É triste testemunhar o caminho que os filmes de terror vem tomando nos últimos anos. Este subgênero, que já rendeu obras-primas como o famoso O Exorcista e clássicos como A Profecia, a cada exemplar lançado, tem perdido seu fôlego e originalidade, culpa da preguiça de Hollywood em buscar algo original para apresentar ao público. Eles já não chocam mais, o que faz os realizadores buscarem na violência exarcebada e no alto clima de tensão sexual (já que os jovens são os principais consumidores deste tipo de filme) para chamar a atenção do público. Vez ou outra existem aqueles que conseguem utilizar estes recursos batidos ao seu favor, como Jogos Mortais e O Albergue.
Abismo do Medo possui muitas das características do cinema de terror atual: a presença de sangue e vísceras é quase uma constante no filme, o que já é uma prova do apelo do diretor Neil Marshall (Dog Soldiers – Cães de Caça). Mas o filme também apresenta algo que vem fazendo falta no gênero: a construção de um bom clima de tensão, que possa ser capaz de manter a atenção do espectador até o final, e o bom desenvolvimento dos personagens, para que possamos conseguir nos importar com o destino de quem está na tela.
Depois de um acidente que deixou Sarah traumatizada, ela e suas amigas se reúnem para sua aventura anual. Cada ano é escolhido algo arriscado, no qual eles devem vencer seus medos. A bola da vez era a exploração de uma caverna subterrânea. O que começa com uma bela exploração, acaba se tornando uma aventura que elas não esperavam. O que virou uma aventura se torna agora uma dos piores pesadelos das seis mulheres e a luta pela sobrevivência, encontrando o seu pior lado.
Um dos maiores méritos de Abismo do Medo é saber como jogar com as emoções do público. O roteiro, também escrito por Neil Marshall, possui a grande preocupação de apresentar personagens reais, que podem facilmente fazer com que o espectador se identifique, e chegando ao ponto de nos fazer perceber que poderíamos ser nós a estar naquela situação. O filme ganha muitos pontos por causa disso: foge dos estereótipos, cria personagens complexos, mas sem nunca insultar a inteligência de quem assiste. O bom desenvolvimento dos personagens também ajuda a nos fazer entender as ações de alguns, explorando o limite de cada pessoa dentro daquele local. Afinal, é nos momentos mais angustiantes, que o ser humano mostra quem realmente é.
Mas o filme cai quando percebemos que ele busca seu “marketing” no uso da violência exagerada e no continuo uso de cenas sangrentas para chocar o espectador. Não é uma violência sem sentido, mas tem-se a impressão de que, por vezes, ela surge em dosagem exagerada. É uma pena, já que o filme não precisava de tanto, e Marshall, apesar do trabalho excelente com o ambiente, poderia ter se concentrado bem mais no clima de claustrofobia do filme.
Claro, o roteiro também não é nenhuma maravilha. Apesar da boa vontade com os personagens (e vamos combinar: isso é algo importante), Marshall não consegue escapar dos furos no meio da trama, além de criar alguns diálogos risíveis.
Mas são empecilhos pequenos, diante do que o filme tem a apresentar como obra de terror. A fotografia é muito bem utilizada, ajudando na construção do clima, assim como a trilha sonora, que nunca busca se sobrepor, mas apenas se tornar uma aliada nos momentos certos. Tanto que a opção de não utilizar trilha em certos momentos é acertada, o que prova que ela surge somente nos momentos ideais.
Ao final, Abismo do Medo é um ótimo programa de terror. Não traz nenhuma grande novidade, e mesmo não tendo conseguido escapar de alguns velhos clichês, faz o melhor que pode com o que tem, e o resultado é altamente satisfatório.
Nota: 7.0
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