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domingo, 9 de janeiro de 2011

O Segredo dos Seus Olhos (2009)

Não é sempre que o cinema latino consegue ter muita repercussão no exterior, pois o cinema das América do Sul possui suas limitações que muitos filmes europeus conseguem se destacar. Porém, isso não significa que não existam bons filmes latinos. Os diretores argentinos, brasileiros, chilenos, entre outros, acostumaram-se com a simplicidade de seu cinema e conseguiram trazer bons resultados. Juan José Campanella é um exemplo de cineasta latino que consegue mostrar que não há limites no cinema latino.

O grande questionamento que o filme nos levar a pensar é: há alguma diferença entre justiça e vingança? Ao longo da sessão, Campanella nos apresenta a uma reflexão sobre os nossos princípios. O comportamento humano em questão é um assunto de extrema complexidade. Nesta situação mais uma vez, o longa apresenta que simplicidade não está associada com limitações, afinal, há caminhos que não precisam de um grande orçamento com uma grande elenco, basta termos um tema pertinente ou uma trama envolvente, este filme possui os dois.

Contextualizado em duas décadas(70 e final de 90), na Argentina, época de Ditadura. Somos apresentados a Benjamín Esposito, um policial aposentado que está tentando escrever sobre um caso que o marcou profundamente, o caso de estupro e assassinato de Liliana Coloto. Por um bloqueio criativo, Esposito não consegue escreve-lo, sendo assim, vai a busca de sua antiga chefe, com quem tem uma paixão jamais revelada, para achar ajudar em tentativa de completar seu romance. Neste caso, Esposito deve achar o estuprador de Liliana, ao lado de seu parceiro bêbado Sandoval. Além disso, o viúvo de Liliana, Morales está sofrendo por sua amada e também tenta buscar pelo assassino.

O filme é extremamente sensível e o amor, em questão, é tanto platônico quanto um amor afetivo. Somos apresentados a três histórias de amor, uma delas é também usada como alavanca para certas situações humorísticas: o amor que Esposito sente, porém mantém escondido, por Irene Hastings, sua chefe durante sua vida policial. Há o amor platônico entre Esposito e seu parceiro Sandoval, apesar de ser direcionado muita vezes ao humor, há uma situação carrega de emoção que consegue nos levar às lágrimas. Por fim, o amor que parece não ter fim nem mesmo pela morte entre Morales e sua falecida esposa. Todas estas relações, importantíssimas para expor o lado emocional de cada personagem, um meio de aprofundamento que Campanella utilizou para conhecermos e entendermos mais os laços emotivos que são mostrado entre os personagens. Sem dúvida, uma modo muito relevante e emocionante de estudo de personagens.

Não haveria sentido ter bons personagens com construções geniais, sem boas atuações. Ricardo Darín, interpretando Esposito, é um ator de qual nunca ouvi falar, mas que é possível perceber que ele é tanto um intérprete de fala e sonoridade em fala, quanto um ator de expressão. A demonstração de sentimentos através de seus olhos, algo que condiz com o título do filme, transparece um sentimento afetivo de amor e solidão que nunca se mostram forçados ao se apresentar em situações de fortes emoções. Não só Darín merece destaque como Guilermo Francella, interpretando Sandoval, constrói a cara metade de Esposito. O personagem de Francella se envolve nas situações mais divertidas e engraçadas de todo filme, mesmo que não seja só nestas situações pois Francella também convence em situações com um teor emocional mais sério.

Uma incrível qualidade que Campanella apresenta é o fato de conseguir, em uma só sequência, dar uma aula de como fazer cinema. Um plano-sequência que, aparentemente não utiliza cortes de cena, consegue ser considerado um dos mais frenéticos e fantásticos planos que o cinema, em geral, pode ver. Campanella é um diretor que, apesar deste ser o primeiro filme dele que eu assisto, conduz muito bem todas as sequências do longa. Ele consegue conduzir cenas de suspense, ação e de humor com muita eficiência.

Mesmo que seja parecida com outras, a trilha sonora deste longa é bela. A cena inicial que já possui uma grau emocional elevado, colocada ao som da trilha composta por Federico Jusid e Emilio Kauderer, consegue levar muitos as lágrimas sem precisarmos entender muito do contexto. Enfim, a parte técnica do filme é muito eficiente e, por vezes, fantástica.

Se há uma qualidade ruim, mesmo que não seja ruim ao todo, é o desfecho do filme. Mesmo que haja uma relevância e que este final consiga manter uma ponta aberta a interpretações e revele uma ambiguidade quanto o que definimos ser justiça ou vingança, não era um tipo de final que consiga ter uma verossimilhança consistente. Não é um péssimo, ruim desfecho, é apenas um regular modo de completar uma história.

Há uma sacada utilizando a letra "a" no filme que é linda, maravilhosa. Esta "letrinha" materializa tudo o que Esposito veio procurando. Destaque máximo para o uso dessa metáfora.

Simples por recursos materiais, complexo por recursos temáticos, "O Segredo dos Seus Olhos" é um exemplo de que o cinema latino nunca foi ou será um cinema de pobre por não possuir grandes orçamentos ou nenhuma atenção comercial grande, mas que se consegue brilhar mais que Hollywood quanto se trata de qualidade, e isso é o que realmente importa.


Nota: 8.5

Um comentário:

  1. A sequência no estádio já vale o filme, que ainda apresenta inumeros outros motivos para justificar seu status de obra-prima.

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