Há um consenso que o Cinema, enquanto arte visual, não possui limites definidos. Em campos metafóricos, a criatividade de um artista é o principal meio para dilatar seus horizontes, ir além de terrenos que já explorados e passos já estabelecidos. Depois disso se torna opção do cineasta dar vida às “intenções” da obra, se sua ambição é fincar-se somente na base do entretenimento, ou construir um veículo que alcance grandes projeções, seja por um possível engajamento político-social ou pela difusão de um tema que caiba aos espectadores, individual e socialmente falando. E A Serbian Film - Terror Sem Limites carrega essas pretensões, eventualmente esbanjadas nos recursos gráficos que projeta em tela, ilustrações essas que, segundo defensores do projeto, não são de nenhuma gratuidade ou apelo vazio.
Naturalmente dirão que esse filme é “um tapa na cara dos puritanos” e do convencionalismo do mercado cinematográfico; com isso, é de interesse do projeto explorar os territórios mais extremos do ato sexual, da violência e do sadismo, unidos para tecer a trajetória de ex-ator pornô que, após muito tempo afastado de seu trabalho, recebe uma proposta tentadora de um visionário diretor, uma promessa que ajudará financeiramente sua família. No meio disso tudo há a dita “crítica social”, bem como um pretenso conflito proposto entre os limites da arte/criatividade e até onde ela pode atingir a vida (definido pela figura do lunático cineasta). Durante 4/4 do filme somos apresentados a um cenário que visa mesclar as sensações da platéia: da repulsa à revolta; do nojo a indiferença. O problema maior é que se passa o tempo e não vemos justificativas para aquilo (e elas nunca chegam, provavelmente por nunca ter havido alguma), de modo que a imagem que se estabelece ali passa a ser tão significativa quanto o nada.
E essa seria a mais apropriada definição para a exibição de Serbian Film: o vácuo. Seja qual for a meta de seu criador ela se perdeu antes mesmo do filme ganhar uma forma. As imagens que vão da brutalidade do sexo à tortura física surgem com um propósito muito bem delimitado: o de chocar. Apenas isso. O fiapo de história e todos os departamentos existentes para a confecção de uma película estão lá somente para que aquilo tudo seja reconhecido como cinema. Dessa forma, assistir a Um Filme Sérvio é o mesmo que procurar na internet algum vídeo de assassinato, tortura, ou qualquer barbárie dessa espécie - irá provocar uma reação adversa (dependendo da pessoa, claro), mas será completamente efêmera, do mesmo modo que o próprio vídeo (e o filme).
A Serbian Film falha em todos os quesitos possíveis de avaliação de um filme: da narrativa ao desempenho dos atores; da manutenção estética à construção atmosférica (no que tange um mistério por trás daquilo tudo). No fim, o impacto causado pela extremidade das imagens do longa se dissolve, evapora durante um piscar de olhos, deixando simplesmente a lamentação de minutos perdidos com uma apelação ordinária dispersa ao léu, crente de que está transcendendo os limites (e o subtítulo nacional deixa até bem clara essa pretensão) de uma arte e, com isso, cuspindo na cara do moralismo, quando na verdade se revela um grande vazio revestido em celulóide. Chamar isso aqui de cinema é até exagero.
Nota: 0.0
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