Para entendermos melhor a lógica de Boyle, aqui vai um exemplo: Lady Gaga, fenômeno pop dos dias atuais, consegue vender suas músicas como água no deserto utilizando um recurso velho, porém indispensável: o vídeo-clipe. Enquanto artistas “normais” fazem seus clipes “normais”, ela cria um curta-metragem para desenvolver e envolver o espectador – há clipe com mais de nove minutos. Como isso, ela faz um show musical e visual. O que Boyle fez? Ele pegou o modo de se fazer um vídeo-clipe e transformou-o em longa-metragem. 127 Horas abusa de artifícios visuais para conseguir quebrar o ritmo lentíssimo da história e envolver. Sim, houve certos exageros, mas se fosse um filme seco, seria insuportável.
James Franco (nosso querido melhor-amigo Harry Osborn da trilogia Homem-Aranha) concorreu ao Oscar deMelhor Ator por sua interpretação como nosso protagonista. Qual foi o real papel dele? Carregar sozinho os 97 minutos nas costas. Quase inteiramente um monólogo, Franco se desdobra para transparecer verossímil, e faz jus à indicação ao Oscar. Bem, existem filmes ainda mais ousados no sentido de “um personagem carrega o filme”, como o recenteEnterrado Vivo, mas, perdoem-me, Franco tem muito mais carisma que o artificial Ryan Reynolds. Para dar ainda mais intensidade e realidade ao filme, Boyle e Franco, apenas, foram permitidos por Aron a verem a fita das 127 horas, que está trancada num cofre de segurança, a título de curiosidade. Todas as cenas do filme, com exceção da cena em que Aron e duas meninas pulam no lago escondido na caverna, foram, nas palavras do próprio Aron, “tão factualmente verdadeiro que é o mais próximo que se pode chegar de um documentário real”. O local onde foram feitas as filmagens fora o exato lugar do acidente real e a câmera do protagonista é mesma que Aron usou no acidente.
Quais os meios utilizados por Boyle para agilizar o filme? Primeiramente uma ótima trilha-sonora, que deixou o filme lúdico e arrebatador. Jogos de câmera inusitados, como as de dentro da garrafa d’água ou da mochila, dando ângulos que pareciam impossíveis, e aumentaram nossa “mobilidade” naquele mais que restrito cenário. Telas duplas e triplas, muitas vezes mostrando os pensamentos de Aron fora do desespero. Cortes abruptos e dinâmicos, com sequências inusitadas e até toscas – como a do Gatorade e várias cenas com bebidas – que acabaram ficando hilárias.
Por fim, o saldo de 127 Horas foi positivo, apesar dos exageros. Pecou também quando mostra o lado amoroso do protagonista, soando quase gratuito. E isso não é de hoje: em Quem Quer Ser um Milionário?, a face amorosa é terrível, e o romance dificilmente convenceu. Mas neste novo, Boyle consegue fazer o papel obrigatório de qualquer filme: torná-lo crível.
Nota 8.0
Não esperava que fosse tão bom. Me surpreendi demais com este filme. Muito bom!
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