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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Rede Social (2010)



"Grandes poderes trazem grandes responsabilidades"

David Fincher volta para trás das câmeras após o inexpressivo e formulaico "Curioso Caso de Benjamin Button" a fim de retratar os desdobramentos da complexa e intrigante criação da rede social mais famosa do mundo: O Facebook. Atualmente, o website conta com mais de 500 milhões de usuários espalhados pelo mundo inteiro e vale mais de 40 bilhões de doláres. Os números já são expressivos, mas não bastasse o sucesso da página virtual, o feito alcançado por seu criador enseja ainda mais curiosidade. Mark Zuckerberg é o bilionário mais jovem do mundo. Pergunta-se: Em tempos atuais, existe roteiro mais atraente do que este?

Roteirizado brilhantemente por Aaron Sorkin, a partir da obra de Ben Mezrich, "The Social Network" mergulha no mundo nerd, do raciocionio matemático, da linguagem da computação, mas sem distanciar o grande público da sua trama central relacionada, sobretudo, a uma intensa rede de intrigas em que está envolvido o famoso fundador do site, estudante da Universidade de Harvard na época. "The Social Network" revela as tendências da atual conjuntura do mundo virtual em estabelecer heróis e derrubá-los com facilidade e também desnuda o corporativismo e a ganância que um dia tomaram conta dos grandes estúdios de Hollywood e que hoje estão disseminados neste grande negócio que é internet.


Já em sua cena inicial, percebe-se os primeiros acertos no tom da narrativa. Os diálogos entre o jovem Mark (Jesse Eisenberg) e sua namorada Erica (Rooney Mara), travados numa mesa de um bar, são proferidos numa velocidade incomum, fazendo com que o espectador mergulhe de imediato na atmosfera diferenciada do filme, marcado do ínicio ao fim por frases impactantes e diálogos rápidos, compostos por falas certeiras, construídas com os dois pés numa racionalidade quase matemática. Ainda que esta escolha resulte num conjunto destituído de cenas especialmente marcantes, não há prejuízos notavéis no resultado final.

A figura central da história é o complexo Mark que revela uma inquietude constante seja em frente ao computador ou avançando pelos corredores de Harvard, sempre em busca de alcançar reconhecimento entre os fechados círculos sociais da universidade. Desenvolvendo sua paixão por computação e programação que é tão importante para ele que chega a ser capaz de moldar toda a sua personalidade, Mark torna a internet o lugar onde expõe todas as suas frustrações e onde converte sua genialidade em tentativas de realizar alpinismo social. Paradoxalmente, o jovem Mark que ao mesmo tempo que tem grandes "insights" para gerar páginas de interatividade online não consegue ter uma conversa calma e tranquila com a sua namorada, revela-se uma pessoa que vive como num jogo de video-game e o jeito franzino de Jesse Einsenberg combinado com seu maxilar marcado faz a expressão de Mark parecer, de fato, a de um personagem de game, avançando de fases e golpeando duramente e a todo tempo as pessoas em sua volta, que vão desde sua ex-namorada, até os que o acusam de apropriação intelectual de uma rudimentar idéia semelhante a sua, perpassando também pelo conselho de segurança virtual de Harvard e pelo seu melhor amigo. O personagem carente de atenção é um prato cheio para Jesse Eisenberg que, até então, havia feito filmes como o apenas divertido "Zumbilância", mas que encarna aqui, com bastante talento, um personagem rico em dramaticidade, tridimensional, sempre enterrado em seu moleton, mantendo sempre os ombros baixos e lançando um olhar que, mesmo focado em algo, parece estar procesando diversas informações a um só tempo. Trata-se de um sujeito impulsivo e ciente do seu notável conhecimento sobre computadores, sem uma especial ambição por dinheiro, mas sim por um reconhecimento entre os populares de Harvard. Mark, que na vida real revelou-se um filantrópo, fazendo grandes doações de sua fortuna)acaba se tornando aviltante e carismático, ao mesmo tempo, dada as acertadas, errôneas e, ás vezes, impetuosas escolhas que observamos durante a projeção.

Junto de Jesse, temos Andrew Garfield, um ator simpático e carismático que encarna o brasileiro (!), co-fundador do Facebook e melhor amigo de Mark, Eduardo Saverin. Dono de um talento que pode ser conferido no inconstante "Boy A", Andrew empresta novamente seu carisma a um personagem-chave para o desenrolar da trama, seu papel torna ainda mais complexa a figura de Mark dentro da história. Os rumos do "Facebook" acabam por exigir dos dois decisões sérias e que deixam o espectador em dúvida sobre quem apoiar, levando o longa a um patamar acima da média. Junto dele, cita-se Armie Hammer que interpreta os populares gêmeos esportistas Tyler e Cameron Winklevoss com muita propriedade, usando diferentes tons de voz para diferenciá-los e assim tornando-os figuras tridimensionais e tangentes. O elenco conta também com a participação de Justin Timberlake, que havia se saído relativamente bem em participações em filmes menores como "Entre o Céu e o Inferno" e "AlphaDog" e que neste filme dá corpo a um personagem canastrão e escroto, muito semelhante ao tipo que o cantor encarna em seus clipes. Parece bem a vontade.


