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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tron - O Legado (2010)


A tecnologia é uma ferramenta, não um caminho

Deixei a sessão de "Tron - o Legado" com uma certeza: presenciei a execução de uma maravilhosa trilha sonora e de um ótimo design de som, só. No mais, Tron pode ser definido como um engodo produzido a partir de um tenebroso roteiro, que investe numa continuação de uma comentada vanguardista produção de 1984, que não assisti. O filme conta a inicialmente interessante história de Sam Flynn, o herdeiro da gigante empresa Encom e filho de Kevin Flynn, arquiteto e projetor de uma revolução cibernética, que sumiu misteriosamente há 20 anos. Sam recebe um chamado e desconfia que seu pai está tentando fazer contato de um universo virtual, para o qual ele viaja em busca de trazer seu genitor de volta á realidade, passando a ser perseguido pelo grande inimigo de seu pai por conta disso.

O primeiro problema é que "Tron - O Legado" é um filme que não se define. Não sabe se é uma diversão descerebrada criada para contar a estória de um jovem emergindo num mundo virtual desconhecido em busca de salvar o pai, se é um drama de um filho abandonado por seu pai, que sumiu há 20 anos sem dar notícias ou se é apenas uma aventura baseada na simples continuação do filme homônimo de 84...o longa se vende como um amontoado de referências a seu antecessor, a Star Wars e a alguns games eletrônicos. Tudo que vemos é muita ação sem sentido, uma vez que o filme depreza o intelecto de seu espectador, que é incapaz de mergulhar na história, considerando que o que vê na tela são saídas facéis para as tramas apresentadas e para desafios que deviam soar urgentes e interessantes, mas soam tediosos e banais. A inverossimilhança do desempenho do "usuário" em face aos "programas" que estão em Grande (o mundo virtual onde a maior parte da ação acontece) é gritante. A jornada do protagonista é desinteressante e confusa, escrita para desembocar num final que remete a edificação de um homem em busca da perfeição, didático e pedante ao extremo, como se percebe na última aparição de Kevin Flynn no longa. Em certos momentos, inclusive, cheguei a torcer contra o inexpressivo protagonista, só porque surgiu um excêntrico e divertido personagem chamado Zusie (construído de forma magnifica por Michael Sheen) no meio do caminho e eu desejei ver a sua perfomance afetada e radiante por mais tempo.


Falando em atuações, Jeff Bridges, ator que eu tinha curiosidade de conhecer o trabalho, sobretudo após a forte campanha até o Oscar por "Coração Louco", que ainda não vi, faz um trabalho esforçado, mas ainda assim bastante decepcionante. No fim do longa, conferi suas interpretações em dois personagens fracos demais para um intérprete com potencial (um deles, rejuvencido vários anos pelos efeitos especiais bacaninhas do filme). Seu filho, vivido pelo desconhecido Garret Hedlund, se mostra um ator mediano num papel mediano, onde têm diversas piadinhas soltas no péssimo roteiro e um arco-dramático nulo a percorrer, que inclui a resolução de paixonite surgida do nada, mal explicada e piegas, o resgate do pai desparecido e a tentativa de voltar para casa, após ficar preso num mundo virtual, sendo perseguido por um vilão lerdo (!). Nada inédito como se pode ver. Inclusive, confesso que passei a projeção inteira pensando no que Jamie Bell extrairia do papel se o tivesse em mãos, já que em termos de conflito interno, considerando a estranha relação com seu pai, haveria muito para explorar, mesmo que o roteiro encontre saídas facéis e a sabote qualquer idéia e abordagem mais elaborada a respeito dessa relação. Em termos de atuação dos principais, destaca-se Olivia Wilde, que além de linda, roubou a cena com sua Quorra. Devo oferecer também uma menção honrosa a participação do talentoso Cillian Murphy, definitvamente irreconhecivel, numa ponta curtíssima, logo no ínicio do filme.

Em termos de efeitos especiais, figurinos e maquiagem o filme é até interessante, mas a história não permite nenhuma conexão e organicidade no emprego deles. Percebe-se que há cenas que pretendem emocionar ou deixar o espectador tenso, mas o roteiro elaborado por vários roteiristas (o que normalmente gera um desastre) deixa a tecnologia empregada fria e distante. A direção também não é nada espetacular, o estreante Joseph Kosinski não consegue empolgar em nenhum momento em especial, com exceção dos créditos iniciais, uma pena que este não se repetiu de forma parecida. Pergunta-se então: o que salva o filme do desastre, afinal? Os sons. No final, sua harmonia com as cenas era tão grande, que esperei que o filme acabasse de uma forma elegante, num plano um pouco menos quadrado do que os outros, ao som de uma música agradável, mas, insistentemente, o diretor preferiu arrastar o filme e nos submeter a uma torturante cena final.

Provando que Cinema é feito de um conjunto bem escrito, montado e dirigido, o design de som e a trilha sonora (que descobri ser assinada pelo maravilhoso conjunto Draft Punk) são os únicos que ainda dão alguma expressividade a Tron, que se fosse mudo, seria completamente descartável.

Nota: 3,0



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