Ed Wood (1994)

Através de um projeto ousado e pessoal, o cineasta norte americano Tim Burton homenageou um dos maiores mitos da história do cinema, este responsável por ser uma das inspirações maiores do diretor e, eventualmente, um de seus grandes ídolos. Edward D. Wood Junior, ou simplesmente, Ed Wood tornou-se famoso em decorrência de suas “criações” cinematográficas, resultando para ele o título de pior diretor de todos os tempos. O realizador deste projeto não poderia ter sido melhor, pois Tim Burton além de cultivar em seus trabalhos um estilo pessoal que recebeu muita inspiração de filmes B e C, conseguiu conciliar seu modo obscuro com o mundo fantasioso de Ed Wood, seus filmes ruins e involuntariamente divertidos.

Mais que uma simples cinebiografia, Tim Burton foca no universo cinematográfico, mostrando o quão difícil é conseguir alguma chance neste meio, e principalmente aos que não tinham recursos financeiros ou sociais. Mesmo trabalhado em cima do bom humor, Ed Wood é um filme triste, sobre um homem que batalhou toda a sua vida para conseguir seu tão sonhado reconhecimento fazendo o que ele mais adorava. Cada escolha feita para a execução deste projeto foi certeira, desde seu fino elenco às suas imagens monocromáticas.

Basicamente, Tim Burton visou mostrar apenas os bastidores do cinema, não sua fachada iluminada e chamativa, mas o lugar onde todos os artistas precisavam entrar para conseguir seus objetivos. Ed Wood mostra o cinema em si, ainda em seu modo de preparo, antes de tudo ser repassado nas telonas, e como todo o processo ocorre e a dificuldade para se criar uma película. E, mesmo sendo de qualidade baixíssima, os filmes de Wood foram feitos sobre muitos sacrifícios e através de muito esforço, mas para ele, como realizador, ver um trabalho seu concluído era por si só uma total satisfação.

Para encarnar essa leitura da vidado cineasta, foi escalado um elenco de peso, o que por sua vez, foi um dos grandes fatores a tornar este, um filme de maior reconhecimento. Primeiramente, o grande parceiro de Tim Burton em seus projetos, protagoniza neste o personagem título, Johnny Depp vive com maestria o deslumbrado cineasta, imitando e decodificando desde suas formas aos seus trejeitos, numa grande e irreprochável interpretação. Em sumo destaque também temos a inesquecível atuação de Martin Landau vivendo formidavelmente o ator decadente Bela Lugosi, esta que lhe resultou no Oscar de melhor ator coadjuvante.

Através de toda a condução de Ed Wood, Burton imprimiu uma mistura esplêndida de sensações em seu espectador, horas mostrando uma divertida busca pela glória e horas mostrando a dura realidade de um homem afundado em seus próprios almejos. Assistir Ed Wood é uma experiência híbrida a qualquer público, pois mesmo sendo apreciador ou não dos cineastas, qualquer um estará adepto a se divertir e a se emocionar com a trajetória de um homem comum sobre suas ambições.

Ed Wood foi um triunfo astronômico na carreira de Tim Burton, que conseguiu através deste exemplar mostrar sua destreza em outros ramos do cinema, sem para isso utilizar suas características em grandes proporções (como havia feito em projetos anteriores). Este filme fisgou ainda mais a atenção do público e crítica para o talento do diretor, que a partir deste, teve seu reconhecimento tão merecido.

Além de todas as virtudes que trouxe para a carreira de seus envolvidos, Ed Wood é também relevante como cinema, não só por mostrar a imagem que imprimiram para este cineasta, e sim por enfatizar a vida de um homem, onde poucas chances lhe foram cedidas, e ele era só mais um naquele gigantesco lugar, entretanto com sua perseverança ele conseguiu, apesar de não ser da melhor forma, o seu reconhecimento. E, mesmo tento recebido o humilhante título de “pior diretor de todos os tempos”, Edward D. Wood Jr. Possuía uma característica que hoje é rara em meio aos cineastas modernos, o amor pelo cinema, e por isso, ele já merece todo o nosso respeito, e quem sabe até, nossa admiração.

Nota: 9.0