para poder ser colocado em outros deles para controlar seus problemas emocionais causados pela curtíssima vida útil deles, 4 anos.
Ridley Scott constrói lindamente um futuro totalmente distópico, sem Sol, sem azul e sem verde, apenas escuridão e as únicas luzes são os neons e chamas das fábricas que ironicamente escurecem ainda mais o nosso céu, e o roteiro cheio de sutilezas e diálogos marcantes como "É horrível ter uma coceira e não poder coçá-la" ou "a estrela que brilha com o dobro da intensidade, brilha metade do tempo", construindo através disso uma profunda reflexão sobre a nossa existência, onde todos os personagens de algum modo são infelizes com o que são, principalmente que a cada minuto que passa, os replicantes ficam cada vez mais humanos que nós mesmos, e sobre a nossa realidade, mostrando que os únicos inconformados com a situação que vivem são os replicantes, enquanto as pessoas normais se acomodam em uma vida precária na Terra, bastante enfatizada pelo dirigível que faz propaganda de uma vida melhor nas colônias espaciais (uma crítica certeira ao capitalismo e ao "sonho americano"), mesmo em cenas internas. A direção e o roteiro funcionam de forma conjunta para dar vida a uma obra bastante simbólica.
A direção de arte é extremamente rica, uma mistura do futurista com o passado, seja na arquitetura ou nos aparelhos que tem um toque de algo ultrapassado, simplesmente genial, sendo até hoje uma das coisas que ainda se destaca neste clássico, ou a fotografia, onde os personagens são envoltos por uma escuridão apenas iluminados pelas luzes de neon que entram nas frestas das cortinas venezianas, criando um visual sombrio e até mesmo sufocante.
O elenco é um ponto forte do filme, com destaque para Rutger Hauer, o personagem mais interessante e tridimensional da história, além de contar com a ótima presença de Harrison Ford como Deckard, e o enigmático olhar de Rachael (Sean Young) e a bela Daryl Hannah como Pris. Todos eles possuem uma complexidade psicológica feita de uma forma incrível, e com um roteiro desses, era necessário atores competentes envolvidos no projeto.
Tudo o que eu tinha para falar de Blade Runner - O Caçador de Andróides é pouco para definir esta obra-prima, um filme atemporal e profeticamente sombrio que fala de andróides humanos e humanos cada vez mais desumanos, desconstruindo todo um conceito de futuro, através de uma leitura filosófica inspirado pela geração cyberpunk de escritores de ficção-científica, tais como o próprio Philip K. Dick, autor da obra "Do Androids Dream of Electric Sheep?" que originou o filme. E diferente das últimas palavras de Roy Batty, este filme jamais será esquecido no tempo como lágrimas na chuva.
Nota: 10,0
Nota: 10,0
É um belo filme que foi um fracasso na época do lançamento. Apenas três ou quatro depois quando o mercado de VHS explodiu e o filme foi lançado em vídeo, ele se tornou cult, chegando a voltar aos cinemas por volta de 1986, ainda na versão original de 1982.
ResponderExcluirAbraço
Vi este, uma três vezes. Acredite, agora, após ler teu texto ,talvez, veja de novo. Um belo filme. Valeu, irmão...
ResponderExcluirNota 10 sem dúvida! é um dos mais fantásticos filmes que eu conheço. Rutger Hauer virou um dos meus ídolos a partir desse filme - interpretação inesquecível!
ResponderExcluirApesar da Versão do Diretor, gosto muito da narrativa em off, utilizando uma característica típica de filme noir... Vi no cinema quando passou por aqui e me apaixonei!
Parabéns pelo texto!