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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Lolita (1962)


Não devo negar que a minha sensação ao terminar de ver Lolita (idem, 1962) foi de frustração, não pelo filme ser ruim, mas pelo que eu esperava da obra. Ora, a história é deveras polêmica, ainda mais considerando a época em que foi filmada (e escrita, também). O diretor, na minha opinião, um gênio do cinema que sabia como ninguém chocar e impressionar o expectador, então, Lolita tinha tudo para ser mais uma obra-prima do nível de Kubrick, mas não atingiu esse patamar e se tornou apenas mais um filme normal que mistura cenas muito boas com passagens chatas e não inspiradas, além de ser irregular e passar por algumas situações rápido demais.

A história, baseada no livro homônimo de Vladimir Nabokov que também escreveu o roteiro, gira em torno de um professor erudito chamado Humbert Humbert (James Mason) que viaja para os Estados Unidos com o intuito de dar aulas de literatura francesa numa universidade. Lá, ele aluga um quarto para morar na casa de uma mulher viúva e carente chamada Charlotte Haze (Shelley Winters) que se apaixona por Humbert, e sua filha, Lolita (Sue Lyon), uma menina encantadora de dezesseis anos, por quem o professor se apaixona. Para ficar perto de Lolita, ele se casa com Charlotte que é uma das situações que o filme passa rápido demais.

Sem dúvida é uma história com notável força, ainda mais por levantar questões que na sua época eram tabus, e ainda são, como a pedofilia e o desejo humano, e outras como o crescimento e amadurecimento. E Kubrick trata de todas essas questões com competência propiciando discussões mais palpáveis que as de 2001 (idem, 1968) e de uma forma mais sutil que em Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971). Sutil até demais, para mim.

Kubrick teve inúmeros problemas com este filme: dizem que o roteiro de Nabokov foi quase que completamente reescrito pelo diretor, o que não agradou ao escritor russo; a idade de Lolita também teve que ser alterada e todas as cenas de sexo foram proibidas pelo estúdio. Restariam poucas formas de ilustrar a consumação do caso de Lolita e Humbert, a utilizada foi deixar tudo subentendido em alguns diálogos e cenas, o que parece não ter sido suficiente, haja vista as atuações principais não foram fortes o suficiente para tanta sutileza. Sue Lyon e James Mason não pareciam estar a vontade em cena, ela faz de seu personagem uma menina irritante que não passa toda a sensualidade que seu papel precisaria (dá vontade de rir quando ela masca seu chiclete “sensualmente”), e ele faz do professor um personagem arrastado sempre com a mesma expressão no rosto e desprovido de charme.

Tais atuações ficam ainda mais apagadas frente às de Shelley Winters que interpreta a mãe de Lolita e de Peter Sellers interpretando o roteirista hollywoodiano Clare Quilty que tem um papel importantíssimo no filme, fazendo, inclusive outros personagens (tal qual em sua outra parceria com Kubrick, Dr. Fantástico – Dr. Strangelove..., 1964). Ele capta toda a sutileza da obra e o mistério da sua participação, e ainda, consegue levar um pouco de humor em um filme que trata de assuntos sérios.


Apesar da seriedade do que a obra trata e de ter uma aura de suspense de filme noir, há certa leveza em como é tratado. Como já foi dito, Sellers confere um pouco dessa característica, além disso, parece que o roteiro filtrou um pouco a perversão do personagem de Humbert, este não se apresenta inteiramente como o amante de Lolita (e desejoso por meninas bem mais novas), mas há momentos em que ele se comporta como seu pai ciumento e inquieto. Na verdade, se é missão do expectador imaginar o que, de fato, aconteceu entre ambos, muitos acharão que não houve nada, e aí, o que sobra é pouco: alguns bons momentos, uma linda trilha sonora e Peter Sellers.

Depois de Spartacus (idem, 1960), Kubrick queria ter total controle sobre seus filmes. Em Lolita, entretanto, isso não aconteceu. Todas as restrições do estúdio prejudicaram o resultado final do filme, mas não se sabe o que aconteceria se o diretor tivesse a liberdade que queria, especialmente neste caso. Talvez, por isso ele não tenha pesado a mão na direção, pouco se sente do Kubrick aqui, neste que é um trabalho com pouco peso, surpreendentemente.


7/10

Um comentário:

  1. Li o livro, mas, ainda, não vi o filme. A suas impressões são bem pertinentes. Valeu pela dica.

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