Nikolai é motorista da família, e bastante próximo de Kirill (Vincent Cassel), filho de seu chefe. Os dois tem um apreço um tanto doentio um pelo outro, mas há muito mais interesse e ciúme de Kirill por Nikolai do que o contrário. Uma vez tendo cruzado o caminho dessa irmandade do crime, Anna não se intimida, e luta pela elucidação dos fatos que procura. Ela encontra o diário da jovem, e seus escritos a guiam em sua jornada de descoberta, até que percebe que o negócio da família, um agradável restaurante, na verdade é fachada para seus esquemas violentos. Cronemberg, com isso, captura a alma do submundo do crime londrino. Toda aquela aura que tipifica o agir dos criminosos que agem em família está retratada no longa, que não abre mão de muito sangue para contar sua história.
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Logo no começo da trama, Nikolai comete um assassinato brutal em uma barbearia,retalhando a garganta de um homem que poderia comprometer os interesses escusos do clã de delinquentes. É uma cena muito forte, através da qual o diretor já mostra a que veio. Como um crítico já disse com muita propriedade, Cronemberg segue uma gramática sensorial e visceral muito intensa, o que não significa dizer que ele se prende a conceitos pré-estabelecidos e faz sempre mais do mesmo. Muito pelo contrário. Ele sempre lança novos olhares para a questão da violência, calcado numa estética de transparência, que não abre mão de toda a crueza da qual se possa dispor. Sua direção de atores também é afiada, já que ele arranca de Viggo Mortensen uma interpretação soberba, digna até mesmo de uma indicação ao Oscar de melhor ator, perdido para Daniel Day-Lewis, que já tinha a láurea pela sua atuação em Sangue Negro (There Will be Blood, 2007) no papo em 2008. Se Mortensen levasse, entretanto, a justiça também teria sido feita.
Ele compõe um personagem cheio de nuances, que tende ora para a ternura, ora para a crueldade. É capaz de se comover com um bebê, mas também pode cortar os dedos de um cadáver para dificultar a identificação do corpo pela Polícia. Também pode se mostrar uma fera indomável quando está sob ameaça. Tem-se a constatação desse fato em uma sequência em especial. Quando está sozinho numa sauna, Nikolai é abordado por uma dupla de bandidos que quer acabar com sua vida. Num átimo, ele demonstra toda sua fúria ao atacá-los, sem qualquer ferramenta nas mãos, literalmente despido de qualquer instrumento que possa auxiliá-lo em sua luta pela vida naqueles instantes. Mortensen faz a cena completamente nu, exibindo todas as tatuagens de seu personagem. Cada desenho ali conta um episódio de sua vida, sendo traduções de sua caminhada pelas veredas criminosas. A sequência brevemente descrita acima já pode ser considerada antológica para o cinema, e inscreve o nome de David Cronemberg no panteão dos grandes realizadores.
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Contudo, Senhores do Crime não é só violência. Com sua fotografia nebulososa, o filme também apresenta uma Londres muito mais plúmbea do que aquela com a qual se está acostumado. As cenas evidenciam cadenciadamente uma atmosfera de embriaguez do crime, que também traz embutida em si uma brecha para a crítica. Em nenhum momento Cronemberg demonstra produzir apenas um espetáculo de entretenimento, mas sim uma imersão em um universo que rende toda sorte de reflexão, e está no âmago da humanidade: a inclinação para o mal, que pode ser dosada para o convívio com o próximo. Mas nada do que adormece está morto.
Nota: 8.5
Trailer do Filme
Vi esse filme no cinema, em dvd e depois na tv. A cada vez que assisto fico impressionado como um filme que enfoca o submundo do crime pode envolver tanto. Não sou adepto desse tipo de filme, mas esse realmente tem um excelente roteiro e Viggo Mortensen e Naomi Watts estão excepcionais. Vale a pena!
ResponderExcluirhttp://acervodocinema.blogspot.com
http://memoriadasetimaarte.blogspot.com
Chocante. Só tenho isso para dizer.
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