Todos categorizamos as nossas experiências em duas esferas – pública e privada -, que se mesclam quando atitudes individuais terminam influenciando, de alguma forma, a sociedade. No entanto, quando adquirimos certo status advindo de qualquer fonte, passamos a ser “pessoas públicas” e as linhas que segregam estas duas esferas começam a ficar cada vez mais tênues.
Quando a meia-irmã de Maria I, rainha da Inglaterra do século XVI, Elizabeth, tinha sua vida de súdita da monarquia, conseguia tomar atitudes sem ser cobrada a respeito de suas conseqüências ou julgada por um conselho ou pelo povo. No entanto, ao ascender ao trono, após a morte da meia-irmã, Elizabeth enfrenta o desafio de reerguer uma nação endividada, sem poderia bélico, cuja única alternativa de salvação seria uma aliança com outra nação, através de um matrimônio arranjado. Esta opção, entretanto, não faz parte das intenções da jovem, que, apaixonada por Lord Robert Dudley, não deseja desposar com nenhum dos pretendentes que lhe são oferecidos, como o espalhafatoso Duc d'Anjou, cujos segredos descobrimos numa cena constrangedora e cômica, realçada pelo talento de Vincent Cassel. Elizabeth compreende que seu amor por Robert jamais encontrará a luz do dia, mas seu principal desafio está na compreensão dos limites entre sua vida pública e privada, quando as observações da vida alheia terminam por transformá-la em uma entidade única.
Elizabeth (Elizabeth, 1998) mostra uma mulher que toma para si a responsabilidade de ser uma com sua nação, necessitando abrir mão de seus desejos particulares em favor de um bem coletivo, fazendo com que o público não veja somente a diluição de uma figura passional e emotiva, mas também o fortalecimento de sua ousadia e determinação. Essa transformação torna-se algo bem presente em suas expressões e movimentos, como bem mostra Kapur na utilização dos movimentos de dança que auxiliam na demonstração dos sentimentos pelos quais a rainha atravessa ao longo de sua jornada: de menina espevitada e desprendida a mulher madura e ciente de suas responsabilidades.
No elenco, Blanchett domina completamente a cena ao construir uma rainha extremamente humana e inebriante, assim como a sisudez e o mistério de Geoffrey Rush encaixam perfeitamente na persona do conselheiro Sir Francis Walsingham. Infelizmente, Joseph Fiennes termina ofuscado diante da grandeza de sua companheira de cena, o que, de modo algum, desmerece seu esforço em tentar alcançar a beleza do trabalho de Blanchett e Kapur na composição de uma personagem única. Assim como o elenco, a direção de Kapur oferece um frescor para um roteiro que passa longe do didatismo ao equilibrar os jogos de densidade e força do enredo, assim como consegue realizar um estudo minucioso de personagem. Ele se mostra um artista completo ao realizar belos enquadramentos e construir uma composição cromática que metaforiza as relações de seus personagens entre si e diante do mundo.
Mesmo precisando realizar escolhas individuais que interferem na recepção de uma obra para um público, Kapur se permite relaxar e deixar que a criação venha com leveza, realizando um longa que, se não emociona, consegue nos fazer refletir com o coração sobre os limiares que desejamos atravessar diante dessas duas esferas.
Nota: 9,0
Tenho este filme em casa para assistir há algum tempo e sempre deixo para depois.
ResponderExcluirPreciso conferir,
Até mais
Também tenho aqui, hehehe. Pretendo ver o quanto antes, Cate Blanchett é uma das atrizes mais competentes da atualidade.
ResponderExcluiraffff esse filme e de Porno
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