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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sinédoque, Nova Iorque (2008)


“A Obscura Lua, Iluminando um Obscuro Mundo.” (Synecdoche, New York)

Seria impossível se durante uma citação dos grandes roteiristas do cinema, não citar o nome de Charlie Kaufman. Isso porque, é crível que atualmente não se encontram mais escritores ainda capazes de inovar e sempre possuir em sua manga um trunfo de originalidade. Eis que em 2008, Kaufman compartilha seu indiscutível talento na assinatura de textos com uma habilidade até então anônima atrás das câmeras. O resultado se projetou nas telas de todo o mundo com Sinédoque, Nova Iorque. O filme mais audacioso e pessoal Kaufman, que além de marcar sua estréia na direção, confirma-se como um dos trabalhos mais nobres e autênticos da década.

Assim como outros trabalhos escritos por ele, este filme é mais uma viagem sobre o psicológico humano, analisado de maneira aprofundada e bastante complexa. Temos a história do diretor de teatro, Caden, um homem hipocondríaco e neurótico que percebe que seu casamento com Adele está desmoronando. Então, sua esposa usa como desculpa uma viagem internacional para desconectar-se dele, levando consigo a filha deles, a pequena Olive. Em conseqüência destes e de muitos outros fatos, a vida de Caden começa a cair de um precipício. Is então que em suas mãos lhe é cedida uma chance peculiar quando recebe uma altíssima quantia em dinheiro para escrever uma peça colossal, eis que ele inicia o melhor roteiro: Sua própria vida. Pois além de analisar sua própria condição atual, esta é a forma que o mesmo encontra para descobrir o valor de sua própria existência.

Pronto! Diante aqui estamos de uma viagem tridimensional sobre as aspirações e a existência de um único e solitário homem, uma jornada filosófica e simbólica em busca do autoconhecimento e do amadurecimento pessoal. Kaufman faz mais do que uma projeção da vida de um homem singular, Caden seria como um alter-ego do próprio cineasta, passando desde suas neuroses e excentricidades a sua inteligência abismal. Sinédoque, Nova Iorque, definitivamente, não é um programa fácil de ser assimilado. Não. O filme é dotado de simbolismos e metáforas as quais alcançam um grande teor de complexidade e abstratismo. Sendo assim, só deverá ser bem vindo e devidamente apreciado por aqueles que se manterem ativos a uma louca e fascinante viagem extra-sensorial.


O filme mescla estranhamente a densidade dramática e as passagens cômicas. Isso mesmo. Ao mesmo tempo que concentra uma grande carga de pessimismo e tristeza, Sinédoque, Nova Iorque preenche sua narrativa com humor,um elemento que além de ser habitual nos textos de Kaufman, mostra-se aqui necessário para que o espectador se conecte a este de maneira mais natural (por assim dizer). Toda a profundidade do trabalho confere a Sinédoque, Nova Iorque um patamar mais elevado que um programa de entretenimento corriqueiro, Kaufman aqui conectou o brilho de sua mente com as imagens de uma grandiosa produção cinematográfica.

Para viver este universo temos a escalação de um elenco ímpar, em maior e mais claro destaque, temos a presença de Phillip Seymour Hoffman como o protagonista da trama; a montagem e profundidade dos personagens feita por Kaufman conferem um nível maior a este, especialmente nosso protagonista, pois Caden é um homem que reflete as experiências mais peculiares de um ser humano, pois ele vive sobre profunda negatividade, paranóia e aflição, em contraponto contou também com pessoas que se importavam com ele, ajudando a preencher sua existência e a descobrir o significado do seu “eu” interno. Um personagem completo que Hoffman (um dos melhores - acredito que o melhor - atores de Hollywood atualmente) sustenta com maestria e perfeita habilidade.

Assim como aguardado de Kaufman, não espere encontrar em Sinédoque, Nova Iorque um trabalho de previsível, ou de simples compreensão. Absolutamente. Estamos falando de um dos filmes mais difíceis e intricados destes últimos anos no cinema. Porém, isso não eclipsa o grau do poder e do impacto da experiência que o filme transmite para seu público. Por fim, após todos os argumentos que apresentei, seria pleonasmo de minha parte ao dizer que esta é uma obra de arte. Enfim, Sinédoque, Nova Iorque consegue, como poucos atualmente conferir ao espectador uma viagem preenchida de elementos particulares e originais, o que eventualmente fazem deste, uma jóia moderna, de grande valor para seu público e é claro, para todo o cinema.

Charlie Kaufman continua sendo uma das personalidades mais importantes para o cinema atualmente, e continuará sendo por muito tempo, ou pelo menos enquanto os dirigíveis ainda sobrevoarem o céu de Nova Iorque.

Nota: 9.0


3 comentários:

  1. A originalidade de Kauffman é seu grande trunfo.

    A interpretação de Hoffman é perfeita.

    Um filme sensível e triste, que faz pensar sobre amor, vida, trabalho.

    Abraço

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  2. A crítica está muito bem escrita, apesar de um ou outro escorregão perdoável. Amo demais esse filme, a começar pelo fato de ser escrito e dirigido por Kaufman, um dos melhores roteiristas em atividade.
    Parabéns pela alta produtividade aqui no blog, Júnior!

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  3. Patrick, muito obrigado pelo elogio!
    E eu que fico lisonjeado em participar do Blog.
    Obrigado mesmo.

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