O Cinema Português (por Paulo, o português)
Quando me colocaram o desafio de escrever um artigo sobre o cinema de Portugal, até me assustei! Eu, que além de não gostar do mesmo, vi apenas três filmes portugueses, sem contar com os de uma vaga que será referida mais abaixo. Felizmente, disseram-me que não era preciso ser um artigo muito sério. Ainda bem, porque não pretendia fazer grande investigação em torno deste assunto. Primeiro, porque isso não é coisa que se faça nas férias. Segundo, porque não adiantaria cansar-me muito para escrever um artigo sobre uma coisa que nem sequer existe. Hehe! De qualquer maneira….passo a apresentar-vos o cinema português!
Poster de "A Canção de Lisboa"
À semelhança de muitas outras, o cinema foi uma novidade que demorou a chegar a Portugal. Um dos primeiros sinais de vida do cinema português deu-se em 1931, com o filme “A Severa”. Um filme falado em português e feito por portugueses, mas produzido em França, que conta a história da mítica fadista Severa (para os curiosos: a “mítica” Severa existiu de verdade! Nasceu em 1820, com o nome Maria Severa Onofrina, filha de uma taberneira conhecida como “A Barbuda”). Mas o filme ainda hoje lembrado como o primeiro filme português totalmente feito em Portugal é “A Canção de Lisboa”. Este filme de 1932 esteve incluído em algo que pode não ter sido Nouvelle, mas foi certamente uma Vague! Uma vague de filmes portugueses muito parecidos uns com os outros: filmados a preto-e-branco, diálogos repletos de piadas, muitas cenas musicais e confusões! Lembram muito os filmes dos irmãos Marx. Estes filmes imortalizaram actores como Vasco Santana, Beatriz Costa e António Silva que, acreditem, são tão lembrados em Portugal como o são, nos EUA, Humphrey Bogart, Katharine Hepburn e Clark Gable! Todo o português que se preze conhece “A Canção de Lisboa”, “O Leão da Estrela”, “A Aldeia da Roupa Branca”, etc. Pessoalmente, o primeiro é um dos meus filmes lusitanos favoritos.
Cena antológica do cinema português: tentando dar uma de médico, Vasco Leitão ausculta...um elefante!
Por volta dos anos 40, este género de filmes atingiu a glória e o cinema português começou a diferenciar-se, embora ainda produzisse muito pouco. Em termos de cinema, quase tudo o que se passou em Portugal desde o final da década de 40 até à década de 2000 é um mistério para mim. Quase nada sei sobre vagas, directores, actores específicos de 60 anos. Mas também não há assim tanto para saber, já que 1950 a 1962, houve algo a que se chamou “crise” no cinema português. A quantidade de filmes feita diminuiu imenso, muito graças à Lei de Protecção que, ironicamente, pretendia proteger o cinema português. Desapareceram até os filmes à lá Marx, muito prejudicados pela concorrência dos filmes estrangeiros, já que as pessoas preferiam o cinema americano (pois…e quem os pode censurar?). Mas sei que, durante estes 60 anos, surgiram alguns clássicos portugueses que não podem deixar de ser citados. Como “Aniki Bobó”, que para além de ser o primeiro longa dirigido por Manoel de Oliveira, é considerado por vários o melhor filme português de sempre, “Verdes Anos”, que imortalizou uma música do guitarrista Carlos Paredes, e “O Lugar do Morto”, um clássico português com um ligeiro sabor americano.
Foto de "Aniki Bobó"
Sobre este último, posso dizer que o vi. Um drama português com toques de thriller americano. É assim, o filme é razoável. A questão é que penso que o director tentou americanizar demais a sua obra, criando intrigas (algumas exageradas) para tentar criar tensão e suspense. Pena que pouco consegue. Ah, e isto nota-se também nos actores, que parecem criar personagens esquisitas e interpretam-nas de uma maneira muito estranha. Mas, vá lá, Ana Zannati ainda se conseguiu sair bem com isso. Mas o destaque das actuações, talvez até do filme, é uma actriz coadjuvante. Uma simples actriz que faz de secretária e que deixa o “americanismo” de lado e representa com tal naturalidade, fluindo tão bem as palavras que impressiona! Rouba as cenas em que aparece.
