Antes de criticar o filme, apenas os lembro um pouco da filmografia de Aronofsky: Pi (1998), Réquiem para um Sonho (2000), Fonte da Vida (2006) e O Lutador (2008). Por que faço questão lembrar? Simples, para aqueles que assistiram estes filmes visualizem como foram os desfechos de tais longas e agora saibam que Aronofsky também prepara um final para seu novo filme que será trágico, não digo mais nada sobre o mesmo. Aliás, também lembro de tais finais para que cada um compare os desfechos com este novo longa.
Nina(Natalie Portman) é uma bailarina que pratica bastante para se tornar uma dançarina que sua mãe não foi por conta de ter largado a carreira para ter a filha. Thomas(Vincent Cassel) é o treinador e também diz que terá uma disputa para ver qual dançarina irá interpretar as gêmeas do famoso balé de Pyotr Ilyich Tchaikovsky que fora feito em 1876. No entanto, Nina não consegue interpretar bem o lado do cisne negro que esbanja sensualidade, somente se aproxima do cisne branco que é mais inocente e isso acaba fazendo que ela almeje tanto este objetivo. Para piorar, Thomas começa prestar muita atenção em Lily(Mila Kunis) pois esta consegue executar o papel do cisne negro com perfeição. Tudo isto acaba causando terríveis alucinações em Nina que cada vez mais deseja seu espaço.
Incrível notar que este pode ser o filme em Aronofsky faz o melhor uso da filosofia sobre a existência do ser. Uma análise mais profunda sobre esta filosofia nos fará entender o porquê de Nina nunca conseguir chegar aos pés de Lily, sem dar spoilers, digo que o que está impedindo nossa protagonista da perfeição tão falada é algo chocante. A perfeição só pode ser alcançada por meio de um sacrifício. Isto é maravilhoso, meus pensamentos de que este seria um filme B e sem graça foram apagados por sermos apresentados a pura filosofia nas telas por meios de cenas intensas e perturbadoras.
Outra questão que o filme aponta é o fato do balé ser grande palco para pretensões que Aronofsky deseja alcançar. Simplesmente incrível notar que a história se constrói tão utilizando um recurso metalinguístico que é tomar como base o próprio Lago dos Cisnes não somente como uma peça que quer representar um paradoxo entre inocência e sensualidade, mas também consegue ligar a trama do balé a própria de forma impecável e linda. Aronofsky consegue causar um filme que se compõem em extremos como o fato do balé ser uma arte delicada, mas apresentar personagens extremamente vorazes e que, fora do treino, se mostram mais agressivas para conseguir um papel em algo delicado e leve. Mais filosofia paradoxal.
Não há dúvida que aqui temos um elenco muito bem selecionado e de interpretações belissímas. Natalie Portman está fantástica em seu papel e consegue transmitir toda a angústia, o desejo e o almejo por algo, ela merece o destaque em premiações que vem recebendo. Não somente a protagonista brilha como Vincent Cassel interpreta este que é o melhor personagem do longa(mais sobre os personagens, no parágrafo abaixo), e faz muito bem. Mila Kunis também, perfeita, esbanjando todo o ar sensual que possui. Winona Ryder que faz pouco aqui, não faz nenhum pouco feio, está assustadora e, se tivesse mais tempo em tela, uma indicação ao Oscar viria muito bem a calhar.
Os personagens são simbólicos e alguns possuem personalidades dúbias. Thomas é o personagem que mais demonstrei admiração pois ele mostra ser um bailarino fora do estereótipo de muitos, pois é um personagem voraz, cruel em certos momentos, mas demonstrador de uma fibra e virilidade. O simbolismo de Thomas na trama é simples, ele é um dos causadores do desespero de Nina para almejar algo, mas na verdade muito mais pode ser concluído. Já Nina representa possuídora de inocência e voracidade, da menina bonitinha e fofa até aquela que se mostra violenta em algumas ocasiões, uma composição de personagem que utiliza um método tão clássico, mas quando colocado nos termos que vemos no longa fica tão natural e complexo. Agora, Lily foi uma personagem que fora muito unilateral, ela é simplesmente a sensualidade. Não vejo muita profundidade nela, a não ser quando está ao lado da personagem de Portman.
Nem preciso falar da direção de Aronofsky que, mesmo repetindo o que fizera em outros filmes, não faz nenhum pouco feio na direção. Tudo bem, a tensão que vemos aqui é maior, mas não deixa de ser um terror consistente, me lembrando a filmes mais antigos de terror que são meio thrashs, o que não é o caso deste. Mesmo assim, Aronofsky merece atenção pelas premiações, já estava mais que na hora.
Mas nem tudo é perfeito neste longa. Entendemos o problema da nossa protagonista, só que tanta alucinação para aparente poucos problemas parecem exagero. A ambição não é exatamente volumosa, já vi filmes em que o protagonista tem uma pressão emocional tão maior que esta e não aconteceu tanto exagero deste grau. No entanto, o fato de haver uma filosofia maior do que todos os propósitos da trama acaba intrigando muito mais e isso é feito de forma, talvez não muito orgânica, mas que pode gerar muita discussão.
Além disso, este filme se assemelha com Clube da Luta, de David Fincher, em vários pontos. Toda esta questão de personalidade(não se preocupem, isso não é um spoiler) falsa e também o fato de adquirir tantas personalidades nos faz perguntar se o fato de não haver nenhum explicação para o que acontece seja de fato apenas alucinações e isso também é algo que não diminui a capacidade do espectador de raciocinar com a trama e também trabalhar com a filosofia do longa.
Paradoxo, personalidade, ambição, almejo, alucinações, sensualidade, inocência e balé. Aronofsky joga todos estes temas em uma filme que possui menos de duas horas sem nada parecer forçada. Um dos melhores longas de 2010.
"I felt it. Perfect. I was perfect".
Nota: 8.0.
Surreal! Assim interpreto Cisne Negro, que conta com uma excepcional atuação de Natalie Portman, o papel da vida dela! Porém o filme vale mais pela atuação de Natalie, do que pelo filme em si!!!
ResponderExcluirBom!!!
Ah, achei o filme uma viagem psicológica incrivel. Mas claro, Natalie é a alma do filme.
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