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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Palhaço (2011)

Que o cinema nacional ainda está engatinhando para conseguir uma indústria cinematográfica decente, todo mundo já sabe, mas nos últimos tempos, o resultado tem aparecido, Tropa de Elite 2 se firma como a maior bilheteria no Brasil, filmes de gênero como O Homem do Futuro e 2 Coelhos têm ganhado espaço no nosso cinema e o épico histórico Xingu chegou aos cinemas, além da biografia de um ícone esquecido do futebol Heleno, mas em 2011, um dos indivíduos mais representantes do nosso cinema Selton Mello, que já dirigira Feliz Natal, traz ao cinema aquele que talvez já seja um marco no nosso cinema: O Palhaço.

Selton Mello coloca nas telas um filme cujo humor se assemelha mais aos tipos de personagens que ele fizera como Chicó do clássico nacional O Auto da Compadecida. De um humor inocente e leve, ele conduz a história com uma profundidade pouco vista no nosso cinema no que se refere à comédia; e talvez por isso não possa ser classificado como apenas comédia, mas com toques de drama.

A sinopse é simples, Benjamin (Selton Mello) que é mais conhecido como o palhaço Pangaré faz parte de uma trupe liderada por seu pai Valdemar (Paulo José), o também palhaço Puro-Sangue e ambos são parceiros no palco, mas distantes no dia-a-dia. O drama começa quando ele acha que perdeu a graça, e inicia uma crise de identidade e parte em busca de suas verdadeiras motivações e sonhos.

Se o roteiro garante bons diálogos e bons momentos, a direção garante uma delicadeza na história toda, mesmo em momentos de humor, as piadas tem uma total sutileza sem serem irônicas ou sarcásticas, e sem palavrão, o que de certo modo, é raro encontrar isso no cinema, até mesmo em Hollywood em que a comédia adulta achou seu espaço depois de "Se Beber, Não Case!", Selton resgata aquela comédia em que o mundo há muito tempo não sabe fazer mais (pelo excesso de informações do mundo de hoje que nos tornou mais maliciosos), e isso fica mais evidente na cena em que Benjamin ri das piadas do assistente do hotel onde ele se hospeda interpretado brevemente por Jorge Loredo, o eterno Zé Bonitinho.

O elenco é um dos pontos fortes do filme, além de contar com os veteranos Paulo José e Selton Mello nos papéis principais, ainda se tem participações ótimas de Jackson Antunes, Tonico Pereira, Emílio Orciollo Neto, Moacyr Franco (numa cena antológica como delegado Justo), Fabiana Karla, Ferrugem, Danton Mello e o já citado Jorge Loredo, e o elenco que forma a trupe também é muito boa, contando com todo o tipo de personalidade essencial para um circo, destaque para a bela Giselle Motta como Lola e a pequena Larissa Manoela como Guilhermina, em que ambas personagens são um símbolo das mudanças que ocorrem da auto-descoberta em que não só Benjamin sai à procura, mas como o restante dos personagens.

A trilha-sonora é muito boa, variando entre antigas músicas bregas como Tudo Passará de Nelson Ned como a música feita exclusivamente para o filme composta por Plínio Profeta, destaque para os momentos da apresentação circense, ainda mais quando entra Lola em cena, em uma música que mistura música popular brasileira com elementos ciganos, e contribui para tornar tudo mais belo junto com a fotografia que nos garante uma valorização da paisagem rural composta por cidades pequenas e estradas de terra por onde a trupe viaja, e para o plano-sequência no final do filme, belíssimo!

Selton Mello se destaca como ator e como cineasta nesta bela história de auto-descoberta com um humor inocente, e aposta em algo mais sutil, com pequenos gestos e poucas palavras, preferindo arrancar mais um sorriso de cada expectador do que uma gargalhada, pois o gato bebe leite, o rato come queijo, e cada um faz o que sabe fazer... bem, O Palhaço te faz rir, e se puder te fazer refletir também!

Nota: 9,5


Um comentário:

  1. É de uma beleza assombrosa. Parabéns pelo texto. Selton arrasa, aqui. Um abraço...

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