Encontre seu filme!

domingo, 27 de março de 2011

Fim dos Tempos (2008)



Se há uma coisa que as artes fornecem para seu artista é a liberdade de expressão, onde não há horizontes ou lógica natural que meça o que ele pode criar a partir daquilo. Quando a inspiração chegar, ele simplesmente moldará sua arte. Na categoria das artes cinematográficas ocorre o mesmo, o artista (neste caso, o cineasta) busca através de sua imaginação uma idéia sólida que será lapidada e modelada até que esteja pronta para ser, por fim, filmada e levada às telas. Como já supracitado, se não há barreiras entre a imaginação e o projeto artístico, então por que as pessoas costumam procurar uma lógica concreta em tudo que observam?

Fim dos Tempos, do cineasta M. Night Shyamalan é o exemplo nítido disso, onde a maioria dos detratores tenta enxergar a obra de um ponto de vista mais estratégico, que simplesmente cinematográfico. É possível “fugir” do vento? Cientificamente não, é óbvio, mas e se um diretor modelar em seu projeto uma realidade na qual isso não é impossível? Isso é o que acontece com Fim dos Tempos, que mesmo que não sendo um trabalho plenamente louvável de seu cineasta, é um entretenimento válido em seus 91 minutos de projeção.

É nítida que Shyamalan afundou sua qualidade a partir da realização de seu projeto mais pessoal, A Dama na Água, então os posteriores a esse são o resultado da falta de alcance encontrada em seus últimos textos, mas esse não é o único motivo pelo qual a crítica e os detratores massacram o trabalho do cineasta. Não. Este conflito deu-se início desde a realização de Sinais, em 2002, onde o diretor realizou uma obra dotada de simbolismos e metáforas visuais, que não foi tão bem aceito quanto era suposto, e então, a partir desse filme, foi construída uma posição de ataque para com os filmes subseqüentes de Shyamalan. A Vila divergiu opiniões por onde passou. A Dama na Água fracassou em números de bilheteria e foi recebido com inúmeras opiniões negativas a seu respeito. E Fim dos Tempos, teve o mesmo, trágico, desfecho...

Shyamalan propõe uma idéia maluca, porém, interessante para com o enredo de Fim dos Tempos, onde na América passa a ocorrer uma catástrofe ambiental de alta escala, porém, o motivo desta é totalmente desconhecido. A mídia, portanto, sugere que este seja um ataque químico, por destruir um dos instintos mais primitivos do ser humano: a sobrevivência. Então, o professor Elliot Moore foge com sua mulher e a filha de um amigo para manterem-se protegidos desta ameaça invisível.


Claramente, é um filme que não precisa prezar pela lógica para apresentar suas cenas macabras. Shyamalan transforma esta idéia absurda em um veículo para apresentar ao público, cenas intensas e horripilantes, que fazer vale-lo como o filme mais sangrento feito pelo diretor até então. Os momentos iniciais - respectivamente, a onda de suicídios em massa - são dotados do bom horror subjetivo (por que isso está acontecendo?) o qual o diretor preencheu em toda sua filmografia, e convenhamos, sabe fazer muito bem. Em prismas visuais, é definitivamente um filme perturbador, pois não há como não se pasmar como o estímulo a insanidade aparentemente despropositada, é quando o cineasta apresenta o público à densidade a qual sua película se encontra, mostrando cenas de alto grau de violência, passando desde uma velha senhora que atira seu rosto contra os vidros de uma janela, até uma moça que penetra seu pescoço com um prendedor de cabelos.

Méritos estes a parte, as falhas de Fim dos Tempos fincam-se em seu elenco e narrativa. Neste primeiro item temos a atuação sempre frágil de Mark Wahlberg, que faz de seu personagem um mero brinquedo de roteiro para as ações da trama, e que em momento algum, se equipa a profundidade dos protagonistas anteriores que o diretor já havia criado. Zooey Deschanel é outra que jamais compensa em toda a trama, até porque sua personagem soa vazia e deveras unidimensional, bem como a atriz mirim Ashlyn Sanchez que jamais consegue repassar sequer um lampejo de carisma, fazendo contraponto com o talentoso Haley Joel Osment no longínquo 1999 – em questão de elenco infantil nas obras do diretor, essa comparação é inevitável.

Mas essa falha não se atribui apenas ao elenco escalado. Absolutamente. O roteiro de M. Night Shyamalan é igualmente frágil, e mesmo que fosse um elenco primoroso, não faria algo de muito maior aqui, pois a profundidade e a dimensão destes personagens estão muito aquém do que o diretor conseguiu imprimir um dia. No segundo item, respectivamente a narrativa, temos algo não muito corriqueiro nos trabalhos do cineasta, pois ele é conhecido também pela maneira de guiar suas obras lentamente, em um ritmo delicado e mais apto a um melhor desenvolvimento de trama e personagens; já em Fim dos Tempos ocorre o oposto, o ritmo é apressado e alguns fatos são atropelados por entre os outros, tornando sua narrativa agitada e até bagunçada em certos momentos.

Analisando do ponto de vista cinematográfico, Fim dos Tempos ainda tinha muito no que melhorar e lapidar, nesse quesito trata-se de um produto ainda bruto que foi feito as pressas para apresentar ao mundo um Shyamalan sobre outro ponto de vista, sobre um filme de horror absurdo, pesado e violento. Mas, embora esta tática não tenha funcionado como devidamente deveria, se o filme for visto de um ângulo mais descompromissado, torna-se uma diversão “agradável” e até prazerosa de se conferir em uma sessão. Então, Fim dos Tempos é isso. Um filme para não se levar tão a sério, pois o que temos aqui não é um exemplar de primor artístico; mas ainda sim, diferente de muitos filmes de horror contemporâneo, consegue proporcionar uma sádica diversão em todo o seu percurso de projeção.

Nota: 5.5


4 comentários:

  1. Comecei a ver esse filme e tinha até gostado da ideia inicial, mas não gostei do desenvolvimento e do elenco, como você bem falou. Mas se comparado ao que Shyamalan anda fazendo, Fim Dos Tempos vira um bom filme, fácil, fácil.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Esse filme foi uma tremenda decepção, sem dúvidas. =(

    ResponderExcluir
  3. Eu não o acho uma decepção, o acho mal compreendido. Eu gosto!

    http://icenema12.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. É bem mais inferior ao que Shyamalan pode oferecer, e saibam que digo isso como pleno admirador do cineasta. (:

    ResponderExcluir