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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Bruna Surfistinha - O Doce Veneno do Escorpião (2011)

Essa é uma das cenas mais "ingênuas" do filme.


Quando saiu o primeiro trailer para o filme “Bruna Surfistinha”, não nego que fiquei tremendamente contente. Não porque seja fã da personagem-título ou porque admire qualquer uma de suas “obras”, mas porque cresceu em mim a esperança de que o cinema brasileiro estivesse dando mais um passo rumo à maturidade. Já está mais do que na hora, afinal, de nossos diretores e produtores aprenderem que não é só de favela e comédias de segunda que vive o nosso cinema. Precisamos de temas ousados, heterodoxos, de gosto duvidoso, precisamos de inovação, de ousadia, de revolução. Da mesma forma que Hollywood prende-se em seus vícios (as fórmulas para os blockbusters atuais são um exemplo revoltante da podridão intelectual em que a famigerada indústria se meteu), o cinema brasileiro aidna está preso em sua hipócrita e descabida “consciência cidadã”, onde a única coisa que parece merecer uma projeção em salas de cinema é a realidade nacional. Estava mais do que na hora de mudar.

Bruna Surfistinha”, entretanto, foi ao mesmo tempo um orgulho e uma decepção. Orgulho porque o filme foge de todos os padrões temáticos aos quais o cinema brasileiro está acostumado. O filme também busca fortemente uma significância artística e é notam-se as boas intenções de seu diretor, Marcus Baldini. Uma decepção porque o filme não é, nem de longe, uma obra-prima e nem pode ser considerado um filme excelente. É um bom filme, talvez ótimo, mas daqueles de que facilmente nos esquecemos um mês depois. É muito menos do que eu esperava. Possui ótimos momentos, mas falta muita personalidade e é dominado por uma contínua sensação de vazio. Esta obra é como uma escultura gigantesca, porém oca. Nada mal, entretanto, para um diretor de primeira viagem e, sem dúvida, cheio de surpresas em seus próximos projetos.

Cássio Gabus Mendes e Deborah Secco: a pior e a melhor atuação do filme, respectivamente.

Apresentar o filme é cair no meio comum, pois talvez todos já conheçam, mesmo que parcialmente, a trajetória da mais famosa prostituta do país. Uma mulher que literalmente inovou o seu ramo, e ganhou rios de dinheiro com isso, ao “virtualizar” suas atividades em um blog, no qual expunha fotos sensuais, relatos de sua vida e, principalmente, análises dos desempenhos de seus clientes. Mais do que isso, a senhora Surfistinha (Raquel, seu nome verdadeiro) talvez tenha sido uma das prostitutas mais sagazes deste país, pois converteu seu blog em um livro e inflou ainda mais sua conta bancária. Em certos momentos, o filme, que relata sua trajetória até o momento em que ela decide largar a prostituição, se parece com uma versão de “A Rede Social”, porém transposta para o mundo do sexo. A personagem-título, assim como Zuckerberg, é discriminada, reprimida, tem péssima auto-estima, porém possui também uma vontade irrefreável de subir na vida, ser reconhecida e amada. Assim como o bilionário do Facebook, Surfistinha inovou sua profissão ao reconhecer o valor da internet e ao divulgar seus serviços de maneira até então inovadora. E, assim como o louco e nerd adolescente, ela consegue exatamente o que queria, embora sem a satisfação que esperava.

O filme possui um ritmo bastante introspectivo. Não é para os gostos populares. É um filme corajosamente ousado para o público brasileiro, ainda muito infantil e amador quando se trata de apreciação da sétima arte. Foi com imenso desprazer que fiquei numa sala onde as pessoas chiavam ao ver os seios desnudos de Deborah Secco, onde faziam piadas abertamente sobre os takes ousados de sexo, onde riam descontroladamente (e sem motivo algum) de cenas que não tinham a menor graça. O público com qual assisti o filme era de uma infantilidade revoltante, onde até adultos supostamente maduros se comportavam como adolescentes mimados e tarados por sexo. O povo brasileiro ainda é muito imaturo e inconseqüente. É uma pena concluir que este filme provavelmente sofrerá muito preconceito por parte deste povo que, literalmente, ainda não merece um cinema de qualidade.