Poster de "O Lugar do Morto"
Do ano 2000 para a frente (essa época, sim, eu presenciei com os meus olhos e ouvidos), o cinema português é muito igual a si mesmo: com pouquíssima projecção internacional e muito mais pretensão que qualidade. É praticamente só dramas, um número revoltantemente pequeno de comédias, terrores, acção e tudo mais. E muitos deles têm nudez desnecessária e um ou dois lesbianismo exagerado. Todavia, a tendência é para melhorar. Cada vez se fazem mais filmes portugueses por ano e cada vez mais estes partem de boas ideias. Foi assim que surgiram, por exemplo, “Suicídio Encomendado” e “O Cônsul de Bordéus”, filme que retrata a vida do grande Aristides de Sousa Mendes, o Schindler português. Mais: o filme português “Aquele Querido Mês de Agosto” foi bastante premiado em festivais de cinema internacionais e o director português Pedro Costa, que terminou recentemente o seu filme dirigido e escrito por ele (Ne Change Rien), já recebeu vários prémios e muitos elogios pelo seu trabalho. E, de vez em quando, os portugueses têm verdadeiros rasgos de genialidade! Prova disso é o curta “A Suspeita”, o meu filme português favorito! Mesmo assim, ainda é muito difícil levar o cinema português a sério.
Uma pequena ideia sobre o que trata "Suicídio Encomendado"...
Desta década, vi “Dot.com” e “Amália – O Filme”. “Dot.com” assume-se como “uma comédia dot cómica!”, mas aviso-vos: é demasiado sério para ser uma comédia (em parte devido às várias cenas religiosas). Tem pouquíssimas piadas. É um filme simpático mas comunzinho e pouco ousado. “Amália – O Filme”…bem…eu suponho que, se não fosse português, teria detestado. Mas a verdade é que ainda gostei da primeira hora; achei boa. Já na segunda hora, torna-se muito aborrecido e um pouco redundante. Ainda vale a pena, também por causa da presença na tela da excelente cantora-mirim Beatriz Costa (não…não é a mesma!) e de André Maia, o mestre da dublagem portuguesa.
A excelente cantora-mirim Beatriz Costa
Hum…eu disse “mestre”? Sim, disse. Não me enganei. Porque, acreditem ou não, Portugal está cheio de grandes actores! Diria até que a qualidade destes é inversamente proporcional à qualidade do seu cinema! O meu actor português favorito é Joaquim Nicolau, mas existem muitos outros. Miguel Guilherme, Rogério Samora, Maria João Luís, José Raposo, Helena Laureano, etc. E estão sempre a aparecer novas promessas, como André Nunes e Mariana Monteiro. Se alguém quiser ver os actores portuguese no seu melhor, sugiro a série “Conta-me Como Foi” ou, se preferirem algo menos pesado, o hilariante “Aqui Não Há Quem Viva”. Aí, todo o elenco está numa extraordinária sintonia cómica. Aqui, vemos o grande Nicolau Breyner, como ele diz, “dar baile”, mas também ser ofuscado por Joaquim Nicolau. Aqui, a experiente Maria João Abreu também está muito bem, embora não seja necessário ir logo aos mais experientes para encontrar grandes performances; outros mais novos também as têm, como Marta Fernandes e Luís Gaspar. E mesmo que não gostem das actuações, eu vos asseguro: não vai passar um episódio que seja sem soltarem uma boa gargalhada!
A primeira parte do 1º episódio do engraçadíssimo "Aqui Não Há Quem Viva". Alguém tem coragem?
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