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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Rede Social (2010)

Jesse Eisenberg, como Mark Zuckerberg: gênio, louco, vilão ou apenas um jovem socialmente perturbado?


Muitos o chamam de “o Bill Gates do séc. XXI”. Uns o tacham de genial. Outros dizem que se trata de um egoísta traiçoeiro capaz de qualquer coisa para subir na vida. Especialistas  o consideram como uma mente revolucionária. Já alguns repórteres e entrevistadores comentam que ele impressiona pela absoluta falta de carisma, pelo falar monossilábico e pelo comportamento robótico. É difícil separar o que é fato do que é ficção na vida meteórica de Mark Zuckerberg, fundador da rede social mais badalada do planeta e, segundo a revista Forbes, o bilionário mais jovem do globo. E este “A Rede Social”, de David Fincher, responsável por obras como “Clube da Luta” e “O Curioso Caso de Benjamin Button”, dificulta ainda mais a análise da personalidade perturbada de Zuckerberg. Fato ou ficção, seja qual destas for a verdade do filme, não se pode negar que “A Rede Social” é uma das obras mais lindamente dirigidas, meticulosamente executadas e magistralmente representadas do ano. Talvez seja um clássico (o que não creio muito), mas ainda assim é um daqueles filmes que acrescentam algo ao conhecimento humano, um daqueles filmes sem os quais perdemos uma grande oportunidade de admirar a arte do cinema.

É outono de 2003, Harvard. Mark Zuckerberg acaba de levar um fora da namorada, numa das frases mais célebres do filme. Revoltado (e embriagado), despeja boas “verdades” sobre as mulheres em seu blog e, logo depois, começa a criar um pequeno site no qual é possível “ranquear” as alunas do campus. O site recebe tantos acessos que faz cair toda a rede da universidade mais conceituada do mundo, além de provocar a ira feminina contra o jovem Zuckeberg. Essa é a primeira demonstração de “genialidade doentia” de Mark no filme, pois ele realiza um site bombástico em poucas horas da madrugada totalmente bêbado. Junto com seu amigo Eduardo Saverin, um brasileiro hábil com finanças, vai construindo lentamente a idéia de uma revolucionária rede social, por cujo caminho aparecerão traições, acusações de violação intelectual e rixas de proporções bilionárias.


O quarteto de "nerds", capitaneado por Zuckerberg.

A realização de David Fincher atinge proporções épicas: trata-se de uma jornada meteórica de um pequeno gênio da computação através de intrigas e disputas, por muitas das quais ele mesmo é o responsável. Baseado na obra “Bilionários por Acaso”, o filme realça a importância de Saverin e foca em sua relação com o antipático, robótico, fechado e prepotente Zuckerberg. Lembrando um pouco da condução confusa de sua obra-prima mal-compreendida “Clube da Luta”, Fincher conduz uma história entremeando os eventos do presente com os do passado, construindo uma narrativa com inúmeras quebras temporais que, se bem organizadas, se harmonizam em um conjunto absolutamente coeso e que impressiona por sua genialidade.

O mérito de uma história tão bem contada talvez fique mais com seus roteiristas (Aaron Sorkin e Bem Merzich) do que com seu diretor, mas todos merecem aplausos acalorados pelo resultado fabuloso da obra. É impressionante o número de tiradas sarcásticas de Zuckerberg e o de diálogos ricos e inteligentes ao longo da obra. Seja quando o personagem principal esnoba da bancada de advogados (“Espere aí, deixe-me fazer a conta para ver se está certo... é, parece que está!”) ou quando Saverin destila um belo comentário contra o seu rival Sean Parker (“Sabe que eu até gosto de ficar perto de você? Porque, perto de você, eu pareço um machão!”), as tiradas lembram o humor ácido dos diálogos de “Tropa de Elite”, só que sem os incontáveis palavrões.


Zuckerberg leva um fora da namorada numa das cenas mais memoráveis do ano.

A Rede Social” é um filme que mescla delicadeza (as inúmeras cenas dos ambientes, como a cena inicial de Mark correndo pelo campus) com rapidez quase que supersônica (os cortes temporais que permeiam a narrativa). Impossível não rir com o jeito incrivelmente hiperativo de Mark quando ele explica o que está fazendo no computador ao criar seus programas, usando uma linguagem ultra-nerd e falando com tal naturalidade que parece achar que todos entendem o que ele diz. A atuação de Jesse Eisenberg é soberba, realçada ainda mais pela incrível semelhança física do ator com o personagem de facto. Todas as atuações são de um grau acima de qualquer crítica, com destaque para o sempre surpreendente Justin Timberlake, que se revela mil vezes melhor como ator do que como cantor. Seu personagem, o gênio da computação e sedutor incorrigível (isso mesmo, um “nerd” que “pega” mulheres) Sean Parker, é uma das jóias do filme. Andrew Garfield traz à vida o brasileiro Eduardo Saverin, que hoje também está bilionário, e interpreta com muita competência esse personagem que talvez seja o mais carismático e mais injustiçado de todo o filme.

A direção de Fincher, o qual já pode ser considerado um gênio, é firme, clássica, minimalista, capaz de enriquecer cenas simples com músicas de fundo tocantes. Infelizmente, um dos pontos fracos de “A Rede Social” é que ele não traz uma grande personalidade do diretor, não traz cenas com sua “assinatura” estilística. Não existem cenas memoráveis no filme, daquelas que marcam uma geração inteira de cinéfilos: o conjunto da obra acaba valendo mais do que suas partes e é isso que importa em “A Rede Social”. Já a trilha sonora, composta com beleza e delicadeza singulares pelos compositores relativamente desconhecidos Trent Reznor e Atticus Ross, contribui ainda mais para o clima etéreo, e ainda assim ultra-realista, do filme. Uma pena que a trilha não possua momentos memoráveis, ficando muitas vezes apagada em meio à grandeza de imagens construída por Fincher. O uso da música dos Beatles “You’re a rich man, baby”, no final, não é tão impressionante como tantos críticos mundo afora alardeiam. Na verdade, a cena final do filme é pouco especial, apenas encerrando a obra com fidelidade. Mas, como eu já disse, a soma das partes, aqui, é maior do que as partes em si.


Da amizade ao processo judicial: são ambições demais para que velhas parcerias sobrevivam.

“A Rede Social” é o filme do ano. Assim dizem os críticos, assim digo eu. Não possui carga de genialidade suficiente para se tornar um clássico (assim eu julgo), porém possui grandeza demais para ser classificado apenas como um “filme bom”. É mais uma realização para o já invejável currículo de David Fincher e um retrato fiel de como a ambição pode isolar os seres humanos, de como a genialidade pode esmagar todos os outros níveis de caráter de uma pessoa. Mark Zuckerberg continua sendo incrivelmente instigante e sua personalidade permanece um mistério mesmo após o filme. Mas talvez seja melhor, por via das dúvidas, que as coisas permaneçam do jeito que se encontram.

Eu sei que você será, um dia, um gênio da computação bem sucedido e que continuará achando que não atrai mulheres pelo fato de ser nerd. Mas não é isso, Mark. Você não atrai mulheres porque você é um babaca!



Sean Parker, o nerd sedutor, interpretado com fúria e energia por - pasme! - Justin Timberlake!

 NOTA: 8,0


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