NOVO. adj.
Que existe há pouco tempo; acabado de fazer. Moço, de pouca idade. Que é dito, tratado, visto pela primeira vez. S.m. O que é
recente: o velho e o novo se confrontam. Fonte: Dicionário Aurélio
O que podemos encarar como novidade num mundo
onde as coisas parecem repetir um moto perpétuo e cíclico que sempre parecem
nos levar sempre ao mesmo lugar? Neste Dia das
Crianças, resolvi rever um dos maiores clássicos para crianças e adultos da
história do Cinema que há muito não assistia. Queria, quem sabe, resgatar em
mim as sensações primeiras de me encantar de novo como se fosse a primeira vez
com uma história que já conhecia de cor e salteado.
Mesmo sendo mais conhecida que Titanic,
vamos ao enredo de ET (idem, 1982, Steven Spielberg): depois de uma visita ao
planeta Terra, extraterrestres de um planeta distante, ao se sentirem ameaçados
por investigadores que chegam na floresta onde aterrissaram, terminam por
esquecer um de seus conterrâneos. O estranho ser arruma abrigo na casa de um
menino, Eliiot, que vive em um lar que atravessa a turbulência da separação dos
pais, junto com seus dois irmãos, Gertie e Michael. Depois de um tempo com o ET
escondido em casa, os tais investigadores começam a investigar a casa e
encontram o alienígena doente, assim como o pequeno Eliiot, já que ambos
possuem uma estranha e delicada conexão.
Dito assim, parece mais uma daquelas
benditas ‘sessões da tarde’ que repetem ad
infinitum o mesmo mote do longa de Spielberg, mas, mesmo quase 30 anos
depois de sua estréia, é incrível perceber a genialidade do trabalho da
roteirista Melissa Mathison e do diretor. As imagens dispostas e os diálogos
nunca são óbvios, mas servem diretamente ao enredo sem mastigar excessivamente
os conflitos ou situações propostas. São numerosos os exemplos: desde o fato de
nunca mostrar explicitamente os investigadores ou o que, de fato, estão
fazendo; passando pela maneira de expor a separação dos pais de Eliiot ou o
modo de conectar ele com o extraterrestre de forma sutil; a maneira de dispor
na narrativa o plano que os três executam no Halloween para permitir que ET se
comunique com seus pais na floresta, dentre outros exemplos que conseguem
tornar a história sempre com elementos novos a serem descobertos.
Além disso, temos um elenco muito
competente que, reunido, constroem personalidades completas para seus
personagens: desde a pequena Drew Barrymore, que conquista pela sua singeleza e
simplicidade, passando por Dee Wallace e Peter Coyote, que compõem um painel
sensível do mundo adulto que ainda se permitem cativar pelos sonhos do universo
pueril; chegando a Henry Thomas, que vive intensamente seu Elliot e o conduz
para dentro dos nossos corações, indo mais fundo do que qualquer Macaulay
Culkin ou gêmeas Olsen jamais foram. Para completar, a fotografia, a montagem e
a trilha sonora ao mesmo tempo majestosa e delicada John Williams ainda nos
expandem e nos elevam para aquele imaginário grandioso e ingênuo.
Aquele encontro entre dois seres que
se sentem diminuídos diante de um mundo adulto e sisudo sempre se renova por
que parece sempre se fortalecer quando o vemos novamente. Assistir e reassistir
este filme torna-o ainda mais novo tanto para quem o viu criança quanto para
quem o vê quando adulto, ao contrário de tantos outros que cansam desde a
primeira vez que os vimos. Como conter as lágrimas quando ouvi a frase “I’ll be
right here” ao som da sinfonia de imagens e sons promovida por Spielberg? Este
é um dos mistérios da arte de um verdadeiro mestre.
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