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sábado, 19 de março de 2011

Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008)

"Why so serious?" Clássico!


Sombrio, soberbo, surpreendente, real. Na extrema dificuldade de iniciar a crítica de um dos melhores filmes policiais de todos os tempos, o melhor foi começar com esses adjetivos. “O Cavaleiro das Trevas”, além de ser um avanço exponencial se comparado a “Batman Begins”, supera a classificação de “filme de super-herói” para se tornar uma brilhante ação policial; um “thriller” que envolve o espectador até o último milímetro da película.

A premissa é aparentemente simples: apavorados com as ações do Homem-Morcego, os mafiosos de Gotham City vêem-se forçados a contratar o psicótico Coringa, que inicia uma verdadeira guerra civil contra a força policial e legislativa de Gotham. A missão de Batman, Comissário Gordon e do “incorruptível” promotor Harvey Dent é deter o Coringa. Simples assim. Mas esse enredo revela um dos roteiros mais engenhosos já vistos em muitos anos: cada plano; cada esquema executado pelo maníaco Coringa revela-se um desafio incrível para os protagonistas do filme. Além disso, o filme consegue fazer com que o espectador “mergulhe” no submundo de Gotham, entendendo os seus crimes e suas artimanhas e, inclusive, compreendendo o porquê de eles estarem tão apavorados pela imagem do Batman. Mas “vamos por partes”.


O Bruce Wayne sofre neste filme. Mas sofre mesmo!

O filme da começa de maneira maestral: com uma mistura muito bem feita de imagens e sons, somos apresentados à primeira aparição do Coringa, que realiza um roubo magistral em u dos maiores bancos da cidade. Essa “combinação psicodélica” dos sons e das imagens já introduzem um suspense ao espectador, deixando-o atento ao que se passa. E esse é um dos vários trunfos do filme: trilha sonora e fotografia primordiais. A trilha, aliás, é feita por uma dupla de peso: Hans Zimmer e James Newton Howard. Ela é ora agitada e frenética, ora calam e melancólica e até mesmo ameaçadora e terrível (as cenas em que o Coringa realiza alguma brutalidade são acompanhadas por um som agudo e contínuo, que gera suspense e chega a impor medo no público). Quanto às imagens, só se pode dizer que tanto a fotografia quanto a iluminação quanto todo o resto são primordiais, um espetáculo para os olhos.

Sobre as atuações, impossível não começar mencionando a excepcional e tão comentada performance de Heath Ledger, na pele do arquiinimigo do “morcegão”, o Coringa. O ator é simplesmente primordial: psicótico e perturbado, Ledger atribui ao Coringa o verdadeiro “espírito psicopata de ser”, fazendo desse personagem, sem dúvida, o mais assustador e marcante de todo o filme. Para ter uma idéia do desempenho de Ledger, diz-se que o ator se trancou, durantes três meses, em um quarto de hotel para desenvolver o personagem, chegando até a escrever anotações com planos sinistros do criminoso psicopata. O resultado não poderia ser outro: o Coringa é simplesmente real demais! Não realiza truques mirabolantes, quase sobre-humanos, nem recorre à artimanhas complexas e difíceis de entender. Pelo contrário, ele é tão psicopata quanto humano, lançando ao público a aterradora idéia de que podem existir, no mundo, criminosos tão loucos e depravados quanto ele. E realmente existem.


O Batman leva o Coringa para dançar...

Ainda sobre os atores, atingem uma performance suprema Morgan Freeman (Lucius Fox) e Aaron Eckhard (Harvey Dent). Freeman continua trazendo um Lucius Fox tão brilhante quanto em “Batman Begins”: inteligente e dono de um humor irônico, Fox continua sendo um dos mais leais escudeiros de Bruce Wayne. Já Aaron Eckhar consegue um nível de atuação impressionante ao encarnar o incansável combatente do crime Harvey Dent, o “Cavaleiro Branco” de Gotham. Se Coringa é o personagem mais assustador, Dent é o mais cativante: o espectador simplesmente passa a amar seu jeito humilde e sua visão esperançosa do combate ao crime. E é por causa dessa afeição que o público sente toda a dor e a tristeza do personagem ao ver sua trágica transição à loucura; ao vilão Harvey Duas Faces.