Engraçado pensar que o personagem Sean Parker (Timberlake) surge como um herói esquecido que há um tempo ajudara a construir um programa de downloads gratuitos que foi capaz de destruir o ideal de uma indústria fonográfica arcaica que ainda mantinha como fonte de lucro a venda de albúns fisicos. Hoje, em tempos não tão distantes daquela revolução, já temos uma outra indústria, totalmente reestruturada e modernizada, que se reinventou e já é dona de outra forma de comportamento perante o público. O feito de Sean Parker teve consequências marcantes, mas uma vez que não perduraram, perderam a fama e a notoriedade. No fundo, Mark e todos a sua volta querem para si é a longevidade dessa notoriedade, para que possam estar com as mulheres que nunca deram atenção a eles e estar a frente dos seus iguais. É com essa premissa que o filme remonta toda a competitividade por ser alguém no mundo virtual e para assim alcançar uma posição social respeitável no mundo real. Não é a toa que, em dado momento da história, constata-se que os jovens de Harvard já não querem um emprego convencional, mas sim querem criar algo que se torne um emprego, parece-lhes o caminho mais lucrativo e desafiador ao mesmo tempo. Esse ideal de mentes dotadas de genialidade remonta, inclusive, ao pequeno "Mentes que brilham", estréia de Jodie Foster na direção, em que jovens superdotados, com conhecimentos sobre física e matemática sucedem uns aos outros a todo tempo, numa lógica capitalista e gananciosa por descobrir crianças de maior grau de inteligência e invencionismo.

Enfim, percebe-se em "A Rede Social" que a internet, como sinônimo de interatividade, não mais como sinônimo de isolamento, onde os tipicos nerds do passado ficavam enfurnados, ainda tem muito para mostrar ao mundo. Hoje, programadores podem criar páginas virtuais como o Facebook e tornarem-se bem sucedidos quase que por uma tacada de sorte. O que o filme explica, porém, é que ao invés de tornar tudo mais fácil, é preciso firmeza de caratér, para evitar que os erros do percurso estraguem a história, pois uma vez evidenciados, podem afundar todo o empreendimento. Em um momento, inclusive, Mark é alertado com a seguinte frase: "Você não é um babaca, mas faz a maior força para parecer um", mas para o jovem Mark que é produto de uma geração que raciocina digitando e não raciocina profundamente sobre o que digita, a frase talvez não faça tanto sentido, como faz para o espectador atento.


Utilizando de várias sub-tramas envolvendo o Facebook e seu criador, adotando uma abordagem em três tempos que convergem sempre para a figura enigmática de Mark Zuckerberg e lançando mão de eficientes cortes e de uma montagem espetacular e elegante, Fincher nos faz acompanhar a história em três frentes: as duas audiências nas quais pretensões contra Mark são apresentadas e o processo criativo e de expansão do "Thefacebook". A escolha por essa estrutura é didática e também é conhecida pelo público, que já a conferiu em vários filmes sobre júri Hollywood a fora, mas, aqui, os cortes e a montagem dinâmica torna tudo mais real e visceral. Fincher atrás das câmeras faz um trabalho mais contido, sem tantos maneirismo ou exercicos estilisticos como em "Clube da Luta", "O Curioso Caso de Benjamin Button" ou "Zodíaco". Curiosamente, seu talento como diretor transparece bem mais. Um exemplo notável é o enquadramento que faz de uma conversa entre Mark e Sean para logo em seguida revelar os trajes despojados do jovem gênio dos computadores, desleixado com as roupas, mas incrivelmente capaz, adentrando intempestivamente um grande prédio comercial. O trabalho de Fincher pode ser comparado com o de uma mão invisivel que orquestra toda a trama, funcional em seu trabalho, porém escondida nos recônditos do roteiro, sendo este o que realmente se sobressai no contexto geral.

Por fim, nada poderia definir melhor "The Social Network" senão uma rede. Não há vilões e nem mocinhos, há apenas fios bastante intricados em nós firmes que não são facilmente desatados. Amizades, mentiras, dinheiro e intrigas em jogo no considerado moderno "Cidadão Kane" por parte da crítica. Naturalmente, conhecer por via de um trabalho tão eficiente a origem dos primeiros fios teados para fazer surgir uma rede que uniu uma geração inteira de internautas não poderia ser nada menos do que prazeroso.

Nota: 9.0


2 comentários:

  1. Realmente é um filme como voce citou sem vilões e mocinhos e sem dúvidas, é um longa extremamente atual com um roteiro dinâmico e inteligente. Achei muito bom, embora esperasse um pouco mais por tudo que andam falando a respeito.

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  2. Preciso ver o quanto antes, ansioso pra saber se é tão bom quanto a penca de prêmios que ele vem ganhando afirma.

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