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sábado, 29 de janeiro de 2011

Cidade dos Sonhos (2001)


  1. O que dizer sobre Cidade dos Sonhos? - É adequado ressaltar que nada dito servirá como definição decisiva para esta obra de David Lynch. Este se encontra sujeito a inúmeras interpretações, eis que cada um como espectador terá o direito de constituir a sua
  2. O que dizer sobre David Lynch? - É crível que mesmo sendo alvo de divergências e críticas, Lynch consegue ser um dos cineastas mais particulares, de personalidade mais peculiar e atmosférica.

Mulholland Dr.

Ao longo de sua filmografia o diretor norte americano David Keith Lynch, ou simplesmente David Lynch conseguiu imprimir, a cada nova obra realizada, traços particulares de sua personalidade, e, em meio a esses projetos ele transporta o espectador aos recantos mais profundos de sua mente, sem flertar com a exatidão, apenas fazendo-nos testemunhas de seus devaneios.

Cidade dos Sonhos, assim como todos os trabalhos de Lynch é “ame-me ou deixe-me”, isso porque, os elementos e características que o diretor destilou em sua produção faz com que esta não agregue todos os espectadores, tornando-se restrita a um público mais específico. Trata-se, essencialmente, de uma ode de imagens e sons que a primeira vista não farão sentido aparente, mas que se tornam objetos de diversas sugestões e incontáveis hipóteses interpretativas. O filme conseguiu e conseguirá divergir opiniões por onde passar, sendo julgado negativamente e sendo também avidamente apreciado.

Feito originalmente como piloto de uma série de TV, Lynch almejou a Cidade dos Sonhos o mesmo sucesso e consagração que conseguiu sua renomada “Twin Peaks”, durante a década de 1990. De imediato, o projeto foi recusado pelas produtoras, e o argumento criado por Lynch ficou guardado até que o cineasta teve a oportunidade de apresentá-lo as telonas. Então, com alguns retoques e modificações, Cidade dos Sonhos estreou no início da década passada adquirindo um sucesso considerável, e logo passou a ser cultuado perante o público.

Assim como aos espectadores, Cidade dos Sonhos foi um divisor de águas diante da crítica. Uns consideravam este uma obra de arte criada por Lynch, outros por sua vez apontaram-no como uma farsa, uma artimanha de seu diretor para conquistar o público. Seja para o bem ou para o mal, o filme gerou calorosas discussões por onde passou, e conseqüentemente aumentou mais seu reconhecimento.

A trama se situa em Hollywood. Palco onde imperam a fama, a glória, mas também a inveja e o ódio. Lugar também onde iniciam-se os sonhos, e os anseios mais profundos dos seres humanos. Conta a historia da jovem Betty, uma moça que sonha em alcançar o estrelato tornando-se uma reconhecida atriz, para isso ela muda-se para o apartamento cedido por sua tia, para que inicie seus testes de elenco. Entretanto, lá se depara com uma misteriosa mulher que acaba por ir parar ocasionalmente neste apartamento, esta por sua vez perdeu a memória em decorrência a um acidente de carro, e nem se lembra do próprio nome, então adota para si o nome de Rita. Então, Betty passa a ajudar sua nova amiga a descobrir sua verdadeira identidade e mistérios de seu passado.



Os parágrafos abaixo contêm Spoillers, é aconselhável que não os leia caso ainda não tenha conferido o filme em questão.

Em sua primeira metade o filme mostra-se como uma investigação inocente de duas jovens em busca de respostas sobre o passado de uma delas. A partir de alguns eventos bizarros a trama passa a distorcer-se em imagens complexas e indecifráveis.

O Sonho.

Uma das muitas interpretações para os fatos decorrentes no filme é que em sua primeira parte, o filme trate-se propriamente de um sonho de Betty (que na verdade chama-se Dianne) aos acontecimentos que realmente ocorreram (uma forma de redenção aos atos brutais que cometeu). O acidente no qual Rita (que na verdade chama-se Camilla) sobreviveu no início do filme, na verdade, é uma ilusão da protagonista ao que houve na verdade. Nas sub-tramas como a do diretor que pressionado pela máfia a escalar a seu contragosto uma atriz para viver a protagonista do filme. E a do misterioso casal de velhinhos. Tudo não passa de um devaneio de Dianne, em sua visão surrealista de como ela queria que tudo na verdade tivesse acontecido.