As outras atuações foram, no mínimo, “adequadas”. Gary Oldman incorpora o Comissário Gordon de forma um tanto tímida, quase apagada do filme (talvez por culpa do personagem em si). Mesmo assim, sua presença é mais que satisfatória. Saiu-se razoavelmente bem a atriz Maggie Gyllenhaal, substituindo Katie Holmes no papel de Rachel Dawes, apesar de uma atuação um pouco superficial. Já Christian Bale consegue trazer um Batman muito bom. Infelizmente, na versão original do filme, o ator força muito a voz para apresentar um tom grosso e intimidador. Isso resultou em um efeito um tanto estranho, quase que ridículo.


Coitado do Harvey Dent...

Mas, apesar de tantas atuações primorosas e da qualidade técnica impecável, “O Cavaleiro das Trevas” guarda seu ponto máximo na realidade do enredo. Não só nos personagens, como citei a respeito do Coringa, mas nos eventos em si. Por exemplo: Gotham City não é mais uma representação caricata e cômica do crime como visto nas versões de Tim Burtom e de Joel Schumacher. Não, Gotham agora é sombria, intimidadora e, acima de tudo, dividida entre o glamour de uma metrópole e o terror de um centro do crime. Na realidade brasileira, podemos citar São Paulo e Rio de Janeiro como as “Gotham City’s” do país. Somos apresentados, também, à uma população amedrontada pela corrupção, desesperada para sair do caos. Isso tudo não é mero entretenimento: é uma reflexão sobre a triste realidade do mundo. 

E, com tudo isso, o filme adquire sua essência: sombrio, introspectivo, assustador, tanto o filme quanto o próprio Batman, que é, simplesmente, o homem-morcego que todos os fãs estavam. Não é um super-herói repleto de poderes especiais, mas um humano como todos nós, tão perturbado quanto a população de Gotham. O público consegue entender sua luta e seu desespero ante à ascensão do Coringa no crime, sendo que o personagem deposita todas as suas esperanças em Harvey Dent. Daí, o próprio Batman conclui, em um emocionante monólogo final, que Harvey é “o verdadeiro herói que Gotham precisa”.


Se eu te contasse onde o Batman arranjou esta moto, você não acreditaria.

Fica parecendo que, depois de tantas considerações elogiosas ao filme, o “Cavaleiro das Trevas” é um filme simplesmente perfeito. Infelizmente, ele não alcançou a perfeição, propriamente dita, devido à uma série de pequenos erros. Primeiro, as seqüências de luta eram difíceis de entender devido ao aspecto sombrio do filme, que deixava-as complicadas para acompanhar. O filme também apresenta um ritmo um tanto frenético: muitos cortes bruscos eram feitos de cena em cena, o que interrompia o raciocínio do público. Outro detalhe são algumas falhas lógicas, impossíveis de não notar. Exemplo: a cena do assalto ao banco, no início do filme, apresenta um desfecho um tanto mentiroso. Como um ônibus escolar atravessou a parede de concreto do banco sem chamar a atenção de quem estava na rua? Mas essas ressalvas, dependendo do espectador, ou passarão completamente despercebidas ante à grandiosidade do filme ou, no máximo, causarão uma sensação de estranheza, nada mais.

Por fim, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” é mais do que uma “adaptação bem-feita dos quadrinhos”. É uma reflexão sobre a sociedade e um retrato fiel do crime e da loucura humanas. É uma obra suprema do cinema, que deverá ser lembrada por anos a fio. Um filme tão bom que, na extrema dificuldade de concluir essa crítica, somente os adjetivos: sombrio, soberbo, surpreendente, real.



Pose para a foto.
NOTA: 9,0


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