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sábado, 19 de março de 2011

127 Horas (2010)

Todos nós sabemos que o Cinema é a arte mais abrangente dos dias atuais. E essa arte vive de boas histórias. Criadas do imaginário intelecto humano, parecem que estão cada vez mais cansadas e recicladas, tanto que sempre achamos “filmes antigos melhores que filmes atuais”. Isso é um equívoco? Talvez. Então, do que falar? O que apresentar? O que mostrar para o mundo? Que tal ele próprio? Sim, que tal esquecermos o imaginário por um momento e olharmos em nossa volta? Poderemos assim encontrar uma história bastante ousada e interessante, mas acima de tudo, real. Os acontecimentos históricos do nosso planetinha azul são temas de filmes há tempos. De guerras, conflitos, batalhas, à simples acontecimentos, como um acidente. Podem ter certeza de que o acidente na mina do Chile virará um filme, por exemplo, e nas mãos certas, um ótimo filme. Baseado nisso, Danny Boyle, o diretor ganhador do Oscar pelo aclamado 8 e 80 Quem Quer Ser um Milionário?, usou a história de Aron Ralston, um aventureiro e amante de escaladas e similares que ficou cerca de cinco dias preso a uma pedra, enquanto filmava seu desespero, degringolando então à atos desesperados.


Isso mesmo, esse é o roteiro de 127 Horas. Eu acabo de contá-lo por inteiro. Mas, só isso? Sim. Boyle com toda certeza viu que a história em si era infilmável. Como poderia fazer um filmedescente, passando por 127 horas, sem que se torne um marasmo completo? Seu maior desafio era que nossa impressão fosse qualquer uma, menos de que o filme possuísse realmente 127 horas, como tantos por ai aparentam. Então Boyle decidiu moldá-lo de uma forma diferente – ousada.



Para entendermos melhor a lógica de Boyle, aqui vai um exemplo: Lady Gaga, fenômeno pop dos dias atuais, consegue vender suas músicas como água no deserto utilizando um recurso velho, porém indispensável: o vídeo-clipe. Enquanto artistas “normais” fazem seus clipes “normais”, ela cria um curta-metragem para desenvolver e envolver o espectador – há clipe com mais de nove minutos. Como isso, ela faz um show musical e visual. O que Boyle fez? Ele pegou o modo de se fazer um vídeo-clipe e transformou-o em longa-metragem. 127 Horas abusa de artifícios visuais para conseguir quebrar o ritmo lentíssimo da história e envolver. Sim, houve certos exageros, mas se fosse um filme seco, seria insuportável.

James Franco (nosso querido melhor-amigo Harry Osborn da trilogia Homem-Aranha) concorreu ao Oscar deMelhor Ator por sua interpretação como nosso protagonista. Qual foi o real papel dele? Carregar sozinho os 97 minutos nas costas. Quase inteiramente um monólogo, Franco se desdobra para transparecer verossímil, e faz jus à indicação ao Oscar. Bem, existem filmes ainda mais ousados no sentido de “um personagem carrega o filme”, como o recenteEnterrado Vivo, mas, perdoem-me, Franco tem muito mais carisma que o artificial Ryan Reynolds. Para dar ainda mais intensidade e realidade ao filme, Boyle e Franco, apenas, foram permitidos por Aron a verem a fita das 127 horas, que está trancada num cofre de segurança, a título de curiosidade. Todas as cenas do filme, com exceção da cena em que Aron e duas meninas pulam no lago escondido na caverna, foram, nas palavras do próprio Aron, “tão factualmente verdadeiro que é o mais próximo que se pode chegar de um documentário real”. O local onde foram feitas as filmagens fora o exato lugar do acidente real e a câmera do protagonista é mesma que Aron usou no acidente.



Quais os meios utilizados por Boyle para agilizar o filme? Primeiramente uma ótima trilha-sonora, que deixou o filme lúdico e arrebatador. Jogos de câmera inusitados, como as de dentro da garrafa d’água ou da mochila, dando ângulos que pareciam impossíveis, e aumentaram nossa “mobilidade” naquele mais que restrito cenário. Telas duplas e triplas, muitas vezes mostrando os pensamentos de Aron fora do desespero. Cortes abruptos e dinâmicos, com sequências inusitadas e até toscas – como a do Gatorade e várias cenas com bebidas – que acabaram ficando hilárias.

Por fim, o saldo de 127 Horas foi positivo, apesar dos exageros. Pecou também quando mostra o lado amoroso do protagonista, soando quase gratuito. E isso não é de hoje: em Quem Quer Ser um Milionário?, a face amorosa é terrível, e o romance dificilmente convenceu. Mas neste novo, Boyle consegue fazer o papel obrigatório de qualquer filme: torná-lo crível.

Nota 8.0


Um comentário:

  1. Não esperava que fosse tão bom. Me surpreendi demais com este filme. Muito bom!
    cinegrafia.blogspot.com

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