Todos os personagens no primeiro ato do filme são reais, porém, modificados de acordo com a mente de nossa protagonista sobre os acontecimentos de seu pesadelo. A mente de Dianne pode ser representada pela misteriosa caixa azul, que seria uma passagem do que é imaginário para o que é real. A caixa azul é aberta.


O Pesadelo.

Depois dos eventos ocorridos na primeira parte, tem-se inicio nos últimos momentos do filme, os verdadeiros acontecimentos da trama. Dianne e Camilla (respectivamente, Betty e Rita, nos sonhos) são ambas atrizes que mantém um caso de amor. Camilla é uma estrela renomada e reconhecida. Já Dianne não possui muito talento, e os papéis que ganha são, geralmente, pontas que sua companheira consegue para ela em seus filmes. Porém, Camilla passa a relacionar-se com o diretor cinematográfico Adam Kesher (que mantém o mesmo nome e profissão na parte dos sonhos) e, conseqüentemente anuncia os planos de um matrimônio com o mesmo, acabando por romper seu relacionamento com a jovem. Dianne desconsolada e furiosa acaba por contratar um matador de aluguel para assassinar Camilla, e este lhe mostra uma chave azul que será o símbolo de que a missão foi realmente efetuada.

O misterioso homem que aparece no início do filme confessando a outro que sonhou com a lanchonete, seria na verdade uma testemunha ocular da negociação de Dianne com o matador (isso é mostrado em uma cena durante a parte do pesadelo). Então, no sonho de Dianne, ele é atormentado pela estranha figura do mendigo, como uma punição que ela construiu para ele, por ter ouvido mais do que deveria. Continuamente na parte dos sonhos, somos apresentados a cena em que um matador que acaba por se envolver em encrencas enquanto estava a realizar seu trabalho (matando pessoas acima da conta, e complicando ainda mais sua situação), esse assassino nada mais é do que uma distorção de Dianne a realidade, mostrando o que ela realmente queria que tivesse ocorrido: O matador (que no pesadelo é o contratado para matar Camilla) acabando por errar seu alvo e falhando totalmente em sua missão.

Na cena final do filme, acompanhamos Dianne em seu apartamento, encontrando a chave azul sobre uma mesinha. Pronto. Era o sinal que Camilla havia sido assassinada. E tudo agora era irreversível. Transtornada, Dianne passa a alucinar imagens. Vê-se então a figura do casal de velhinhos - que de início pareciam ser bondosos - agora a amedrontando e a punindo (estes podem ser interpretados tanto como os pais de Dianne, num ato de repreensão para com as atitudes da filha, como a assustadora visão de Adam e Camilla, agora velhos, muitos anos após o matrimônio atormentando Dianne com a visão de felicidade que ela nunca teria). E por fim, ouve-se um tiro. Dianne está morta.

Depois de toda esta impactante e enigmática experiência audiovisual que Cidade dos Sonhos apresenta a seu espectador, resta-nos como tal reconhecer a genialidade do quebra cabeças sensorial criado por David Lynch. Mesmo que após o termino de tudo não agrade, e não encante a todos, uma coisa será mais do que certa, que estivemos de diante de um filme diferente de tudo já visto. Algo realmente indescritível.

Nota: 10.0


3 comentários:

  1. Da primeira vez que assisti, fiquei muito confusa com a segunda metade. Depois de um tempo pensando cheguei a mesma interpretação que você, de que a primeira metade é o sonho dela.
    Assisti novamente e constatei que Cidade dos Sonhos pra mim é uma obra-prima. Fotografia liinda, e os atores perfeitos em seus papéis, momentos nonsense hipnotizantes e é claro, seu ponto forte que é a história extremamente original.
    Ótimo texto!
    Bjs.

    http://moviewalk.blogspot.com/

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  2. Só assim pra eu entender a relação mendigo/matador nesse filme. Jr, vc fez um milagre! me fez entender alguma coisa desse filme! obrigado rs

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  3. Ju B.
    Muito obrigado pelo elogio, e igualmente para mim, Cidade dos Sonhos é uma obra-prima. Maravilhoso. :D

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    Que nada, Pedro. O filme é complicado mesmo, e lembre-se, essa é só uma das inúmeras sugestões que o filme nos dá direito a supor. Enfim...=D

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