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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Coisas Que Perdemos Pelo Caminho (2007)

Coisas Que Perdemos Pelo Caminho é o primeiro trabalho feito na grande Hollywood pela diretora dinamarquesa Susanne Bier, que é mais conhecida por seu trabalho no muito bem recebido Brothers. Desta vez, a diretora lida com um tema mais delicado e profundo: a perda e a dificuldade de aproximação do ser humano, e o faz de forma eficiente e bem desenvolvida, ainda que derrape em algumas armadilhas dramáticas.

O longa nos conta a história da família Burke. O chefe desta, Brian Burke (David Duchovny), é um pai devotado, marido carinhoso e arquiteto de sucesso e, acima de tudo, um bom homem. Essa característica preocupa ocasionalmente sua esposa, Audrey (Halle Berry), que vê um sinal de ingenuidade. O casal tem dois filhos, a espevitada Harper (Alexis Llewellyn) e Dory (Micah Berry), o caçula da família. Brian tenta ajudar seu amigo de infância Jerry Sunburn (Benício Del Toro) a se reerguer na vida. Outrora um advogado talentoso, Jerry caiu no inferno das drogas e agora mora em um moquifo situado em um bairro barra-pesada, com apenas Brian lhe dando apoio financeiro, amizade e, principalmente, confiança. No entanto, o bom coração de Brian será o estopim de um evento que mudará a vida de todas estas pessoas, quando este é baleado tentando ajudar uma mulher vítima de violência doméstica.

Após a morte de Brian, Audrey fica perdida na vida. Sem conseguir dormir e estourando com seus filhos, ela decide que precisa de ajuda para seguir em frente. Assim, ela chama Jerry para que este a ajude em sua casa, em um processo que ajudará a ambos a restabelecer seus rumos. Jerry tenta encontrar em Audrey e nas crianças o apoio que tinha em Brian, enquanto os Burke precisam de algo para prosseguir em suas vidas. Também procurando ajudar Jerry em sua retomada estão a ex-viciada enfermeira Kelly (Alison Lohman), que tem um leve interesse romântico no ex-advogado, e Howard (John Carroll Lynch), vizinho dos Burke que se torna amigo de Jerry. 
Roteirizado por Allan Loeb, o filme possui um bem amarrado, por vezes um tanto certinho, mas sempre priorizando o bom desenvolvimento das figuras presentes na tela. Se em determinado momento, Loeb erra ao insinuar o nascimento de um romance entre Audrey e Jerry, ele apresenta um acerto muito mais significativo, apresentando personagens complexos, mas com quem alguns poderão se identificar, como o envolvimento de Jerry com as drogas. E neste ponto, o maior mérito do roteiro foi evitar cair na pieguice, já que com uma abordagem dessas, poderia facilmente ter saido um filme cujo único objetivo era levar o espectador às lágrimas.

As atuações são outro ponto bastante forte do longa. Após resultados desastrosos no ridiculo Mulher-Gato (que, vale lembrar, lhe rendeu um Framboesa de Ouro, na categoria de pior atriz) e no meia-boca A Estranha Perfeita, Halle Berry se sai bem na pela da protagonista, apresentando uma presença mais contida, mas intensa quando necessário. David Duchovny, apesar do pouco tempo em cena, traz bastante simpatia à um papel de grande importância na trama. John Carroll Lynch também possui ótima presença, mas é uma pena que Alison Lohman, atriz a qual admiro o trabalho, esteja tão apagada e sub-aproveitada em cena.

Mas o filme, de fato, é de Benicio Del Toro. Ele, que já foi ganhou um Oscar por Traffic e também foi indicado pela obra-prima 21 Gramas, traz grande força em sua interpretação como Jerry, tanto que é impossivel não torcer para que ele consiga superar seu desafio com as drogas. O ator se sai muito bem nas cenas mais dramáticas do filme, e se destaca do restante do elenco.
A parte técnica também possui seus erros e acertos. A trilha sonora, composta por Johan Söderqvist, grande colaborador da diretora, é bonita, mas deve passar despercebida para a maioria. Interessante mesmo é ouvir canções de artistas que marcaram o gênero do rock, como Fran Zappa e a banda Velvet Undeground. A edição é um pouco irregular: na maioria do tempo, mantém um bom ritmo, mas ainda é dificil entender o porquê da narrativa não-linear presente durante os primeiros minutos, e que é abandonada logo em seguida. O enjoativo mesmo é a fotografia de Tom Sterns, que simplesmente, não consegue sair do lugar comum.

Coisas Que Perdemos Pelo Caminho, apesar destes deslizes, alcança um resultado bastante positivo. Susanne Bier consegue gerar reflexão, e isso já faz valer o filme, que ainda apresenta outroa atrativos, e o principal deles, é a sempre estupenda presença de Benicio Del Toro. Vale a conferida.

Nota: 7.0


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