Como já falei, o filme é extremamente ousado. Filma Deborah Secco (em seu melhor papel, diga-se de passagem) com seios à mostra, executando posições sexuais ousadas, fazendo sexo anal, pagando “boquetes” e se submetendo a sexo escatológico. Contudo, o filme não ultrapassa a linha do bom senso e consegue mostrar as cenas com a dose correta de humor, seriedade ou tristeza.

O diretor Marcus Baldini claramente possui uma veia artística e tenta imprimir um cinema intelectual em seu filme. As cenas são intimistas, detalhistas, lentas, repletas de diálogos pessoais. Entretanto, ele parece ainda não saber dosar o intelectualismo, e muitas dessas cenas não passam de tentativas chatas (quase soníferas) de se fazer arte, uma arte restrita nos confins mais sombrios das salas de filosofia da USP. Aquele tipo de arte insuportável e prepotente que só pode ser compreendido por um grupinho de espectadores. Porém, o erro não é intencional. Muitas cenas funcionam e o diretor precisa apenas de um pouco de calibração.

Bruna Surfistinha e suas colegas de profissão.

O ritmo do filme chega a ser insuportavelmente lento em seu início, conseguindo encontrar um bom tom depois de seus trinta primeiros minutos. A produção erra, e erra feio, por praticamente se esquecer que existe uma coisa chamada “trilha sonora” e que ela é um dos elementos que mais acrescentam vida a uma obra cinematográfica. “Bruna Surfistinha” é de um silêncio revoltante! As pouquíssimas músicas quase sempre são tocadas bem ao fundo, quase inaudíveis, e a trilha sonora em si consiste em nada mais do que umas músicas reutilizadas das novelas da Globo.

As atuações estão adequadas e Deborah Secco brilha. Não muito, pois o roteiro não valoriza sua personagem do jeito que deveria, mas ainda assim se destaca. O destaque negativo fica por conta de Cássio Gabus Mendes, que nos entrega uma atuação sofrível e inconvincente. O roteiro do filme necessitava de mais ousadia estrutural; enquanto o tema é abordado sem pudor, sua condução é extremamente convencional. O corpo do filme não possui nenhuma qualidade que o distinga dos demais. Não é ágil, não possui sacadas geniais, não valoriza a edição. Ele oscila entre cenas geniais e cenas comuns, e o resultado é uma obra incompleta, vazia.

O filme, assim como sua personagem, carece de uma identidade e passa todos os seus cem minutos de duração buscando sobressair-se do meio-comum, sem sucesso. O diretor parece querer forçar sua entrada no mundo dos grandes, mas a pressa afetou o seu trabalho. Na próxima vez, quem sabe. Ainda assim é uma obra excelente para um cineasta de primeira viagem.

Bruna Surfistinha” pode não ser memorável em nenhum aspecto, mas ainda assim é um colírio nos olhos do cinema brasileiro, cansado de exibir apenas favela movies e comediazinhas baratas, dignas apenas de uma produção televisiva. É um filme que provavelmente fará sucesso, mas não pelos motivos corretos; fará sucesso apenas graças a adolescentes loucos para ver Deborah Secco seminua e para badernar durante as cenas de sexo. Uma pena. Contudo, é um filme que vale a pena ser assistido e que merece reconhecimento. O espectador sairá da sessão sem sentir nada pelo filme; sairá até mesmo com uma sensação de vazio, uma sensação de que acabou de presenciar uma obra irrelevante. Mas saberá que o ingresso valeu a pena e que, pelo menos, pôde passar o tempo com uma obra mais do que satisfatória.

Assim caminha o cinema brasileiro, com passos tímidos rumo à grandeza. “Bruna Surfistinha é um filme pequeno, mas merece crédito por ter sido o primeiro desses pequenos passos.

Entre cenas e mais cenas de sexo, muitas esquisitices.

NOTA: 6,5


2 comentários:

  1. Depois de assistir esse filme, percebi que devemos valorizar ainda mais nossos amigos. Caso contrário você vai sair dando por R$ 20,00 até desmaiar!!!

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  2. vc que escreveu esse poster e muito controverso, pois uma hora o filme e bom outra vc diz q o filme nao e.... fora q vc e do tipo de critico muito estereotipado, pois sempre usa frases clixeis

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