Três finais?! ? Sim, “Corra, Lola, Corra” conta uma história e há três finais para essa história. Pois bem, Lola é uma menina com um visual estranho, filha de um banqueiro rico, cuja família não parece ser muito estabilizada. Seu namorado Manni “trabalha” para uma quadrilha de foras-da-lei e estava passando por um teste: carregava muito dinheiro do bando para testarem sua confiança. Estava tudo muito bem, até que Manni esquece o dinheiro no trem. Com a corda no pescoço e tendo apenas vinte minutos para recuperar a quantia e levar para o bando, ele decide pedir ajuda para Lola que começa toda sua correria para tentar arrumar os cem mil marcos.
Essa é a história e há três diferentes desfechos para ela (os quais não contarei aqui, pois não há necessidade e o aspecto mais interessante do filme seria destruído). Com isso, o diretor e roteirista do filme, Tom Tykwer, brinca com o espectador e, além disso, nos faz pensar “como seriam as coisas se eu tivesse feito tal coisa?” ou “como seriam as coisas seu eu não tivesse feito isso?”, pensamento que eu mesmo, e acho que todos, já tivemos, ou porque estava no momento de “filosofar”, ou até porque queria que a situação fosse diferente.
Algumas cenas ilustram exatamente o que eu disse no parágrafo acima, como por exemplo, a cena da ambulância, ou a cena da bicicleta. Elas se modificam porque a história já havia se modificado antes. Além disso, os momentos “E então...” que contam o que aconteceria na vida das pessoas que Lola cruza foram muito bem pensados, pois mudam de uma história para outra, afinal, se os acontecimentos mudam com a personagem principal, porque não mudariam com os outros.
É interessante notar que Lola se lembra de algumas coisas que aconteceram em histórias diferentes, como por exemplo, a tão comentada cena de destravar a arma, em que em uma história ela não sabia como fazer isso e na outra ela o faz com uma precisão de um criminoso. Uma grande sacada que nos faz pensar e deixa o filme mais parecido com um quebra-cabeça.
A trilha sonora é cheia de batidas tecnológicas rápidas e ritmadas que lembram o tic-tac de um relógio, e que cabem muito bem à corrida frenética de Lola em busca dos cem mil marcos. Além disso, as situações do filme poderiam ocorrer com qualquer pessoa e o diretor brinca com essa casualidade fazendo com que tudo se encaixe perfeitamente.
A câmera lenta e trêmula em alguns momentos deixa a cena com um suspense de tirar o fôlego, como por exemplo, a cena do Cassino em que a câmera vai focando lentamente na mesa do jogo e na roleta. Enquanto que os ângulos não-convencionais conferem um ar de adrenalina à correria de Lola e colaboram, junto com a trilha sonora, para o filme ser envolvente.
“Corra, Lola, Corra” é um ótimo passatempo e serve muito bem para entreter, mas, além disso, é profundo e faz o espectador refletir questões temporais e filosóficas. É uma viagem através do que poderia ou não ter acontecido, além de questionar se há realmente um destino, ou se somos regidos pelo acaso.
E uma das frases que aparecem no começo do filme “cai como uma luva” – “Depois do jogo é antes do jogo”, S. Herberger – pois, muitas vezes, o que pensamos ser o fim, é apenas o começo de um novo ciclo, ou de uma nova história.
Nota: 9,5
Excelente filme. A prova de que a criatividade vence os orçamentos milhonários.
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