Encontre seu filme!

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Último Mestre do Ar (2010)



Antes de tudo, vamos colocar os pingos nos “is”, certo? Somos todos humanos, e, de modo óbvio, eu não fujo deste conceito. Quando alguém ataca de qualquer forma algo que você gosta muito, o que você faz? Se alguém chegasse até você e dissesse “sua mãe é uma péssima pessoa”, por exemplo, e você a achasse a melhor pessoa do mundo, o que você faria? No mínimo, retrucaria e tentaria argumentar a situação. Mas se essa mesma pessoa tivesse dito “sua mãe não vale nada; ela é uma *qualquer adjetivo de baixo calão*”, sua reação seria bastante diferente. Foi desta maneira que eu me senti durante toda a projeção de O Último Mestre do Ar. Como se algum herege estivesse difamando algo divino, o que não deixou de ser verdade.

O Último Mestre do Ar é o filme adaptado de um dos desenhos animados mais magníficos que existe (esqueçamDragon Ball), o Avatar: A Lenda de Aang. Ambos contam a história do personagem título (interpretado por Noah Ringer), que é uma entidade dominadora dos quatro elementos da natureza: Ar, Água, Terra e Fogo. O que difere ele dos outros humanos é, além da capacidade de dominar todos os elementos (os outros humanos dividem-se entre tribos dos respectivos elementos), ele pode conversar com os outros espíritos. Na nomenclatura humana, ele é o Avatar. Sua função é manter o equilíbrio entre as quatro tribos e “governar” com harmonia. Mas o último deles (o espírito troca de corpo cada vez que morre) sumiu há cem anos, e a nação do Fogo começou a dominar as outras tribos e matou todos os nômades do Ar, já que eles sabiam que o próximo Avatar viria daquela tribo, mas o menino já havia fugido, e estava preso dentro de uma geleira. Ele é resgatado por Katara (Nicola Peltz) e Sokka (Jackson Rathbone, o Jasper da saga Crepúsculo). É a partir que ele tem que assumir seu “cargo” e tentar trazer de volta a estabilidade no mundo. Em contra partida, o antagonismo ficou por conta de Zuko (Dev Patel, o Jamal de Quem Quer Ser Um Milionário?), filho do rei da nação do Fogo que foi expulso, e só retornará com o Avatar em mãos.


O filme foca na primeira parte do desenho, o Livro Um: Água (o que nos garante sequencias). Aqui, como o próprio livro já diz, mostra toda a tribo da Água, ou pelo menos, tenta mostrar. Sua história ficou completamente atropelada e sem nexo. Os laços familiares simplesmente foram deixados de lado, ou foram muito mal explorados, como o de Katara e sua avó, tão importante no desenho. Sei que não devo repetir as frases “no desenho era assim”, mas nada leva a um ponto aceitável, alguém se propor a adaptar algo, de sucesso ou não, e não manter uma básica linha de acontecimentos lógicos, principalmente porque aquele filme se dirigirá aos fãs do material adaptado.

A parte técnica ficou devendo muití[repita essa letra cem vezes]ssimo. Como já mencionaram, todo o cenário parecia mais uma alegoria de escola de samba. Os efeitos especiais não convencem e chegam a irritar (jogar milhões de jatos d’água e serpentes de fogo na tela não apagam toda a feiúra do resto). O roteiro ficou extremamente mal trabalhado, mastigado e cheio de furos, como um queixo suíço – se Aang não domina todos os elementos, por que eles se comportaram daquela forma no barco de Zuko? Os figurinos conseguem até ser taxados como aceitáveis, mas um estudo melhor, ou mesmo uma re-assistida no desenho poupar-nos-ia do vexame. A trilha-sonora é um clichê dos mais ruinzinhos possíveis. Todos os efeitos sonoros são cópias (você já os ouviu em algum filme por aí), e tentam inutilmente elevar a emoção do pobre sentado diante de toda aquela aberração e dar um tom “épico” para as cenas de lutas, que também não funcionam. Se vocês acham que está ruim, vai ficar pior.

A direção de M. Night Shyamalan, que também roteirizou o filme, é lamentável. Depois de ótimos filmes, como O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais, ver seu decline intelectual é lastimável. Parece que ele, numa noite tediosa, assistiu ao desenho e pensou “Ei, vou fazer um filme desse desenho”, e saiu escrevendo todas as partes boas e interessantes para juntar num amontoado de situações, e terminou como terminou: cheio de cenas que não se ligam e cortes abruptos e sem explicação (às vezes pensei que o DVD havia pulado, mas não, Shyamalan “pensou” no corte daquela forma). A escolha dos personagens foi outro ponto desastroso. Minha nossa, eles não assistiram ao desenho?! Eles não viram que o tio de Zuko, Iroh, era baixinho e gordo? Eles não viram que o Sokka é o alívio comigo de tudo (Rathbone é muito inexpressivo, e parecia ainda estar atuando como Jasper)? Mas para mim, o maior disparate foi a nação do Fogo. Por que Dev Patel foi escolhido para ser o Zuko?! O tipo físico dos dois, no desenho e filme, é totalmente diferente! A nação do fogo inteira parecia mais os figurantes de Quem Quer Ser Um Milionário?: um bando de indianos. Opa, o diretor é indiano, coincidência?

Mas nada se compara às atuações. Nada. Noah Ringer é completamente artificial. Todas suas falas foram recitadas, e todos seus gestos e expressões faciais milimetricamente juntadas, dando um ar de fantoche à atuação do menino. Patel mostra-se fraco e nem se compara a seu último trabalho, que venceu tantos Oscar. Ah, não adianta, todos os personagens estão dissimulados e moldados demais. Um horror! O único ponto que se salva (e que garantiram o meio ponto da nota) foi a fotografia: colorida e bonitinha. Só. O resto ofusca a beleza.

Dói-me, dói-me muito ver o desenho que eu amo sendo regurgitado nessa maneira. Há sim adaptações piores que esta, mas quando alguém toca de forma tão grotesca em algo que você gosta, torna-se pessoal. Ainda bem que não assisti em 3D – imagine ver tudo aquilo quase tocando você? Cruzes! Só posso caracterizar O Último Mestre do Ar da seguinte forma: muito mais feio que o outro Avatar. Sim, aquele azul...

Nota: 0,5


 

Um comentário: