Um filme com uns defeitos aqui e ali, mas que não deixa de ser lindo e uma das obras mais comoventes de 2009.Um Olhar do Paraíso começa de forma simpática, dando-nos a conhecer, acima de tudo, a menina Susie Salmon. Uma doce criança, a coisa mais fofa que, de vez em quando, lá tem as suas revoltas. Estes momentos, apesar de ternurentos, são duros (no bom sentido) para o espectador que sabe que Susie vai morrer dentro em breve. Eu era um desses espectadores. Suponho que muitas outras pessoas o eram, pois esse pormenor vem explícito em muitas sinopses deste filme. De qualquer maneira, estas cenas deixam-nos sensibilizados, agarrados à utopia de que Susie não vai morrer. É, parece possível…mas não é. Como foi decretado, a menina acaba por morrer. A partir daí, o filme toma um rumo diferente. Vai avançando, trazendo algumas cenas inspiradas, até culminar naquele magnífico final. E, pelo meio, ainda dá espaço para interpretações pessoais! (exemplo: porque é que Susie, quando foi parar àquele lugar, não conseguiu viver os melhores momentos da sua pós-vida? A isso, eu respondo: porque não estava a conseguir libertar-se da sua família, e enquanto não se desligasse da sua vida na Terra não conseguiria disfrutar da sua nova existência no Céu.)
Sim, o filme tem os seus problemas. E, sim, a maior parte deles (não todos) surgem na dita segunda parte do filme. Também me incomodou o excesso de atenção que Peter Jackson deu ao assassino. Mas não acho que seja tanta assim, pois também mostram, e bem, as mudanças na família Salmon. Diria que Jackson distribuiu bem a manteiga pelos diferentes pães. O problema é que não o devia ter feito! Devia ter posto mais manteiga no pão da família Salmon. Afinal, o que interessa é a vida sem Susie. O assassino é secundário. Mas enfim…Jackson tomou esta opção e, felizmente, não estragou o filme com isso. Outro problema são os cortes com a realidade. Até à morte de Susie, o filme parece bem real (as brigas, por exemplo, são do mais genuíno que pode haver), mas após esta cena, surgem algumas outras que, até ver, não seriam possíveis no mundo em que vivemos. Quer dizer, o Paraíso ainda vá, porque é um mundo à parte do nosso. Mas cenas como a da flor na mão do sr. Salmon já custam mais a engolir. Esta inconstância na forma como o filme se define causa estranheza. O filme peca também nas explicações; algumas demoram a aparecer, outras nem chegam a aparecer, tendo o espectador de tirar as suas conclusões (isso não é mau de todo, mas quem diria que seria necessário num filme como este…). Ou seja: analisemos a cena em que Susie tenta fugir do abrigo do assassino. Porquê continuar a cena mostrando ela a fugir, se na verdade ela morreu? Porquê enganar o público momentaneamente? É que se a dúvida permanecesse até ao final, ainda faria sentido. Mas assim, não se percebe. Para quê mentir?
Porém, nenhum destes defeitos é grave por aí além. E mesmo que fossem, seriam compensados pelo final do filme. Aquele final é lindo demais. Por favor, uma criança que morreu tão nova, de uma maneira tão estúpida e, pior, quando estava prestes a passar por uma das melhores experiências que a existência tem para nos oferecer ainda se dá ao trabalho de nos desejar, a nós, que estamos vivos, uma vida feliz? Digno de uma pessoa se lavar em lágrimas. Com efeito, depois de este filme acabar, senti os olhos molhados e as lágrimas a querer sair. Não saíram. Pena. Não foi por falta de vontade.
Após um filme destes, voltar à realidade é um choque! O mundo não pode continuar igual. Tem de ter mudado muito e para uma coisa linda! Afinal, aquilo…foi transcendental! Mas, infelizmente, não mudou. É incrível, mas os outros continuam a censurar escolhas que fazemos, os patrões continuam a não nos dar emprego, os nossos melhores amigos continuam a afastar-se de nós sem que percebamos porquê. Meu Deus, que raio de mundo! Um mundo com coisas boas, mas também muitas porcarias, em que as vidas que mais se assemelham a contos de fadas são as dos actores de Hollywood (e mesmo esses já têm de aturar tanta coisa má…). Não é justo ser assim. É por estas e por outras que vemos filmes (e, aqui, falo sobretudo dos filmes do mainstream americano); para exorcizarmos o mundo em que vivemos e nos ser apresentado um novo. Que mundo há melhor que aquele, onde a justiça triunfa, os amigos são todos bacanas (e bonitos) e dançar e cantar bem alto na rua é socialmente aceitável? E se se morre lá, ao menos morre-se à grande. Num momento super-mágico com direito a música ou seguido da investigação de um grande detective. Como é maravilhoso o mundo dos filmes! Se a minha vida me correr mal e não conseguir atingir os objectivos que pretendo, mesmo que os falhe só po um bocadinho, não tenho dúvidas que irei desejar viver nesse mundo. Ah, quem me dera ser como o Neo de Matrix: poder escolher viver num mundo maravilhoso e bem melhor do que em que realmente vivo! Abandonaria a minha vida neste mundo para viver no outro até ao fim. Claro que podia estar a iludir-me e que, aos olhos dos que vivem no mundo real, eu seria um falhado, uma pessoa patética, mas pelo menos seria feliz enquanto vivesse. Assim, graças a este filme, durante cerca de duas horas da minha vida, eu fui feliz…
O meu nome é Paulo Esteves e sou português de Portugal. Tenho 19 anos e não sei quanto tempo vou ficar neste mundo. Tenho um medo tremendo de falhar na vida, ser infeliz e sentir-me um derrotado comparando com os outros. Quanto a ti, doce Susie Salmon, não sei sequer se existes, quanto mais onde estás. Saberias o meu nome se eu te visse no Céu? Não sei. Porém, se algum dia estiver numa situação assim, e te encontre onde quer que seja, gostaria de ter dar um grande abraço, olhar-te nos olhos e, com mais sentimento do que todo aquele que possa ter tido nesta vida, dizer: “Obrigado!”
Nota 8.5
Parabéns pela crítica, Paulo.
ResponderExcluirJá a havia lido no Cineplayers, e só tenho a dizer, está lindíssima!
E, bem vindo ao Blog!
Critica lindona mesmo, deu até vontade de chorar *__*
ResponderExcluirMuito interessante como o filme lhe atingiu, Paulo.
E seja bem-vindo!
Hehe, obrigado amigos! :)
ResponderExcluirEspero que este blog divulgue ainda mais o meu comentário. Tenho de espalhar a fé, sabem...