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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005)

C.S.Lewis destacou-se muito durante a 2a Guerra Mundial ao ensinar valores cristãos de forma simples em tempos difíceis como aqueles. Entre seus vários livros escritos destacou-se uma série infantil chamada "As Crônicas de Nárnia", iniciada com o "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa". Após algumas adaptações para rádio e televisão entre as décadas de 60 e 90, incluindo uma versão da BBC que fez grande sucesso na Grã-Bretanha, a Disney resolveu difundir a obra nas telonas. Infelizmente, este foi um começo muito, muito fraco para uma série de tão boa reputação: esta versão da Disney quase que mata a verdadeira magia da terra de Nárnia, deixando um resultado satisfatório apenas para o público infantil.


O filme mostra a aventura dos quatro irmãos Pevensie que, após refugiarem-se em uma mansão de campo do Prof. Kirke para escapar dos conflitos da 2a Guerra em Londres, descobrem uma terra encantada chamada Nárnia. Este lugar, que outrora fora feliz e próspero, é agora governado por uma tirana conhecida como a Feiticeira Branca. Os irmãos, que descobrem fazer parte de uma importante profecia, se unem aos narnianos e à Aslam, o deus-leão de Nárnia, para derrotar a Feiticeira e pôr fim ao seu longo reinado.


O roteiro do filme segue à risca a premissa do livro de Lewis: é uma versão fiel, com poucas mudanças e até com os diálogos idênticos ao do livro em muitas partes do livro. Entretando, como acontece na maioria das adaptações desse gênero, o roteiro pôs tudo a perder pela precariedade com que explora a magia por trás de Nárnia, deixando tudo superficial. Esse erro é gritante em quase todo o filme: a história de Nárnia e da profecia dos Pevensie é narrada de forma atropelada, muito rapidamente. O mais gritante é que, apesar de todo o perigo que Nárnia corre nas mãos da execrável Feiticeira, tudo parece estar indo de vento em popa. O filme não deixa transparecer esta ameaça, fazendo a Feiticeira parecer uma vilã de segunda categoria (o que ela não é).


Outro pecado do roteiro, e esse é o mais nítido, é a péssima forma com que ele explora seus personagens, tanto pelo péssimo transcorrer da história quanto às atuações abaixo do nível. Os quatro Pevensie, por exemplo, que são os personagens principais da série, apresentam uma performance totalmente amadora, com ações previsíveis e personalidades clichês. A única, de fato, que se salva entre o quarteto é a caçula Lúcia Pevensie (Georgie Henley). Por falar nela, resumirei os únicos personagens cuja atuação salva o filme;


A mencionada Georgie Henley traz uma atuação boa, embora não excepcional. Ela encarna muito bem a inocência e pureza características da personagem Lúcia, mesmo com algumas sequências e que sua atuação também é superficial. Agora, a redenção do filme, literalmente, vem sob o personagem Aslam. Originalmente criado por Lewis como a representação narniana d Jesus Cristo, o grande leão, além da voz poderosa, na versão original, por Liam Neeson, é extremamente bem construído no filme: feito 100% por técnicas de computação, tanto sua representação digital quanto sua atuação marcam o filme. Ele realmente possui imponência e, mesmo sendo gentil e afetuoso, o espectador sabe que ele é um ser com o qual "não se pode brincar". Como o próprio filme cita, "não é um leão domesticado".


Para terminar o quesito das atuações, uma decepção: a consagrada Tilda Swinton cai na superficialidade do roteiro e acaba fazendo uma vilã pouco convincente. Ao contrário de Aslam, ela não impõe medo nem possui qualquer imponência no filme. Isso é algo chocante visto a experiência da atriz, consagrada com um Oscar por "Conduta de Risco".




Mas as falhas, infelizmente, não se limitam ao roteiro: a parte técnica, por incrível que pareça, possui defeitos imperdoáveis. O mais nítido é a péssima utilização dos efeitos especiais, que são nada mais do que falsos. Os gráficos do filme, apesar de retratarem muito bem os animais, falham em todo o resto: na cena da batalha final, por exemplo, em que o exército da Feiticeira de agrupa, é possível notar os contornos negros em volta de cada "soldado", indicando que todos foram postos ali por efeitos digitais mal realizados. Isso é algo surpreendente (de tão ruim) para uma produção que custou em volta de 180 milhões de dólares.


A trilha sonora funciona muito bem se analisada em partes: as músicas são realmente belas. Entretanto, o conjunto não ficou muito bom devido à edição do filme. Muitas músicas eram atropeladas, encaixadas fora de ordem ou, às vezes, não correspondiam em nada à cena que retratavam (colocar uma música alegre em cena triste, por exemplo). Mesmo assim, detalhes dessa natureza já são muito miúdos, sendo que a maioria dos espectadores pode deixar passar.


A direção, como era de se esperar, foi a grande responsável por esses erros, principalmente na condução do roteiro. Ela ficou a cargo de Andrew Adamson, que conduziu com maestria as animações "Shrek" e "Shrek 2". Entretanto, ele revela-se completamente inexperiente para uma produção dessa reputação e com atores de carne e osso. A direção, de fato, foi originalmente oferecida à Guillermo del Toro que, infelizmente, recusou-a para fazer o belíssimo "O Labirinto do Fauno".


Mesmo com todos esses problemas, "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" salva-se principalmente pelo fato de ser um filme essencialmente infantil. Para esse público específico, todos esses defeitos passarão em branco em favor das belas cenas do filme (e ele possui muitas, com gravações feitas na Nova Zelândia) e dos animais falantes (um grande atrativo para elas). Nessa ótica, o filme cumpre satisfatoriamente seu papel: entreter as crianças, e só. Foi por isso que o filme fez tanto sucesso nas bilheterias, com mais de 740 milhões de dólares arrecadados. Porém, dessa maneira, dificilmente "As Crônicas de Nárnia" conquistarão algum outro tipo de público, além de decepcionar profundamente os fãs "mais crescidos" dos livros de Lewis.


Por fim, "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" acaba sendo um péssimo primeiro passo para a série, na visão dos adultos e dos fãs. Entretanto, sem dúvida será uma experiência agradável para as crianças. Na visão delas, aliás, até que o filme não é de todo ruim. Mas a série possui muito, muito mesmo o que amadurecer, e é esse o desejo, e o recado, de todos os espectadores que querem conhecer a verdadeira magia de Nárnia. Torçamos por essa mais nova franquia da Disney, portanto.


NOTA: 5/10

Um comentário:

  1. Tradicional decepção do filme com o livro, não? Não assisti e nem li algo relacionado a Crônicas de Nárnia, mas pelo o que pude ler, mais uma vez o filme deixou a impressão de pressa, de término rápido da fita e assim acabou contando mal a história e deixando seus personagens rasos. Uma pena!

    Abraços!

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